Economia

Você sabe o que é IG? Selo reconhece tradição e qualidade de produtos capixabas

IGs protegem a região que produz um determinado item, além de agregar valor a ele. Atualmente, ES possui 10 produtos com selo

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As Paneleiras de Goiabeiras utilizam recursos do manguezal para fabricação de panelas.
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (Foto: Thiago Soares/Folha Vitória)

Os produtos capixabas têm história, cultura e tradição. Por isso, cultivar a identidade desses itens é importante para preservar também seus modos de fazer e seus destinos finais, afinal, uma produção não envolve só um produto, mas também aqueles que o produzem e o local da onde saíram. Como forma de certificar que aquele produto é reconhecido e valorizado, criou-se uma espécie de “RG” de produtos, as Indicações Geográficas (IGs).

As IGs são uma ferramenta de valorização de produtos tradicionais vinculados a determinados territórios. O “RG dos produtos”, ou melhor, o selo de IG, agrega valor e reconhece o local onde o item foi produzido.

Foto: Divulgação/Incaper

Atualmente, o Espírito Santo possui 10 IGs, que são: as panelas de barro de Goiabeiras, o mármore de Cachoeiro de Itapemirim, o cacau em amêndoas de Linhares, o inhame de São Bento de Urânia, o socol de Venda Nova do Imigrante, o café conilon do Espírito Santo, os cafés arábica das regiões das Montanhas do Espírito Santo, o café arábica do Caparaó, a pimenta-rosa de São Mateus e a pimenta-do-reino do Espírito Santo.

Existem dois tipos de IGs, segundo a gestora de Indicação Geográfica no Sebrae/ES, Adriana Notaroberto, a Indicação de Procedência (IP) e a Denominação de Origem (DO). A primeira reconhece o nome geográfico de uma região que se tornou famosa pela produção dos produtos.

Por outro lado, a segunda determina que “as qualidades e características do produto estejam diretamente ligadas ao meio geográfico, incluindo fatores naturais e humanos”.

Foto: Divulgação/Governo do ES

Mas, por que um produto recebe o selo? E se há reconhecimento cultural, quais são os impactos econômicos?

Por que um produto vira uma IG?

A Associação de Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (Apec) recebeu a concessão de Denominação por Origem em 2021. Ela engloba um total de 16 municípios, situados no Espírito Santo e em Minas Gerais, entre eles estão: Alegre, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Ibatiba, Ibitirama, Irupi, Iúna, Muniz Freire, São José do Calçado, Alto Caparaó, Alto Jequitibá, Caparaó, Espera Feliz, Manhumirim, Martins Soares.

Segundo a Apec, a composição de municípios é fundamental para a identidade do café do Caparaó. A altitude elevada, o clima, a influência da Mata Atlântica, o solo, o relevo, a diversidade sensorial e o microclima moldam o perfil sensorial do café.

Além disso, há particularidades na produção do café que impactam no sabor, afirmou a associação. O cultivo nas montanhas, a colheita seletiva manual (selecionando grão por grão), a secagem e preparação artesanal são influências importantes.

A atividade cafeeira envolve os familiares na produção, diminui o êxodo rural, permite a opção pela sucessão familiar e confere mais representatividade às mulheres. Essa conexão familiar com a terra e o café é crucial para a transmissão de conhecimento e a manutenção de um cuidado e dedicação únicos em cada etapa do processo, desde o cultivo até a pós-colheita. Associação de Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (Apec).

Foto: Reprodução/Redes sociais @d.o.caparao

Impactos econômicos após o selo

De acordo com Adriana Notaroberto, reconhecer um produto por IG agrega valor a ele, o que pode resultar em aumento de renda para os produtores locais.

“Além disso, fortalece a identidade territorial, resgata o orgulho da comunidade e valoriza os saberes tradicionais. Produtos com IG se destacam no mercado por sua autenticidade, o que abre novas oportunidades comerciais”, destacou a gestora.

