Economia

'O importante é o País ter estabilidade', diz diretor da Shell

Redação Folha Vitória

Rio de Janeiro - O crescimento da produção da Shell está atrelado ao avanço dos seus projetos no Brasil, sobretudo após a compra da BG, que ocupava posição de destaque no País, afirma o diretor global de Exploração e Produção da empresa petroleira anglo-holandesa, Andy Brown. Em entrevista ao Broadcast, sistema de informação em tempo real do Grupo Estado, ele revela os planos para o pré-sal brasileiro caso a operação deixe de ser exclusividade da Petrobrás, como estabelece projeto em tramitação no Congresso.

Hoje, a presença no pré-sal é limitada à condição de investidora. A Shell é sócia da Petrobrás na área de Libra, na Bacia de Santos. Novas parcerias podem surgir, adiantou, "mas não com uma empresa carregando a outra (nos investimentos)", garantiu Brown. A seguir os principais trechos da entrevista:

Por que a Shell quer ser operadora no pré-sal?

Porque essa é a mais promissora e atrativa oportunidade em águas profundas no mundo todo, em termos de produção por poço e tamanho de área. Com a fusão com a BG, tivemos acesso a novos recursos no pré-sal, que passaram a ter importante posição em nossos negócios. A Shell é parceira da Petrobrás (no campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos) e estamos confortáveis com isso. Mas, ao mesmo tempo, procuramos oportunidades próprias. Temos diferentes formas de atuação no Brasil e continuaremos buscando novas oportunidades também.

Qual o foco de interesse no Brasil? Alguma bacia em especial?

Estamos especialmente interessados no pré-sal. Consideramos que ainda tem muito a ser descoberto.

A Shell chega a depender do Brasil para atingir as metas de produção?

Nos próximos cinco anos, cresceremos muito em águas profundas, especificamente no Brasil e no Golfo do México. Entre os dois, o Brasil é o mais forte. Então, o crescimento da produção da Shell está muito atrelado ao crescimento no Brasil.

A cotação mínima do petróleo para viabilizar o pré-sal é menor do que a de outros projetos no mundo?

No Golfo do México, a cotação mínima é pouco inferior a US$ 45 por barril. No pré-sal - particularmente no coração do pré-sal, como nas áreas de Lula e Libra - o valor é ainda menor que esse. O melhor negócio em águas profundas é o pré-sal. E o melhor em águas profundas é o melhor para a Shell. Nós estamos prontos para competir, mesmo com os baixos preços do petróleo.

Qual a projeção de investimento no Brasil? O valor muda se a Shell for operadora no pré-sal?

Serão muitos bilhões a cada ano, principalmente, em dois projetos estratégicos: nos ativos adquiridos da BG e em Libra. Não acredito que haja outro lugar onde a Shell vá investir tanto e nem por tão longo tempo. O Brasil está no topo do portfólio global e, provavelmente, terá o maior investimento já feito pela empresa em um país. É uma posição da qual temos orgulho. Na verdade, gostaríamos de avançar no Brasil.

Se a Shell fosse a operadora de Libra, e não a Petrobrás, o custo do projeto seria menor?

Trabalhamos bem com a Petrobrás, que é uma operadora muito competente. Se houver outras oportunidades de trabalhar com a Petrobrás como operadora, estaremos interessados. Mas também temos capacidade de operar. O governo brasileiro quer ter mais empresas operando no pré-sal. Acho que somos a companhia com mais vocação para isso. É muito cedo para dizer que a Shell faria melhor que a Petrobrás. Não estou certo disso. Temos tecnologia, muita experiência no Golfo do México, que poderíamos aproveitar no Brasil, mas não gostaria de dar a impressão de que acho que fazemos um trabalho melhor do que a Petrobrás.

A empresa pode carregar investimentos pela Petrobrás, para viabilizar projetos?

Temos de ser claros: a fase é difícil para toda grande empresa de petróleo. Somos muito disciplinados no controle do capital. A Petrobrás é uma organização comercial e a Shell também. Somos parceiras, mas não com uma empresa carregando a outra.

O impeachment altera a relação com o governo brasileiro? O sr. pode fazer alguma colocação sobre a relação entre a política e os negócios da Shell no Brasil?

Todo esse processo político (de impeachment) traz instabilidade. Não queremos comparar os governos (da ex-presidente Dilma Rousseff e do presidente Michel Temer). Trabalharemos com o governo que for. O importante para nós é ter estabilidade. Não investiremos por um ou dois anos, mas por 30 ou 40 anos. Temos um grande volume de dinheiro para colocar aqui e nossos investidores querem um retorno razoável. Por isso estabilidade é tão importante.

Ainda que a indústria naval brasileira esteja em crise, por causa da Operação Lava Jato, e os estaleiros em estágio de amadurecimento, a empresa vai contratar no Brasil?

Primeiro de tudo, a Shell tem uma política de governança rígida. Temos de ter certeza de que não nos envolveremos com corrupção. O Brasil entrou em um momento difícil com a Lava Jato. Mas o País, a Petrobrás e as empresas vão ultrapassar isso. No nosso mercado, temos de manter baixos custos, ou não sobrevivemos à concorrência. Costumamos estimular a competitividade da indústria local, mas não estamos em posição de dizer que trabalharemos com qualquer preço. Não é sustentável. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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