O que o mundo empresarial de alta performance tem a ver com os picos mais altos em cada um dos continentes? Para o empresário capixaba Juarez Gustavo Soares, a conquista tem tudo a ver com resiliência, gestão de riscos e superação. E tudo isso é essencial no mundo dos negócios.
A experiência de montanhismo é transformadora e que ninguém volta a mesma pessoa. Nesse sentido, Juarez transformou essa vivência no livro Os Dois Everestes: vida, morte e o ue realmente importa.
O empresário do setor imobiliário e consultor de liderança aponta caminhos para quem precisa lidar com o dia a dia empresarial. Além disso, desenvolve iniciativas voltadas à formação de lideranças, mostrando como os desafios das montanhas podem inspirar decisões no mundo corporativo e pessoal.
Antes de chegar ao cume do Everest, Juarez acumulou experiências no Kilimanjaro (África), Aconcágua (América do Sul), Elbrus (Europa), Vinson (Antártica) e Carstensz (Oceania), consolidando sua preparação física e mental para o maior desafio.
O empresário capixaba conversou com o Folha Vitória sobre o livro que lança na capital capixaba neste sábado, 13.
Veja abaixo a entrevista:
Você relaciona a montanha à vida. Qual foi o maior desafio pessoal que compararia a escalar o Everest?
O livro se chama Os Dois Everestes. A sua primeira parte, que eu chamo de O Primeiro Everest trata dos caminhos que me levaram ao Everest físico, à montanha, sobretudo as minhas inquietações e busca por respostas.
Já a segunda parte, O Segundo Everest, é o relato de um evento bem íntimo, a morte simultânea dos meus pais na pandemia e meu processo de aceitação.
O primeiro foi uma escolha. O segundo, não. Foi uma imposição da vida.
Vida, morte e o que realmente importa. Para você, qual foi o maior aprendizado nesse processo?
Certamente a compreensão da finitude. Refletir sobre o nosso destino inexorável abre uma nova perspectiva sobre prioridades.
Quando lembramos que nosso tempo é limitado, passamos a escolher com mais clareza, agir com mais coragem e nos relacionar com mais compaixão.
Paradoxalmente, ao aprendermos a morrer estamos aprendendo a viver. Com mais consciência e, por que não, com mais paixão.
Em algum momento você se viu revivendo situações-limite? Como lidou com isso?
Situações-limite, na montanha ou na vida estão relacionadas ao perigo. Assim, estamos falando de risco e como mitigá-los. Não devemos reagir no calor do momento e, sim, preparar a mente e o coração antes.
Decisões críticas, quando não podemos confiar na nossa capacidade de fazer bons julgamentos, precisam ser tomadas previamente, com critérios claros de segurança e ética.
Na prática, isso significa submeter o resultado almejado àquilo que consideramos inegociável para nós.
Como esses aprendizados podem ajudar nas escolhas do dia a dia de empresas?
Tomar decisões é a mais importante tarefa de quem empreende e lidera. A mãe de todas as decisões em alta montanha é decidir quando avançar, quando esperar ou quando, simplesmente, desistir.
No ambiente corporativo, também há decisões assim: encerrar um projeto, reorientar uma estratégia, admitir que não há caminho viável.
E no dia a dia de profissionais que buscam “escalar” na carreira? O que se espera de uma pessoa que atingiu o cume do Everest? Que atributos esta pessoa possui?
Talvez pensemos em garra, determinação, força, estratégia. Estas mesmas habilidades recomendamos a quem está construindo sua carreira profissional. Sim, elas são legítimas e necessárias.
Mas eu desejo jogar luz a em outro aspecto. A montanha ensina que não somos invencíveis. A cada ano, homens e mulheres preparados, fortes e experientes não regressam do Everest.
O que os derruba não é apenas o frio ou a falta de oxigênio, mas a ilusão de que o corpo e a mente suportam tudo. Esse mesmo equívoco se repete no mundo dos negócios, quando profissionais acreditam que podem ignorar limites, os seus próprios, os de suas equipes ou os da sociedade.
Devemos assumir que não temos o controle absoluto. É tênue a linha que separa a determinação da insensatez. Equilibrar-se nela é o desafio.
A escalada exige preparo físico, mas também mental. Como você acha que devemos trabalhar a resiliência no dia a dia?
