
*Artigo escrito por Eliomar Bufon Lube, advogado empresarial, especialista em operações de M&A e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do IBEF-ES.
As operações de fusões e aquisições (M&A) vêm se consolidando como importantes vetores de transformação estratégica nas empresas.
Mais recentemente, estudos têm demonstrado que essas transações também podem funcionar como catalisadoras para a melhoria da performance ESG. Tanto ambiental, como social e de governança das companhias envolvidas.
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Segundo pesquisa publicada na Technological Forecasting & Social Change, foi identificado que os indicadores ESG tendem a melhorar no ano subsequente à conclusão de uma operação de M&A.
Tudo, aliás, com base em dados de mais de 1.700 empresas de 41 países entre 2002 e 2020.
Esse efeito positivo ocorre de forma consistente nos três pilares (ambiental, social e governança), embora os resultados mais expressivos tenham sido registrados nas dimensões ambiental e social.
ESG
Na prática, empresas que adquirem outras com melhor desempenho ESG tendem a incorporar esses padrões mais elevados. Seja por absorção de práticas, seja por exigência de stakeholders e reguladores.
Isso se alinha com uma visão estratégica: ao adquirir negócios sustentáveis, a empresa-mãe pode acelerar sua própria transição rumo a modelos mais responsáveis.
Atendendo simultaneamente às pressões do mercado e à crescente regulação sobre disclosure socioambiental.
Um exemplo notável é o da aquisição da Whole Foods pela Amazon. Embora motivada por fatores de mercado, a operação contribuiu para que a gigante do e-commerce adotasse padrões mais exigentes em bem-estar animal, fornecimento ético e transparência – aspectos historicamente fortes na cultura da Whole Foods.
Além disso, outro caso emblemático é o da Danone, que adquiriu empresas com forte compromisso socioambiental.
Como a WhiteWave, com o objetivo declarado de expandir sua presença no mercado de produtos orgânicos e sustentáveis. Essas aquisições ajudaram a consolidar a reputação da Danone como uma empresa voltada para o desenvolvimento sustentável.
Efeitos positivos
Os efeitos positivos não são apenas reputacionais. M&As com foco em ESG também tendem a apresentar menor risco de assimetria de informações e melhores retornos no longo prazo. Como sugerem estudos que vinculam o engajamento socioambiental à estabilidade financeira e à valorização de mercado das empresas adquirentes.
Para os gestores, o recado é claro: o ESG pode – e deve – ser uma das lentes estratégicas ao avaliar potenciais aquisições.
A integração de práticas sustentáveis não só fortalece a posição da empresa frente aos investidores e consumidores, como também contribui para a geração de valor duradouro.
Em tempos de forte pressão regulatória, como com a nova Diretiva Europeia de Relato de Sustentabilidade, o M&A torna-se uma via legítima e eficaz para acelerar o cumprimento de metas ESG.
Por fim, mais do que uma obrigação, esse movimento pode se revelar uma poderosa vantagem competitiva.