O escritor Fernando Morais, ao centro, segura espada doada pelos irmãos Gilberto e Edas Lopes. Crédito: Divilgação
O escritor Fernando Morais, ao centro, segura espada doada pelos irmãos Gilberto e Edas Lopes. Crédito: Divilgação

O Espírito Santo guardou um tesouro que não tem preço sobre uma tentativa de golpe militar que deu errado em 1955. Nesse sentido, a memória democrática brasileira ganhou um reforço simbólico e institucional sem precedentes com a doação de um acervo histórico inestimável, sem preço. O conjunto pertenceu ao Marechal Henrique Lott e foi doado pelo empresário capixaba Gilberto Lopes, sobrinho-neto do militar. Trata-se de um patrimônio cujo valor histórico supera qualquer estimativa financeira. “O valor que agrega para a democracia vale mais que qualquer valor monetário”, afirmou o doador. 

Entre os itens doados, destaca-se a espada do Marechal Lott, símbolo da legalidade constitucional brasileira. O objeto representa o movimento de 1955 que garantiu a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek. Ou seja, naquele momento, o país esteve à beira de uma ruptura institucional. Lott liderou a reação em defesa da Constituição e da ordem democrática. 

O “Contragolpe”, conhecido como Movimento de 11 de Novembro ou Golpe Preventivo, ocorreu em 1955. Liderado pelo então ministro da Guerra Marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, o movimento reagiu a uma conspiração civil-militar que pretendia impedir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek e do vice João Goulart. Do mesmo modo, por isso, a espada ultrapassa o valor material. Ou seja, ela se consolida como ícone da democracia brasileira.

A entrega simbólica do acervo foi registrada em vídeo. No registro, o empresário capixaba Gilberto Lopes formaliza a doação institucional do conjunto histórico ao jornalista e escritor Fernando Morais, referência na historiografia política brasileira. Nesse sentido, o material permaneceu sob guarda familiar por mais de uma década. Segundo ele, o valor do acervo é impossível de ser mensurado. “É um patrimônio da democracia brasileira”, declarou. A afirmação resume o sentido da iniciativa.

Memória além da “espada da democracia”

Fernando Morais anunciou a destinação do material ao recém-criado Centro Brasil Memória. A instituição nasce com o propósito de preservar acervos ligados à história política nacional. Além disso, busca organizar e difundir conteúdos históricos para a sociedade. Segundo Morais, o conjunto permite reflexão sobre democracia e instituições. Assim, o legado de Lott ganha dimensão pública permanente.

O conjunto reúne dezenas de itens catalogados ao longo de décadas. Há condecorações nacionais e internacionais, armas cerimoniais e objetos pessoais. Também integram o acervo documentos e materiais da campanha presidencial. O material oferece um panorama íntimo e político da trajetória do marechal. Cada peça ajuda a compreender seu papel no século XX. Trata-se de história viva preservada com método.

Convivência com o Marechal Lott

Gilberto Lopes também compartilhou lembranças do convívio com o marechal no Rio de Janeiro. “Morei no Rio em 1976. Eu ia às missas aos domingos com ele em Copacabana. Aprendi com ele o valor de viver em um país democrático e respeitar as leis”, afirmou. Segundo o empresário, as lições vinham do exemplo cotidiano. Mesmo sem vínculo direto com o Espírito Santo, Lott marcou gerações. Seu legado permanece atual em tempos de tensão institucional. Preservar essa memória é um ato democrático.

A guarda do acervo foi assegurada pelos irmãos Gilberto e Edas Lopes por cerca de 15 anos. O material permaneceu sob cuidados da família no Espírito Santo. “O acervo foi passado para mim ainda em vida”, relatou Gilberto. Segundo ele, o irmão Edas cuidou diretamente da preservação física. O zelo familiar garantiu integridade histórica das peças. Assim, a transição institucional ocorreu com segurança.

“Marilda Lopes, nora do Lott e irmã do meu pai Edas, nos enviou o parte do rico acervo do marechal. Isso para que garantíssemos sua conservação, o que foi cuidadosamente feito. Nesse sentido, ficou tudo organizado e exposto na minha casa, porém havia o desejo de levar o acervo para o público em geral. Com a proximidade de Gilberto com o escritor Fernando Morais, veio a oportunidade de apresentar o acervo para o público por meio do projeto Brasil Memória”, contou Edas Lopes.

Veja abaixo alguns itens doados do acervo do Marechal Lott:

Edu Kopernick

Editor de Economia

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.