Ela também afirmou que outro impacto significativo é o estímulo ao turismo de experiência e ao “Turismo de Origem”. Com as IGs, os turistas são atraídos até os locais para entender a história, cultura e produção.

Produção de café conilon. Foto: Incaper/Divulgação

A Apec contou que após o reconhecimento, houve uma maior valorização dos produtos. “O selo não é apenas um símbolo, mas uma poderosa ferramenta de marketing e um atestado de valor que reverberou em diversas esferas”, afirmou a Apec.

Dessa forma, a associação informou que o café recebeu maior reconhecimento na qualidade e na reputação, além da diferenciação do mercado e no aumento do valor agregado. Outras áreas que foram valorizadas foram o acesso a novos mercados e a novos clientes.

A valorização é, portanto, um ciclo virtuoso: a qualidade reconhecida leva à diferenciação, que gera maior valor de mercado, orgulho e, consequentemente, mais organização e investimento na própria qualidade. Associação de Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (Apec).

Impacto local

A gestora do Sebrae/ES afirmou que o selo também gera efeitos diretos e indiretos. Entre os diretos estão: o aumento do valor de mercado do produto, maior demanda, qualificação dos processos produtivos e regularização dos produtores.

“Indiretamente, observa-se a geração de empregos, fortalecimento das cadeias produtivas locais, estímulo ao empreendedorismo e ao turismo regional”, completou Notaroberto.

A Apec confirmou esses efeitos, de acordo com a associação, a atividade cafeeira na região do Caparaó auxilia na distribuição de renda, gera emprego e oportunidade, além de melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. Atualmente, a Apec conta com 160 contribuidores diretamente associados e, cada produtor, beneficia, em média, 4 pessoas indiretamente.

Pimenta-do-reino. Foto: Felipe Ribeiro/Incaper
Fortalecimento no turismo

De acordo com Adriana Notaroberto, um produto com selo desperta o interesse de turistas que buscam experiências autênticas, o que fortalece o turismo rural, gastronômico e cultural, isso gera renda e promove o território.

Há uma forte tendência do turista escolher viajar em busca de experiências únicas e originais. E isso as regiões com IG podem oferecer pois, por definição, já são únicas. Adriana Notaroberto, gestora de de Indicação Geográfica no Sebrae/ES.

Foto: Divulgação/Sebrae
IGs capixabas
ProdutosLocalTipo de IGAno em que recebeu o selo
Panela de BarroGoiabeirasIndicação de Procedência2011
MármoreCachoeiro de ItapemirimIndicação de Procedência2012
Cacau em amêndoasLinharesIndicação de Procedência2012
InhameSão Bento de UrâniaIndicação de Procedência2016
SocolVenda Nova do ImigranteIndicação de Procedência2018
Café conilonEspírito SantoIndicação de Procedência2021
Café arábicaCaparaóDenominação Geográfica2021
Cafés especiais das MontanhasAfonso Claudio, Alfredo Chaves, Brejetuba, Castelo, Conceição do Castelo,
Domingos Martins, Iconha, Itaguaçu, Itarana, Marechal Floriano, Rio Novo do Sul, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa,
Santa Leopoldina, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante.
Denominação Geográfica2021
Pimenta-do-reino Água Doce do Norte, Águia Branca, Alto Rio Novo, Aracruz, Baixo Guandu, Barra
de São Francisco, Boa Esperança, Colatina, Conceição da Barra, Ecoporanga, Governador Lindenberg, Jaguaré, Linhares,
Mantenópolis, Marilândia, Montanha, Mucurici, Nova Venécia, Pancas, Pedro Canário, Pinheiros, Ponto Belo, Rio Bananal,
São Domingos do Norte, São Gabriel da Palha, São Mateus, Sooretama, Vila Pavão e Vila Valério.
Indicação de Procedência2022
Pimenta-rosaSão MateusIndicação de Procedência2023
Ana Piontkowski *

Estagiária

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.