
*Artigo escrito por Rovena Mariano Cabral, administradora, coordenadora do Comitê ESG da CESAN. Gestora da divisão de contratos e documentos da CESAN e líder do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG de 2025 do Ibef-ES.
Quando pensamos em Conselho de Administração, a imagem que normalmente nos vem à mente é a de executivos experientes, investidores estratégicos e conselheiros independentes, debatendo estratégias de longo prazo e resultados financeiros.
Leia também: Você confiaria suas decisões mais estratégicas a um único ponto de vista: o seu?
Mas há uma cadeira, ainda pouco ocupada e muitas vezes subestimada, que tem potencial para transformar a governança de uma empresa: a do representante dos empregados.
No Brasil, a previsão legal desse tipo de participação está na Lei das Estatais (Lei nº 13.303/2016). Que tornou obrigatória a eleição de um representante dos trabalhadores no Conselho de Administração de empresas públicas e sociedades de economia mista. Havendo exceção das instituições financeiras.
Essa exigência segue uma tendência internacional: países como Alemanha e França já têm modelos consolidados de codeterminação, nos quais empregados têm presença ativa nas instâncias de decisão estratégica.
Mas o que significa, na prática, ter um empregado no Conselho? Mais do que uma formalidade, essa representação traz uma perspectiva fundamental: a da operação, da rotina, da execução. Um olhar que conecta o alto comando à realidade do chão de fábrica, dos escritórios e das frentes de serviço.
O papel desse conselheiro é duplo e delicado. Ele deve, ao mesmo tempo, representar os interesses coletivos dos empregados e agir com responsabilidade fiduciária, zelando pelo melhor interesse da companhia como um todo. Trata-se de um cargo de governança, que exige preparo, formação adequada e, principalmente, visão estratégica.
Orientação de finanças
Não basta ter carisma ou liderança sindical: é preciso entender de finanças, riscos, compliance, sustentabilidade e os princípios que regem a administração pública ou a boa gestão empresarial.
Exemplo real desse desafio pode ser visto em empresas como a Petrobras. Lá, o representante dos empregados, eleito por votação direta entre os funcionários, tem participação ativa nas discussões do Conselho. Tratando de temas que vão desde o plano de negócios até a gestão de riscos socioambientais.
Essa cadeira já teve a ocupação por engenheiros e técnicos de carreira, com forte trajetória dentro da empresa. Demonstrando que conhecimento técnico e engajamento institucional são atributos fundamentais para o exercício da função.
A eleição direta é, por si só, um processo de governança que envolve transparência e legitimidade. Mas cabe também à empresa criar condições para que o representante eleito atue de forma qualificada. Isso significa oferecer formação em temas de governança corporativa, criar espaços de interlocução e garantir que essa voz não seja apenas simbólica.
O desafio maior é transformar essa participação em valor real para a gestão. Um conselheiro empregado bem-preparado pode antecipar riscos operacionais, trazer alertas sobre clima organizacional e ajudar o Conselho a tomar decisões mais alinhadas com a sustentabilidade do negócio.
Ter um representante dos empregados no Conselho não deve ser visto como concessão ou obrigação legal, mas como uma oportunidade estratégica de oxigenar as decisões com a perspectiva de quem vivencia a empresa por dentro.
Mais uma vez, a verdadeira inclusão, agora na governança, acontece quando a participação deixa de ser decorativa e passa a ser efetiva. Porque empresas que escutam suas bases, inovam melhor e gerenciam riscos com mais inteligência.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.