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Veja como as ferramentas digitais moldam nossa criatividade

Essa conveniência tecnológica levanta questionamentos sobre o impacto dessas ferramentas em nossa capacidade cognitiva e criativa

Leitura: 4 Minutos
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Pessoa usando a criatividade sem uso de ferramentas digitais
Foto: Freepik

É interessante perceber como a facilidade das ferramentas digitais nos fidelizam de maneira prodigiosa. Com um toque na tela, abrimos canais e portais de ideias e imagens que nos poupam a difícil tarefa de pensar. Essa conveniência tecnológica, embora pareça uma vantagem indiscutível, levanta questionamentos sobre o impacto dessas ferramentas em nossa capacidade cognitiva e criativa.

Pode parecer irônico, mas essa dependência das ferramentas digitais não é mera coincidência ou comodidade trivial. Solucionar problemas, resolver situações visuais, compor uma ideia para uma colagem…

A questão é que, não é necessariamente preciso pensar, e sim, intuir (já falamos disso em outro artigo recente). O pensamento consciente pode ser doloroso mas também é recompensador. Pensar, de fato, exige esforço e dedicação. 

Então seria bom num contexto ideal o uso das ferramentas como forma de pensamento, não como intuição. Como assim?

Da mesma maneira que os livros servem de referências bibliográficas importantes para o desenvolvimento de textos acadêmicos, os bancos e redirecionadores de imagens como Google, Pinterest, Instagram, seriam no melhor cenário usados como bibliotecas de imagens, não como fonte inicial de inspiração.

Conversando com colegas, percebo, não apenas eu, que o inverso está acontecendo. Estamos muitas vezes nos deixando levar, escolher e intuir através da ferramenta digital, ao invés de usá-la para coletar referências. Essa tendência pode levar a uma padronização da criatividade e a uma dependência excessiva de fontes externas, limitando nossa capacidade de desenvolver pensamentos críticos e soluções inovadoras.

Além disso, pode diminuir a profundidade e a autenticidade de nossas criações, tornando-as reflexos das tendências e padrões já existentes, ao invés de expressões únicas de nossa própria perspectiva e experiência.

Ao menor surgimento do problema, muitas vezes não damos tempo para uma reflexão interna e corremos para o celular. Diante disso, propõe-se, especialmente no contexto do ensino e da expressão artística, uma abordagem que privilegie a elaboração inicial baseada na intuição e na experimentação pessoal. 

Isso pode ser concretizado através de práticas simples, como rabiscar ideias em um papel, fazer esboços preliminares ou simplesmente permitir-se um tempo de reflexão silenciosa antes de recorrer às referências online.

Somente após esse processo inicial de elaboração interna, as ferramentas digitais devem ser introduzidas como meios de enriquecer e aprofundar as ideias já concebidas, fornecendo referências adicionais que complementam e aprimoram o trabalho criativo

Fayga Ostrower, em Criatividade e Processos de Criação (1978, pp.65) sugere, nesse contexto, a importância da seletividade:

“Como um processo sempre ativo, de inter-ação com o ambiente, perceber é, de certo modo, ir ao encontro do que no íntimo se quer perceber. Buscando as coisas e relacionando-as, procuramos vê-las orientadas em um máximo grau de coerência interna, pois que nessa coerência elas podem ser referidas por nós, podem ser vividas e tornar-se significativas.”

Dessa maneira, é fundamental desenvolver uma relação mais consciente e equilibrada com as ferramentas digitais, reconhecendo seu valor como recursos de apoio e enriquecimento, mas mantendo o protagonismo de nosso próprio processo de pensamento e intuição.

Essa prática não apenas aprimora a qualidade e a autenticidade de nossas criações, mas também contribui para o desenvolvimento de uma mente mais crítica, independente e criativa em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia.

Andreia Falqueto

Colunista

Artista visual e professora, mestra e Doutora em Artes pela Universidade de Granada/Espanha. Bacharel em Artes Plásticas e Mestra em Artes pela UFES. Representada pelo instituto Iadê/São Paulo e galeria Sur/Espanha. Trabalha com pintura, desenho, objetos e instalações.

Artista visual e professora, mestra e Doutora em Artes pela Universidade de Granada/Espanha. Bacharel em Artes Plásticas e Mestra em Artes pela UFES. Representada pelo instituto Iadê/São Paulo e galeria Sur/Espanha. Trabalha com pintura, desenho, objetos e instalações.