Espírito Santo quer impedir importação de café do Vietnã para o Brasil
Segundo o secretário estadual de Agricultura Octaciano Neto, a medida prejudica os produtores capixabas, que já enfrentam sérias dificuldades em decorrência da pior seca dos últimos anos
A partir do anúncio da provável liberação da importação de grão verde do café robusta por indústrias brasileiras de café torrado, moído e de solúvel, o Governo do Espírito Santo passou a defender, junto ao Ministério da Agricultura, que a importação do café Conilon do Vietnã não seja autorizada para o Brasil.
Para o secretário Estadual de Agricultura do Espírito Santo, Octaciano Neto, a medida prejudica os produtores capixabas, que já enfrentam sérias dificuldades em decorrência da pior seca dos últimos oitenta anos que atinge o Estado e que, nos últimos três anos, agravou os impactos sobre a produção e acarretou queda significativa nos resultados.
O secretário enviou ofício ao ministro da agricultura e, na manhã desta quarta-feira (14), o governador Paulo Hartung entrou em contato com o ministro da pasta, Blairo Maggi, por telefone, para sensibilizar o governo federal e pedir que não seja autorizada a importação do produto.
Como objetivo de ampliar o debate, Octaciano anunciou que a Câmara Setorial do Café, desativada desde 2004, será reativada no Estado. “Precisamos debater o assunto que preocupa os produtores capixabas”, afirma.
Estado pode ser diretamente afetado
Maior produtor de Conilon do País, a atividade cafeeira capixaba é responsável por 35% do Produto Interno Bruto (PIB) Agrícola do Estado e gera em torno de 400 mil empregos diretos e indiretos. Dados da equipe técnica da Secretaria Estadual de Agricultura apontam que a importação do robusta vai afetar diretamente os produtores, que tiveram o custo da produção aumentado por conta da seca.
“O Governo do Espírito Santo é contra a importação. A seca fez com que o custo aumentasse e a produção caísse. A safra deste ano deverá fechar em 5,3 milhões de sacas contra 7,7 milhões em 2015. Além disso, por conta da lei trabalhista, fiscal e ambiental do Brasil é mais caro produzir aqui do que em outros países, como no Vietnã. Essa importação, se autorizada, vai representar a queda no valor do produto e atingir diretamente nossos produtores que tiveram um ano muito difícil. E ainda há o risco fitossanitário, pois os grãos vêm verdes para cá e podem trazer alguma praga”, afirma Octaciano Neto.
Na próxima segunda-feira (19), o secretário da Agricultura, o deputado federal Evair de Melo, e o representante da Federação da Agricultura do Espírito Santo, Silvano Bizi, vão participar de reunião, em Varginha (MG), onde será discutida entre o Governo Federal e os produtores a importação do café Conilon do Vietnã.
Com o apoio do Conselho Nacional do Café (CNC), o deputado federal Evair de Melo divulgou uma nota de repúdio à possível importação de café.
Confira:
"O Estado Brasileiro sinaliza ampliar o “massacre” no principal setor produtivo da agropecuária brasileira. A cafeicultura, já muito afetada principalmente no Espírito Santo e Sul da Bahia, devido à longa estiagem que ainda causa quebras drásticas na produção e prejuízos bilionários, será duramente impactada com a liberação da importação de café Conilon verde para atender as indústrias brasileiras de torrado e moído e de solúvel, que alegam desabastecimento no mercado nacional, devido a baixa produção nesses dois últimos anos.
Repudiamos com veemência a importação de café verde e classificamos como mentirosa a informação de que não há café Conilon em quantidade suficiente para atender as indústrias. O levantamento de estoques que realizamos, somente no Espírito Santo, revela que existe café suficiente para atender a demanda da indústria nacional. A informação da existência de estoques entre quatro e cinco milhões e meio de sacas de café já está de posse do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através de comunicado formal do Conselho Nacional do Café - CNC e da Confederação da Agricultura e Pecuária – CNA.
Não é possível ceder a pressão, a partir de inverdades, somente para baratear os custos de produção de produtos industrializados, em detrimento da manutenção de 8,4 milhões de empregos no Brasil em mais de 196 mil estabelecimentos da agricultura familiar que produzem café, distribuídos nos municípios brasileiros. O setor produtivo de café é o que mais gera oportunidades de trabalho, à luz de legislações rigorosas em relação a questões sociais, trabalhistas e ambientais, e colocar café verde estrangeiro no Brasil soma-se a estratégias que visam, única e exclusivamente, desmontar o nosso competente e organizado setor cafeeiro.
No planeta, o Brasil é o maior produtor e exportador de café e segundo maior consumidor. Esse posicionamento nos credencia para ditar os rumos da cafeicultura mundial. Não podemos de forma alguma colocar em risco esse patrimônio histórico, cultural, social e econômico. Permitir a importação de café verde, além de promover uma concorrência desleal com nossos cafeicultores, ameaça nossos cafezais a partir da “importação” de pragas sem registros no Brasil e comuns em áreas de produção de outros países.
Para finalizar, conclamo o MAPA a uma reflexão profunda e todos os representantes do setor produtivo da cafeicultura nacional para ampliar a vigilância e resistência a essa liberação suicida."