Cair, tropeçar, perder, fracassar nunca é fácil, mas faz parte da experiência humana. Quando isso ocorre, entretanto, há três caminhos que podemos seguir.
O primeiro é o do autoengano. Fingimos que nada aconteceu e seguimos dobrando a aposta e escondendo as nossas emoções. Este caminho nos faz seguir adiante mas, no extremo, pode nos levar a perder o controle sobre estas mesmas emoções.
O segundo é o caminho da vitimização: culpamos outras pessoas ou as circunstâncias e não avaliamos com sinceridade a nossa responsabilidade. Neste caso, permanecemos estacionados.
O terceiro caminho é, como disse Jung, o de atravessarmos o nosso lado sombra e reconhecermos certas verdades inconvenientes. Tratarmos nossa vulnerabilidade com uma dose de compaixão pode nos recompor e nos impulsionar a seguir em frente.
Qual foi o instante mais transformador da sua jornada no Everest que os leitores vão encontrar no livro? E como isso pode ser transportado para o nosso dia a dia?
Gosto de uma, em particular. Durante o período de preparação para o Everest, há inúmeros formulários a serem preenchidos. Dentre eles, o Body Disposal, onde você indica, através de um “x” o que você gostaria que fosse feito com o seu corpo, caso você morresse na montanha: deixá-lo respeitosamente no gelo, cremá-lo ou repatriá-lo para o país de origem.
Marcar aquele “x” com intencionalidade trouxe uma outra perspectiva sobre a finitude.
Dias antes do meu embarque me vi tomando uma série de medidas práticas relacionadas à empresa e aos negócios. Mas, principalmente aos relacionamentos próximos: liguei para amigos com quem não falava a tempos, busquei perdoar algumas mágoas e escrevi sessenta pequenos cartões para minha família, um para cada dia de ausência minha.
Queria um sorriso deles todos os dias. Eu precisava estar com a bagagem emocional leve, não podia levar peso desnecessário. Foi inconsciente mas, depois, vi que me preparei para não voltar.
O que você espera que o leitor leve após a leitura de Os Dois Everestes?
Esta é minha primeira experiência de escrever um livro e, por mais que seja bastante autoral, parece que a obra só se completa com a percepção do leitor.
Suas experiências de vida e sua história é que darão significado ao texto escrito e às minhas experiências compartilhadas. Esta é a beleza e a magia da literatura!
Assim, eu espero, primeiramente, que seja uma leitura agradável. Depois, que haja alguma identificação com as histórias narradas.
Por fim, se não for muita ousadia da minha parte, que o leve a refletir e que essas reflexões possam inspirá-lo a buscar aquilo que realmente é importante na sua vida.
A receita das vendas será para o Instituto Ponte. Por que essa escolha?
Sou apaixonado pelo trabalho do Instituto Ponte. Acompanho desde o início e, quando possível, participo diretamente de algumas de suas ações.
Assim, a histórias desses meninos e meninas cujas portas de oportunidade foram abertas pelo Instituto nos devolvem aquilo que temos de mais valioso: a esperança nas pessoas, no país e no mundo.
Quais são suas próximas escaladas?
Que tal o Mestre Álvaro no próximo fim de semana? É uma brincadeira, mas nem tanto. Somos privilegiados por ter essa linda montanha aqui no nosso quintal e nunca me canso de subí-la.
Mas, claro, sonho outras montanhas também: voltar ao Pico da Neblina, agora com meus filhos; subir os vulcões do Equador e ando apaixonado pelas montanhas da Bolívia.
Se pudesse dar um conselho a alguém que encara o “seu próprio Everest” na vida, qual seria?
Conselhos costumam ser perigosos, pois dores e desafios são sempre individuais e intransferíveis.
Mas, podemos aprender com as experiências dos outros. Viktor Frankl dizia que podem nos tirar tudo, exceto a liberdade de escolher quem queremos ser diante das circunstâncias.
Nenhum Everest, seja ele escolhido ou imposto, vale a pena se você se perder no caminho.
Serviço:
- Lançamento do livro “Os Dois Everestes”
- Bate papo com o Autor Juarez Gustavo Soarez
- Data e hora: 13/09 – 10h às 13h
- Local: Stand Reserva Vitória. Av. José Miranda Machado, 345, Enseada do Suá – Vitória.