Economia

Ministério Público cobra junto ao TCU decisão técnica para definir tecnologia 5G

Em um live realizada nesta quinta-feira (03), Bolsonaro afirmou que a decisão sobre os equipamentos que serão utilizados para prover o sinal 5G será dele

Ministério Público cobra junto ao TCU decisão técnica para definir tecnologia 5G Ministério Público cobra junto ao TCU decisão técnica para definir tecnologia 5G Ministério Público cobra junto ao TCU decisão técnica para definir tecnologia 5G Ministério Público cobra junto ao TCU decisão técnica para definir tecnologia 5G
Foto: Divulgação

O presidente Jair Bolsonaro terá que encontrar justificativas técnicas para decidir se a tecnologia 5G no Brasil não terá a participação da fornecedora de equipamentos e redes chinesa Huawei. Representação proposta ao Tribunal de Contas da União (TCU), de autoria do subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, quer que a corte de contas discuta os aspectos geopolíticos do tema para evitar que o País seja influenciado apenas pela proximidade entre Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“Isso porque, como se sabe, é notório o alinhamento automático do atual presidente brasileiro com o seu congênere norte-americano. Todavia, não se sabe até que ponto a atual guerra comercial travada entre EUA e China é uma questão de Estado ou reflete apenas uma posição protecionista de caráter pessoal do Presidente Trump, cuja reeleição este ano para a presidência dos Estados Unidos está claramente ameaçada, de acordo com as últimas pesquisas eleitorais naquele país”, diz Furtado, no documento.

Na representação, o subprocurador-geral sustenta que qualquer decisão sobre o assunto precisa ter “critérios técnicos e concorrenciais claros”, para evitar “incertezas e inseguranças jurídicas que podem prejudicar a finalidade precípua da licitação e o seu objetivo último, que é a prestação de adequado serviço à população”.

“Necessário, portanto, que o TCU esteja atento a que a eventual decisão de se excluir a empresa chinesa não se atenha a questões meramente ideológicas ou de alinhamento automático aos interesses norte-americanos (ou interesses do próprio presidente Trump)”, afirma Furtado.

Para ele, o TCU precisa levantar discussões sobre diversos aspectos que envolvem o 5G, como segurança nacional, desenvolvimento tecnológico, transferência de tecnologia, segurança de dados e intimidade da vida privada dos consumidores.

O subprocurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União ressalta que qualquer decisão sobre o 5G deve ser tomada de acordo com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade e da publicidade,levando em conta critérios técnicos e concorrenciais rigorosos, de forma a evitar incerteza e insegurança jurídica.

Na quinta-feira (03), em transmissão semanal nas redes sociais, Bolsonaro disse que a decisão sobre os equipamentos que serão utilizados para prover o sinal 5G no País será dele. “Vou deixar bem claro, quem vai decidir 5G sou eu. Não é terceiro, ninguém dando palpite por aí, não. Eu vou decidir o 5G”, disse.

O presidente afirmou que vai ouvir integrantes do governo, entre eles o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, o chefe de Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, e o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Rolando Alexandre de Souza, e até integrantes do governo americano sobre o tema.

“E com mais inteligência do Brasil, com gente mais experiente. Converso com o governo americano. Converso com várias entidades, países, o que temos de prós e contras”, declarou Bolsonaro.

O edital do 5G está sob análise da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e o leilão está previsto para 2021. A disputa será entre as empresas de telefonia do País, como Claro, Vivo, TIM, Oi e Algar Telecom, mas pequenos provedores também poderão disputar lotes regionais da frequência de 3,5 GHz. Nenhuma tele chinesa opera no País atualmente.

O leilão não vai selecionar os fornecedores das redes e equipamentos, pois essa decisão cabe às próprias teles. Apesar disso, o governo pode decidir banir uma empresa por decreto presidencial ou impor limitações à sua presença nas redes brasileiras.

O 5G é palco de disputa mundial entre Estados Unidos e China. A Huawei, que lidera a corrida pelo domínio da tecnologia, tem sido alvo de ataque de autoridades norte-americanas, que acusam a empresa de fazer espionagem para o governo chinês, o que ela nega.

A Huawei já atua no Brasil há mais de 20 anos. A estimativa no setor é que entre 40% e 50% das redes instaladas no País contem com tecnologia da empresa nas redes 2G, 3G e 4G. Substituir esses equipamentos poderia gerar custos adicionais para as empresas, com impactos possivelmente repassados aos consumidores. Ao lado da Huawei, as principais fornecedoras são a finlandesa Nokia e a sueca Ericsson.