Economia

Inadimplência não justifica spread alto, afirma Fiesp

Inadimplência não justifica spread alto, afirma Fiesp Inadimplência não justifica spread alto, afirma Fiesp Inadimplência não justifica spread alto, afirma Fiesp Inadimplência não justifica spread alto, afirma Fiesp

Brasília – Depois da campanha contra a alta de tributos e a volta da CPMF, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) resolveu bater de frente contra o spread cobrado pelos bancos nas operações de empréstimos no Brasil – um dos mais altos do mundo. Levantamento preparado pelo Departamento de Competitividade da entidade contradiz a avaliação de que o spread – que é a diferença entre o custo de captação do banco e o que ele cobra de seus clientes nos empréstimos – é elevado principalmente por conta dos riscos da alta inadimplência no Brasil.

O estudo contesta dados do Banco Central (BC), que apontam a inadimplência como a responsável pela maior parte da composição da taxa de spread. Pelos números mais recentes do BC, ela corresponde por 55,7% do spread. Para a entidade, a inadimplência não é capaz de justificar o diferencial entre o spread brasileiro e de outros países. Segundo a Fiesp, enquanto o aumento do spread do crédito livre no Brasil, entre 2011 e 2016, foi de 52%, a inadimplência subiu 30,2%.

O trabalho também questiona o peso dado pelo BC a todos os demais itens que compõem o spread: margem de lucro dos bancos, custos administrativos, recolhimento de compulsório e impostos diretos.

Para o vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, o Brasil tem os juros de empréstimos mais altos do mundo há mais de 60 anos e é preciso dar respostas ao problema do spread. “O custo de capital tem impacto muito grande nos investimentos e também na renda das pessoas. Isso afeta o consumo e a produção”, diz.

Segundo ele, a inadimplência brasileira em 2015 foi apenas 3,4 vezes maior que nos demais países, enquanto o spread foi 19,7 vezes superior. “A inadimplência não explica essa diferença”, critica. Pelos dados da Fiesp, a Itália possui a inadimplência três vezes maior que o Brasil e spread oito vezes menor.

Lucro

O levantamento também avalia o peso do lucro dos bancos no spread. Na avaliação da Fiesp, não é possível medir a variação da margem líquida do setor bancário, mas, apesar da crise brasileira, o retorno líquido do setor financeiro foi o único a aumentar entre 2011 e 2015. Segundo o BC, o lucro dos bancos é de 23,3% do spread.

A “guerra” travada pela Fiesp contra os bancos ocorre justamente no momento em que o presidente do BC, Ilan Goldfajn, lançou uma agenda de medidas para diminuir o spread e apresentou a composição dos componentes da taxa. Entre as medidas, o BC anunciou que vai revisar o chamado crédito direcionado, que é dado por meio da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Ela corrige os financiamentos de investimentos concedidos, principalmente, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A TJLP é mais baixa do que a Selic e é considerada subsidiada.

O BC vai anunciar uma revisão do crédito direcionado e da fórmula de cálculo da TJLP, que passará a ser atrelada à taxas de mercado. Na avaliação da instituição, o direcionamento de crédito representa uma parcela importante do custo atual do crédito livre. Desse forma, uma maior parcela de crédito livre permitirá uma maior potência da política monetária.

Procurada, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirmou que não iria comentar o estudo da Fiesp, pois não o conhecia na sua integralidade e tampouco seu rigor técnico. A entidade ponderou que a avaliação de que spread medido no Brasil subiu 52% entre 2011 e 2016 não é confirmado pelos dados divulgados pelo BC.

Segundo o BC, o principal componente que explica o crescimento do spread entre 2011 e 2016 do segmento crédito livre foi o aumento da inadimplência. O spread subiu 8,15 pontos porcentuais entre 2011 e 2016 (de 27,04 pontos porcentuais para 35,19 pontos porcentuais), sendo que a participação da inadimplência aumentou 8,10 pontos porcentuais. “Isto é, 99% do aumento do spread”, diz o BC, em nota. No período, a margem líquida do estoque de crédito se reduziu devido ao aumento da inadimplência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.