Economia

Secretário minimiza risco de máquina pública parar com corte no Orçamento

Waldery Rodrigues Júnior disse ainda que "é preocupação de primeira ordem para a equipe econômica" a elevação dos investimentos, tanto público quanto privado

Secretário minimiza risco de máquina pública parar com corte no Orçamento Secretário minimiza risco de máquina pública parar com corte no Orçamento Secretário minimiza risco de máquina pública parar com corte no Orçamento Secretário minimiza risco de máquina pública parar com corte no Orçamento
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Mesmo com um corte de R$ 29,8 bilhões no Orçamento, o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues Júnior, afastou nesta sexta-feira (22), qualquer risco de shutdown na máquina pública. As despesas discricionárias estavam originalmente em R$ 129,4 bilhões, mas cerca de R$ 10 bilhões desse montante são para capitalização de empresas. Ou seja, R$ 119 bilhões seriam destinados originalmente a custeio e investimentos.

É desses R$ 119 bilhões que sairá o corte de R$ 29,8 bilhões, deixando cerca de R$ 90 bilhões para as demais despesas de manutenção da máquina pública. O valor é próximo do considerado essencial para garantir serviços básicos.

“Entendemos que haverá reversão desse quadro e não há nenhuma estimativa de problemas de operacionalização da máquina pública. O contingenciamento é prudencial e está acompanhado de trabalho para a reversão desses valores. A máquina não vai parar, em absoluto”, afirmou o secretário.

Ele disse ainda que “é preocupação de primeira ordem para a equipe econômica” a elevação dos investimentos, tanto público quanto privado. O investimento público foi em 2018 num valor muito pequeno, R$ 34 bilhões, menor da série. “Estamos antenados com essa preocupação, o trabalho é de não comprometer investimento público, daí o esforço para vender ativos”, disse.

Rodrigues Júnior refutou qualquer possibilidade de estar minimizando a gravidade do corte no Orçamento. “Não há nenhuma intenção de dourar a pílula, o que estamos colocando aqui são os dados reais. A explicação vem pelo lado da receita, e aí temos reparametrização para todo o ano de 2019”, disse.

O secretário informou ainda que não há “a priori” nenhuma lista de áreas mais afetadas porque a equipe trabalhará para a reversão desse valor.

Participação

Rodrigues Junior disse que 96% das despesas do Orçamento são rígidas e não podem ser cortadas. Segundo ele, os gastos obrigatórios representam 92% do Orçamento, mas há um volume não obrigatório, porém com alto grau de rigidez. Por isso, o corte de despesas discricionárias, dentro dos 8% que o governo liberdade, será da ordem de 19%. “O Orçamento nos deixa com uma discricionariedade muito pequena”, disse.

Em relação às receitas primárias, o secretário destacou a queda nas receitas administradas pela Receita Federal. A arrecadação com Imposto de Importação foi reduzida em R$ 5,7 bilhões, e a do IPI, em R$ 6 bilhões, aproximadamente. “Isso está muito alinhado com o nosso dado de reestimativa do PIB, de um crescimento de 2,5% para 2,2%. Há consonância e coerência nessa redução”, afirmou.

Rodrigues Junior mencionou ainda a queda de 6,7% nas receitas associadas à Previdência Social devido à revisão de parâmetros do mercado de trabalho, particularmente a queda da massa salarial.

Emendas parlamentares

Em meio ao clima conflagrado no Congresso Nacional, o secretário especial de Fazenda não quis informar se as emendas parlamentares serão preservadas no corte de R$ 29,8 bilhões em despesas do Orçamento. A blindagem das emendas num momento de construção da base aliada do governo Jair Bolsonaro e de negociação pela aprovação da reforma da Previdência era uma promessa do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

O secretário não quis falar nem se as emendas serão preservadas, nem se sofrem risco de corte. “Esse dado será divulgado no fim do mês”, afirmou Rodrigues Júnior.

O governo tem até o fim de março para publicar o decreto de programação orçamentária, quando o corte será distribuído entre as áreas e ficará claro quem será afetado pelo contingenciamento. “É um tempo de análise. São poucos dias para analisar esse processo e definir onde vai haver esse contingenciamento”, afirmou.

A declaração ocorre no dia seguinte às ameaças do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de deixar a articulação pela reforma da Previdência. O clima no Congresso também pesou após o envio do projeto dos militares, que prevê uma compensação bilionária para a categoria. A proposta foi o estopim para deflagrar um movimento do pressão contra a articulação do governo Bolsonaro.

Eletrobras

O secretário especial de Fazenda disse que as receitas oriundas da privatização da Eletrobras podem voltar ao Orçamento neste ano. As receitas, estimadas em R$ 12,2 bilhões, foram retiradas na revisão anunciada nesta sexta. Os recursos viriam da mudança do regime de concessões das hidrelétricas da companhia, saindo das cotas, que se limitam a custos de operação e manutenção, e passariam para o de produção independente, com preços livres.

Rodrigues Junior destacou que o governo está empenhando em concluir a privatização da companhia ainda neste ano, o que permitiria o retorno dessas receitas ao Orçamento. A arrecadação, segundo ele, pode ser até maior. O processo é liderado pelo Ministério de Minas e Energia, com participação do Ministério da Economia.

“Por questões prudenciais, retiramos e trabalhamos para que essa receita retorne. Há uma grande probabilidade, para os próximos relatórios de receitas e despesas, voltarmos com esse valor de outorga. Não necessariamente com esse valor de R$ 12,2 bilhões, que foi colocado de maneira conservadora”, disse.

“As indicações que temos são de que o apetite na privatização, bem como a modelagem financeira e societária, nos deixa bastante confortáveis, em termos de ânimo, para acreditarmos na realização do leilão neste ano, com boas receitas de outorga. O número ainda não está fechado, está em estudo, e ainda não temos um número cravado”, acrescentou.

Outra receita reduzida no relatório anunciado nesta sexta foi o item exploração de recursos naturais, com queda de R$ 11 bilhões. O motivo foi a reestimativa do preço do barril do petróleo, de US$ 74 para US$ 65,4, bem como variações cambiais. “Mas o preço, disparadamente, é o maior motivo. A queda de US$ 74 para US$ 65,4 foi importante e implica redução de receitas associadas.”

Como destaque positivo, o secretário especial citou as receitas do bônus de assinatura da 6ª rodada de partilha e da 16ª rodada de concessões de petróleo e gás, que devem render R$ 8,35 bilhões em bônus de assinatura. Ele mencionou também as receitas com a concessão de aeroportos na semana passada, que atingiram R$ 2,4 bilhões.

“É um dado muito alvissareiro e promissor. Foram receitas excepcionais, o que mostra que o leilão foi muito bem aceito pelo mercado, com ágios superiores a 900%”, disse. Rodrigues Junior destacou ainda a receita paga na renovação antecipada da concessão da usina de Porto Primavera, associada à privatização da Cesp, de R$ 1,4 bilhão.

Sobre as despesas primárias, o secretário disse que houve um aumento de R$ 3,6 bilhões em termos absolutos. Em termos porcentuais, a alta foi de 0,25%. “Isso é praticamente uma estabilidade no nível das despesas e mostra a consistência da política fiscal”, disse.