*Artigo escrito por Gil Andriani, CEO da IaCrypto e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Inovação e Tecnologia do Ibef-ES.
Muito se fala em transformação digital, mas pouco se questiona o real significado do termo. Digitalizar um processo ineficiente não o torna eficaz.
Apenas transfere o problema para um novo ambiente, agora com aparência moderna. A verdadeira transformação, aquela capaz de elevar a competitividade empresarial, não começa com tecnologia, mas com cultura.
Empresas que operam com estruturas tradicionais e lideranças avessas ao risco enfrentam barreiras invisíveis, porém poderosas. Essas barreiras não estão na falta de recursos ou de ferramentas digitais, mas na resistência a romper com modelos mentais enraizados.
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A experiência, por mais valiosa que seja, quando aliada a um pensamento conservador, pode impor um ritmo incompatível com a velocidade das mudanças exigidas pelo mundo atual.
Não há demérito nisso. Modelos tradicionais sustentaram grandes impérios empresariais e ainda exercem papel relevante na economia. No entanto, esse modelo está distante de uma transformação digital genuína.
Adotar ferramentas digitais sem questionar a lógica do processo ou o propósito do negócio é como trocar a carroceria de um carro sem revisar o motor: a estrutura muda, mas o desempenho continua limitado.
Transformação digital em empresas
A competitividade exige mais. Exige ambientes empresariais abertos à experimentação, à falha e à reinvenção constante.
Uma pesquisa da Harvard Business Review mostrou que 70% das iniciativas de transformação digital falham, sendo a resistência cultural o principal obstáculo.
A consultoria BCG complementa: empresas com forte cultura digital têm até cinco vezes mais chance de sucesso em projetos de transformação.
Não basta implementar tecnologia. É preciso mudar o modo de pensar. Transformação digital eficaz pressupõe mudança de comportamento, de linguagem e de atitude.
Envolve rever hierarquias, dar espaço a vozes diversas e integrar diferentes áreas da empresa em torno de um propósito comum. Só então a tecnologia poderá atuar como alavanca real de produtividade, inovação e impacto competitivo.
Ambiente empresarial
Governos, associações empresariais e entidades como o Sebrae têm um papel decisivo nesse processo. Não apenas como agentes de fomento à tecnologia, mas como catalisadores de uma nova mentalidade.
A criação de espaços seguros para experimentação, a formação de lideranças digitais e a implementação de programas de mentoria cultural são caminhos possíveis para transformar, de fato, o DNA empresarial.
Exemplos práticos reforçam esse ponto. A Microsoft passou por uma transformação significativa após Satya Nadella assumir a liderança em 2014. A troca no topo da hierarquia veio acompanhada de uma mudança profunda na cultura organizacional, com foco em aprendizado contínuo, colaboração e mentalidade de crescimento.
Como resultado, a empresa deixou de lado a rigidez do modelo anterior, reposicionou produtos, abraçou o open source e voltou a figurar entre as empresas mais inovadoras e valiosas do mundo.
É nesse ponto que a virada acontece. Nenhuma mudança será sustentável se não partir da liderança. Transformação digital exige exemplo, visão de futuro e coragem para romper com zonas de conforto. É do topo que nasce a cultura organizacional.
Trocar a hierarquia pode até sugerir novos rumos, mas só haverá verdadeira transformação quando os líderes se posicionarem como agentes ativos da mudança e irradiadores de uma nova cultura. A tecnologia, por si só, nunca será suficiente.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.