Economia

Governo quer cobrar Alagoas por prejuízo com distribuidora

Governo quer cobrar Alagoas por prejuízo com distribuidora Governo quer cobrar Alagoas por prejuízo com distribuidora Governo quer cobrar Alagoas por prejuízo com distribuidora Governo quer cobrar Alagoas por prejuízo com distribuidora

Enquanto o governo de Alagoas trava uma disputa no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar obter uma compensação da União pela venda da Ceal, distribuidora de energia da Eletrobras, a área econômica entende que a operação, na verdade, pode resultar em aumento da dívida do Estado com a União, segundo apurou o Estadão/Broadcast. A avaliação é que o governo federal acabou pagando muito mais ao Estado de Alagoas quando incorporou a distribuidora do que receberá com a privatização. O governo quer agora a compensação pelo prejuízo, segundo as regras do contrato.

A Ceal estava na lista de distribuidoras que seriam leiloadas no próximo dia 26 de julho, mas o ministro do STF Ricardo Lewandowski concedeu liminar às vésperas do recesso do Judiciário para retirar a companhia da disputa.

A distribuidora pertencia ao Estado de Alagoas até 1997, quando foi federalizada e incorporada pela Eletrobras em um acordo para renegociação de dívidas estaduais. Em troca, o governo alagoano recebeu um adiantamento da União de R$ 229,7 milhões (a preços da época), equivalentes à metade das ações da companhia. O restante seria acertado quando a privatização fosse concretizada.

A Ceal tem hoje patrimônio líquido negativo e o leilão prevê um valor mínimo simbólico de R$ 50 mil para que a companhia seja arrematada. A desvalorização da distribuidora, segundo fonte da área econômica, mostra que é o governo de Alagoas quem deveria ressarcir a União.

Logo após a federalização, em dezembro de 1998, a União chegou a tentar leiloar a Ceal cobrando um preço mínimo de R$ 346,5 milhões (a valores da época), mas não houve interessados, um indício de que a empresa estava sobrevalorizada.

Contrato. A própria lei que viabilizou as federalizações no fim dos anos 90 prevê que, caso o montante obtido com a privatização seja inferior ao valor atualizado do preço de aquisição da distribuidora pela União, a diferença seja bancada por Alagoas. O governo estadual poderia, nesse caso, refinanciar o débito nas mesmas condições da dívida que já tem com a União.

O contrato assinado entre Alagoas e o governo federal na época previu que o preço de aquisição seria atualizado pela TJLP (hoje TLP) mais um prêmio, uma correção fixada num contexto em que a taxa básica de juros, a Selic, era muito elevada. Hoje, porém, a TLP está em 6,6% (ao ano), acima da Selic (6,5% ao ano). A forma de correção resultou na valorização contábil do preço de aquisição da Ceal pela União muito acima do valor real da empresa hoje.

É com base nesse contrato que a área econômica avalia que a dívida de Alagoas subirá quando houver a privatização. O endividamento do Estado com a União hoje já está na casa dos R$ 6,7 bilhões e pode aumentar em “alguns bilhões”, dizem fontes da equipe econômica.

O Estado, por sua vez, acredita ter argumentos jurídicos para abater R$ 1,7 bilhão desse débito. “A gente é vítima nessa história”, diz o secretário estadual de Fazenda, George Santoro. Para ele, não é justo o Estado sair prejudicado depois de a distribuidora ter ficado 20 anos sob a gestão da União, sem investimentos e perdendo valor de mercado. O entendimento é que, depois de tanto tempo, ficou caracterizada a compra da Ceal pela União, o que geraria a obrigação do pagamento da segunda parcela (por meio de abatimento da dívida).

Na ação, o governo pediu a suspensão da privatização da Ceal para garantir que será ressarcido antes do leilão. No entanto, o Estado apresentou uma conta diferente, segundo a qual a empresa valeria, na época, R$ 457,2 milhões – valor superior ao preço mínimo do leilão que fracassou. Para o governo, considerando os descontos previstos em contrato, o Estado deveria ter recebido R$ 150,3 milhões, valor que, atualizado para março de 2018, chegaria ao R$ 1,7 bilhão pleiteado. Lewandowski acolheu os argumentos de Alagoas e deferiu a liminar, sob alegação de que ela era necessária para evitar um prejuízo irreparável ao Estado.

“O governador tem de brigar por isso. É um papel responsável fiscalmente e tecnicamente”, disse o secretário de Fazenda de Alagoas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.