Foto: Freepik
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*Artigo escrito por Sandro Ronaldo Rizzato, advogado empresarial e membro do comitê qualificado de conteúdo de inovação e tecnologia do Ibef-ES.

Outro dia ouvi alguém dizer que “prefere conversar com a inteligência artificial do que com gente de verdade”. Ri, mas fiquei com aquela pulga atrás da orelha: será que a IA virou o novo par ideal? Minha esposa que não leia isso.

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Num mundo onde o toque virou emoji e o afeto virou curtida, as relações humanas parecem ter sido rebaixadas a experiências de testagem. Estamos todos conectados, mas emocionalmente offline.

Amor artificial

A inteligência artificial, que deveria ser uma ferramenta, tem sido promovida a terapeuta, confidente e, veja só, até namorada(o) virtual.

Não é exagero. Há quem peça conselhos amorosos à IA e depois diga: “obrigado, você me entende melhor do que meu ex”.

Outros vão além: simulam diálogos românticos, criam “personas” de companheiros e até se dizem apaixonados por suas assistentes digitais. O futuro chegou, mas trouxe solidão em full hd.

A tecnologia sempre preencheu lacunas. Só que agora ela está ocupando espaços emocionais. A IA não julga, não trai, não atrasa, não briga. Não sofre com TPM, boletos vencidos, andropausa ou os calorões da menopausa.

Está sempre pronta, gentil e com uma resposta ensaiada na ponta do código. É o parceiro perfeito, desde que você ignore o pequeno detalhe de que ele não existe.

O amor em uma sociedade emocionalmente esgotada

Claro, não se trata aqui de condenar o uso da tecnologia. Mas é preciso refletir: o quanto dessa intimidade com algoritmos é sintoma de uma sociedade emocionalmente exaurida? Estamos terceirizando o afeto para plataformas que, no fim, só nos devolvem o que queremos ouvir. É amor? Ou só falta de confronto?

Pior: ao nos acostumarmos com a previsibilidade das interações com a IA, será que não passamos a rejeitar a imprevisibilidade e, portanto, a humanidade do outro? O parceiro de carne e osso erra, hesita, contraria. A IA, não.

Mas é justamente essa imperfeição que nos ensina a amar. Mas se a IA aprender a rejeitar, a contestar, a brigar? Com defeitos simulados, ela se tornaria a parceira ideal? Não sei, só o futuro, que não demora a chegar, nos dirá.

Se um dia você se pegar dizendo ‘te amo’ para uma IA, ou ficando com saudades dela, pare e pense: será que é ela que está evoluindo… ou somos nós que estamos nos adaptando à solidão?

Talvez o problema não esteja no avanço da tecnologia, mas na nossa desistência do vínculo real.

Portanto, a pergunta que fica é: estamos escolhendo a IA — ou apenas nos rendendo à comodidade de não sermos desafiados a amar de verdade?

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

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