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Importância da família no desenvolvimento dos filhos

A família deve ensinar o diálogo, reconhecer os limites dos filhos e ajudá-los a enfrentá-los. Assim, haverá avanço para a vida adulta

Leitura: 5 Minutos
Importância da família no desenvolvimento dos filhos Importância da família no desenvolvimento dos filhos Importância da família no desenvolvimento dos filhos Importância da família no desenvolvimento dos filhos
Mãe faz carinho na filha
Mãe faz carinho na filha. Foto: Freepik

No artigo de hoje abordarei a importância das famílias na formação da criança para a vida adulta. Refiro-me à formação enquanto maturação das instâncias psíquica, cognitiva e fisiológica do infante, que interferirão na maneira com a qual ele lidará com a própria existência no mundo. 

Nessa seara não há cartilha com passo a passo sobre maternidade e paternidade, muito embora tenha sido fetichizado em ritualísticas de parto e criação.

Contudo, também não significa que não haja alicerces e sustentáculos que competem às famílias no cuidado dos filhos. Pelo contrário, a atuação parental é elementar!

Papel da família no desenvolvimento psíquico e cognitivo

O primeiro contato do sujeito com a cultura (discursos, normas, costumes) e introdução nela se faz por aquele que cuida, em primeira instância, a mãe.

Ao atender ao choro da criança, interpretado como fome ou dor, ao corresponder aos olhares, ao abraçar, ao conversar, ao desejar esse outro (o bebê), avança-se na constituição do psiquismo, do senso de unidade corporal pela criança, da linguagem, por meio da interpretação, do acesso à realidade e à vida.

Por concepção, somos seres necessitados de um outro para sobreviver no mundo. Sem o desejo de um outro, encontrado na função maternal, inconsciente ou não, a existência não se consolida.

Estrutura familiar e funções parentais

Seja a estrutura familiar que se apresente, as funções parentais garantem a constituição do indivíduo, de modo que ele consiga encontrar um caminho próprio e reconhecer-se alguém, diferente dos pais, posteriormente.

Quando digo função parental, ela pode ser exercida por avô/avó, tio/tia, pai e/ou mãe biológicos ou adotivos, ou casal homoafetivo, que cumpram com o papel do cuidado e da introdução da ordem na vida da criança. 

Portanto, o amor perpetua a vida e a lei sujeita o ser a coexistir com o outro. Um indivíduo não pode, consequentemente, viver imerso e fundido ao desejo da mãe para sempre.

A interdição (função paterna que pode ser exercida por alguém ou algo, como a profissão da mãe que estabeleça o limite) precisa agir nessa relação, mais à frente, para que a criança, já bem amparada, também entenda que para além de ser amado, não é um pedaço da mãe e tão pouco seu único objeto de desejo.

A criança é um ser diferente dela (mãe) e tem desejos próprios, com os quais terá de lidar, naquilo que consegue assumir ou abdicar para a convivência social. Todos nós pagamos um preço para tanto e, por essa condição, somos responsáveis, nos ensina a psicanálise.

Importância do limite e do autoconhecimento

Tais eventos acontecem na estrutura familiar e podem ser revividos na estrutura social, sendo na escola e no trabalho, por exemplo. Portanto, sim, cuidar quando há desamparo é importante tanto quanto impor limites.

Viver a frustração e a negativa é lidar com a sobrevivência, é enfrentar a falta, é ultrapassar o desafio, é descobrir-se capaz de transpor problemas. Aprende-se isso na infância e estará apto para a vida adulta.

Ademais, saiba, por tanto, que nem tudo “é culpa da mãe”. As famílias devem cumprir com a responsabilidade da criação, mas com o amadurecimento, o indivíduo deverá decidir como lidar com as falhas e demandas da família, do trabalho, do outro e de si, uma reflexão que fiz com os jovens em meu texto anterior.

Transformações do mundo

Olhemos para as transformações do mundo, do trabalho e das mudanças geopolíticas. Observemos os passos da sociedade, as relações e as incidências de adoecimento psíquico.

Seguimos animados com as investidas tecnológicas e da inteligência artificial, mas, por outra via, os índices de depressão e suicídio crescem no mundo.

Confiamos numa inteligência artificial (IA) e não sabemos quem somos ou o que faremos dos nossos desejos. Não estimulamos o autoconhecimento e delegaremos à IA o raciocínio.

Mas, veja a ironia da vida: não conseguiremos utilizar a IA se não entendermos a teoria pura, o pensamento lógico que a filosofia ensina, a matemática e o diálogo, com uma máquina, que dirá diálogo com um outro ser humano. 

Sabemos que quando a habilidade do diálogo, do sentido e do enfrentamento do real falham, pode sobrevir a agressividade com o outro ou com o próprio indivíduo, pode sobrevir o sofrimento diante do imperativo imaginário de que expectativas não são atendidas, de esperar ser feliz e não ser como almejava-se ou sentir-se incapaz de assumir algo para si, pode sobrevir a fuga e a inibição.

Nisso, advêm em discurso os filhos “rebeldes”, os “adoentados”, os “que nada querem”, os “que não aprendem”, os que “não tem jeito”.

O que fará então a família? Fará o primordial. 

A partir do laço familiar, ensinar o diálogo, reconhecer os limites dos filhos e ajudá-los a enfrentá-los. Admirar os feitos, estabelecer o respeito mútuo e a expressão das emoções por meio da fala, administrando-as.

Estimular a confiança nas relações e em si mesmo. Perpetuar a convivência com o outro por meio do amor. Assim, haverá avanço para a vida adulta, haverá avanço social.

Ana Carolina P. Carvalho

Colunista

Mestra em Administração de Empresas pela FUCAPE Business School. Pós-Graduada em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas. Psicóloga e psicanalista. Atualmente é Gerente de Desenvolvimento Humano da Faculdade FUCAPE, atuando nas frentes de carreiras, gestão de pessoas, saúde mental e desenvolvimento do ensino multidisciplinar.

Mestra em Administração de Empresas pela FUCAPE Business School. Pós-Graduada em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas. Psicóloga e psicanalista. Atualmente é Gerente de Desenvolvimento Humano da Faculdade FUCAPE, atuando nas frentes de carreiras, gestão de pessoas, saúde mental e desenvolvimento do ensino multidisciplinar.