O Espírito Santo enfrenta um desafio para os próximos anos: qualificar cerca de 280 mil profissionais até 2027, uma demanda das empresas que atuam no Estado e que sofrem com a falta de mão de obra especializada.
Em paralelo, alguns esforços têm sido feitos para suprir essa deficiência, e muitos dos que estão entrando no mercado de trabalho conquistaram uma vaga logo que saíram do ensino médio, a partir dos cursos técnicos ofertados na rede estadual, nas turmas de tempo integral.
O modelo, que combina a formação básica com a técnica, já atende quase 25 mil estudantes no Espírito Santo e tem levado alunos a suprir as vagas abertas pelas empresas.
Segundo a Secretaria de Estado da Educação (Sedu), os alunos têm acesso a 35 cursos técnicos integrados ao Ensino Médio em tempo integral.
As aulas abrangem áreas como Administração, Informática para Internet, Eletromecânica, Logística, Química, Marketing, Produção de Áudio e Vídeo e Segurança do Trabalho.
Um dos estudantes que já saiu da escola com emprego garantido é Carlos Eduardo Vaz. Ele fez técnico em informática na rede estadual e hoje já trabalha e cursa Ciência da Computação.
Consegui emprego no mesmo dia da formatura. Enquanto na minha faculdade ninguém do meu período está empregado, eu já estou na área graças ao curso técnico que fiz na escola. Isso me deixou à frente e facilitou meu ingresso no mercado.
Carlos Eduardo Vaz, ex-aluno de tempo integral da rede estadual
Gargalo na formação de profissionais
De acordo com o Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027, elaborado pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Espírito Santo precisará formar 47,4 mil novos trabalhadores e requalificar outros 232,4 mil já inseridos no mercado.
A demanda considera o crescimento econômico previsto para o período e a necessidade de reposição de profissionais que deixam seus postos.
A atualização exigida vai além das habilidades técnicas tradicionais. O estudo aponta a importância de desenvolver competências comportamentais, como pensamento crítico, criatividade e inteligência emocional, além de garantir a capacitação em saúde e segurança do trabalho.
Entre os setores com maior necessidade de profissionais estão Logística e Transporte, que demandarão 77,8 mil pessoas, seguidos de Construção (34,2 mil), Manutenção e Reparação (25,3 mil), Operação Industrial (21,7 mil) e Metalmecânica (20,2 mil).
Cerca de 25 mil alunos em 35 cursos técnicos
A Sedu aposta na expansão da rede de escolas em tempo integral com cursos técnicos como forma de responder a esse desafio de qualificação profissional. Atualmente, são 211 escolas de tempo integral, sendo 170 de Ensino Médio. Destas, 102 já ofertam cursos técnicos integrados.
Em 2025, foram ofertadas 33.908 vagas no Ensino Médio Integrado, que contempla tanto tempo integral quanto parcial. Ao todo, 35 cursos técnicos estão disponíveis, atendendo 24,7 mil estudantes.
O investimento anual na Educação Profissional e Tecnológica (EPT) é de aproximadamente R$ 50 milhões, destinados principalmente às unidades escolares por meio do Programa de Gestão Financeira das Escolas (Progefe).
“Ensino técnico muda a vida”, diz estudante
O modelo de ensino já impacta a vida de jovens como Estevão Pires Galvão, estudante de informática para internet da rede estadual. Ele relata que a rotina de aulas é intensa.
“O ensino técnico muda a vida dos jovens, permite expandir horizontes e ingressar no mercado de trabalho mais cedo. Eu mesmo me encantei pela programação e penso em seguir carreira em ciência da computação e inteligência artificial”, afirma Estevão.
Para o professor Leonardo França, a proposta vai além de ensinar técnicas.
O diferencial é que eles saem com uma profissão junto com o ensino médio. Mesmo quem não seguir na área, leva um conhecimento aplicável a diferentes setores. Mais do que formar técnicos, queremos formar cidadãos éticos e preparados para a vida.
Leonardo França, professor
Importância de conciliar ensinos
Especialista em pessoas, Gisélia Freitas avalia que a junção do ensino regular com o técnico dá ao jovem direcionamento em um momento decisivo da vida.
“É muito positivo oferecer, ainda na adolescência, oportunidades ligadas às demandas do mercado. Isso ajuda famílias, empresas e o próprio jovem, mesmo que ele mude de área depois. Esse conhecimento nunca é perdido”, explica.
Ela alerta, no entanto, que as instituições de ensino precisam estar conectadas às transformações rápidas do mercado.
“O setor educacional não pode se alienar. Precisa dialogar com empresas e áreas estratégicas para oferecer formações que façam sentido para os jovens e para o desenvolvimento econômico”, diz.
O secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, reforça que o Espírito Santo já superou metas nacionais ao implantar o ensino em tempo integral em quase 60% da rede.
Mesmo que não fosse meta, investiríamos nesse modelo. Ele garante mais horas de aprendizagem, melhores resultados e amplia as oportunidades para os estudantes. A formação técnica integrada é um diferencial que qualifica ainda mais o jovem para disputar uma vaga no mercado de trabalho.
Vitor de Angelo, secretário de Estado da Educação
Resultados já observados
Segundo a Sedu, os números confirmam os benefícios da modalidade. Estudantes do Ensino Médio Integrado tiveram desempenho superior no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) 2023, com melhores resultados em Língua Portuguesa e Matemática em comparação aos alunos do ensino regular.
As escolas de tempo integral também apresentaram menores índices de evasão escolar. Pesquisas feitas com estudantes e gestores apontam que a modalidade contribui para a motivação, melhora o desempenho e amplia as perspectivas de futuro.