
Artigo escrito por Érico Colodeti Filho, especialista em investimentos pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Abima). Especialista em criptomoedas pela Associação Nacional das Corretoras Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord). Professor universitário e apresentador do “Me Tira do Perrengue“.
Neste 5 de novembro, o Banco Central, em um movimento de unanimidade que já marca a terceira reunião consecutiva, optou por manter a taxa Selic no patamar elevado de 15% ao ano. Uma escolha que, embora previsível para alguns, ressoa profundamente tanto nos mercados quanto no dia a dia do cidadão.
A decisão do Copom, como pudemos analisar em relatórios econômicos e comunicações oficiais, reflete a convicção da autoridade monetária de que a persistência da Selic neste nível é o caminho necessário. Para ancorar as expectativas e guiar a inflação em direção à meta estabelecida de 3% ao ano. É um sinal claro de compromisso com a estabilidade de preços, um pilar fundamental para a saúde econômica de longo prazo. Contudo, essa bússola, que mira a estabilidade, aponta para caminhos distintos quando observamos o impacto em nossos investidores e na economia de maneira mais ampla.
Para o investidor mais conservador, a manutenção da Selic em 15% é, sem dúvida, uma notícia favorável. As aplicações em renda fixa, como títulos públicos e privados, tornam-se ainda mais sedutoras, oferecendo retornos que rivalizam com poucas opções no mercado global. É um porto seguro para aqueles que buscam previsibilidade e segurança, incentivando a alocação de recursos em ativos que prometem um fluxo de rendimentos atraente e consistente.
Além disso, a robustez da taxa de juros pode, em tese, fortalecer o Real frente a outras moedas. Ou seja, pode atrair investimentos estrangeiros e adicionar uma camada de estabilidade cambial, o que é sempre um bom sinal em tempos de incerteza global. No entanto, a mesma moeda possui o seu reverso.
Para o investidor mais arrojado, e para o mercado de capitais em geral, o cenário de Selic a 15% se mostra mais desafiador. Juros elevados encarecem substancialmente o custo do crédito, tornando o financiamento de novos projetos uma tarefa árdua bem como desestimulando a expansão de empresas. Consequentemente, o impacto no mercado de ações pode ser adverso, uma vez que as companhias enfrentam custos de captação mais elevados e uma potencial desaceleração do consumo. Do mesmo modo, isso afeta diretamente suas margens de lucro e perspectivas de crescimento. A busca por retornos mais altos em renda fixa pode desviar capital que de outra forma seria investido em empresas, impactando a liquidez e a valoração do mercado acionário.
Selic desperta extremos
Olhando para a economia brasileira como um todo, a permanência da Selic em 15% apresenta uma dicotomia complexa. Por um lado, o inquestionável compromisso do Banco Central com o controle inflacionário é um fator positivo. Essa postura gera confiança nos agentes de mercado, sinalizando que a disciplina fiscal e monetária prevalecerão. Isso é crucial para atrair investimentos de longo prazo e garantir a solidez das fundações econômicas.
Por outro lado, as vozes de preocupação ecoam de diversos setores produtivos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, expressou críticas contundentes. Argumenta que uma política monetária tão restritiva sufoca a atividade econômica, freia o crescimento e, em certa medida, isola o Brasil em um cenário global. Já que muitos países iniciaram ciclos de flexibilização monetária. A dificuldade em obter crédito barato com a Selic a 15% se traduz em menos investimentos. Não só isso, mas menos geração de empregos e, em última instância, em uma desaceleração do Produto Interno Bruto.
As centrais sindicais também levantaram um alerta crucial: cada ponto percentual de aumento na Selic se traduz em um aumento considerável nos gastos públicos com o pagamento de juros da dívida. São recursos que poderiam estar sendo direcionados para áreas vitais como saúde, educação e infraestrutura, essenciais para o desenvolvimento social e econômico do país. A Força Sindical, em um tom de desabafo, classificou o momento atual como a “era dos juros extorsivos”, ressaltando o impacto negativo sobre o consumo e a renda das famílias, especialmente em um período tão sensível como o final do ano.

Em síntese, a decisão do Copom de manter a Selic em 15% ao ano é um ato de equilíbrio delicado. É uma estratégia firme para combater a inflação e preservar o poder de compra da moeda, um objetivo macroeconômico primordial. No entanto, ela não vem sem seu preço.
Embora beneficie os investidores de renda fixa com retornos mais elevados, impõe desafios significativos à expansão econômica, ao investimento produtivo e ao consumo das famílias, podendo frear o crescimento. É imperativo que o Banco Central continue a monitorar atentamente todos os indicadores econômicos, estando preparado para ajustar sua política monetária de forma ágil e assertiva, buscando o ponto ideal que harmonize o controle da inflação com o estímulo a um crescimento econômico sustentável para todos os brasileiros.