Educação

Vitória é destaque nacional em alfabetização, creches e escolas em tempo integral

Capital capixaba supera metas nacionais e amplia rede integral de 4 para 41 escolas em três anos

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Professora em sala de aula (Foto: Freepik)
Professora em sala de aula (Foto: Freepik)

Vitória vive um momento de avanços e desafios na educação. Dados recentes colocam a capital capixaba em posição de destaque no cenário nacional: o município é o segundo do Brasil em alfabetização de crianças até os 7 anos, atrás apenas de Fortaleza, e lidera entre as capitais no atendimento de crianças de 0 a 3 anos em creches. 

Por outro lado, também aparece na primeira posição quando o assunto é a queda de matrículas na rede municipal, uma redução de mais de 15%, entre 2019 e 2024.

Segundo o Indicador Criança Alfabetizada, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), 73,2% das crianças da rede municipal de Vitória estão alfabetizadas ao fim do 2º ano do ensino fundamental. Em 2021, esse percentual era de apenas 28%. Em três anos, a capital não apenas superou a meta prevista para 2024 como também antecipou os objetivos nacionais estipulados até 2026.

Gráfico do percentual de crianças alfabetizadas (Foto: Folha Vitória)
Gráfico do percentual de crianças alfabetizadas (Foto: Folha Vitória)

O desempenho ganha ainda mais relevância quando comparado à média nacional: no Brasil, apenas 59,2% das crianças estão alfabetizadas nessa faixa etária. O Espírito Santo aparece em 4º lugar entre os estados, com 71,7%.

Educação infantil no topo do país

No acesso à creche, Vitória também lidera. De acordo com o estudo Panorama do Acesso à Educação Infantil no Brasil, feito pela organização Todos Pela Educação, 72,2% das crianças de 0 a 3 anos estão matriculadas na rede. A capital é a única, ao lado de Teresina (PI), que alcançou a universalização da pré-escola: 100% das crianças de 4 e 5 anos estão na sala de aula.

No Brasil, o índice de atendimento em creches é de 41,2%. No Espírito Santo, o percentual chega a 39,7%, um resultado próximo da média nacional e que mostra o esforço do Estado em ampliar o acesso à Educação Infantil.

Juliana Rohsner, Secretária de Educação De Vitória (Foto: TV Vitória/Reprodução)
Juliana Rohsner, secretária de Educação de Vitória (Foto: TV Vitória/Reprodução)

Para a secretária municipal de Educação de Vitória, Juliana Rohsner, o avanço é reflexo de um olhar cuidadoso para a infância e que perdura até a fase adulta. O investimento na educação é fundamental para garantir uma sociedade melhor estruturada.

Nós chegamos a ter escolas paralisadas, há mais de dez anos, e retomamos essas obras. Hoje, mais de sete novas unidades estão sendo entregues. Com isso, conseguimos ampliar as vagas, garantir acolhimento e assegurar que essas crianças tenham acesso a um atendimento de qualidade desde cedo.”

Juliana Rohsner, secretária de Educação de Vitória

Um exemplo significativo da importância desse investimento e desse modelo de educação é como as crianças se desenvolvem com mais facilidade em diversas áreas do crescimento. Marina Jantorno, mãe de Benjamin Jantorno, de 2 anos, destacou como a creche se tornou um divisor de águas na vida do seu filho.

Marina Jantorno e seu filho Benjamin (Foto/reprodução: TV Vitória)
Marina Jantorno e seu filho Benjamin (Foto/reprodução: TV Vitória)

Ele entrou com oito meses e sempre ficou em tempo integral. Como foi prematuro, a escola foi fundamental para o desenvolvimento dele. Hoje percebo avanços na fala, na alimentação e na interação. E eu também fico tranquila para trabalhar, sabendo que ele está bem cuidado.”

Marina Jantorno

Tempo integral: de quatro para 41 escolas

Outro salto aconteceu na oferta de escolas em tempo integral. Em 2021, Vitória contava com apenas quatro unidades nesse modelo. Hoje, são 41 que atendem cerca de 10 mil estudantes, do berçário ao 9º ano.

O avanço também é realidade na rede estadual: 56% das escolas do Espírito Santo já funcionam em tempo integral. Na Grande Vitória, outras prefeituras também ampliaram a modalidade. Cariacica, por exemplo, tem 20 unidades, a Serra possui 9 e Vila Velha soma 11 escolas.

Essa jornada ampliada dura nove horas e combina disciplinas da Base Nacional Comum Curricular com atividades de música, esporte, arte, clubes temáticos e projetos de vida.

A gente acredita numa educação integral que não separa turno e contraturno. É um tempo contínuo, planejado, que permite ao estudante se desenvolver como um todo, cognitivamente, emocionalmente e socialmente.”

Juliana Rohsner
Nicolas Terra e Ana Clara Gomes (Foto/reprodução: TV Vitória)
Nicolas Terra e Ana Clara Gomes (Foto/reprodução: TV Vitória)

Para os adolescentes, o modelo representa mais oportunidades, não apenas no aprendizado, mas também na convivência e nas relações dentro e fora da sala de aula. Nicolas Terra, 15 anos, conta que estranhou no início, mas hoje não se vê fora do tempo integral.

Antes, quando estudava meio período, eu chegava em casa e não fazia nada. Agora passo o dia na escola, participo de clubes, projetos e atividades que me ajudam a aprender mais e até a me preparar para o IFES. Acabei me acostumando e gosto de estar aqui.

Nicolas Terra

A colega Ana Clara Gomes, 14 anos, reforça que a mudança foi decisiva para superar dificuldades em matemática:

“No tempo integral, consigo estudar mais e tirar dúvidas. Melhorei minhas notas e fiquei mais confiante. Além disso, gosto de estar com meus amigos e de participar do clube de vôlei. Prefiro estar na escola do que em casa, sem fazer nada”.

A ampliação do tempo integral vai além dos benefícios pedagógicos e reflete na vida das famílias. O fato das crianças permanecerem o dia todo em um ambiente seguro, com acompanhamento e oportunidades de aprendizado, permite que pais e mães tenham mais tranquilidade para trabalhar, estudar ou investir em novas possibilidades profissionais.

Esse resultado, segundo a secretária, não acontece por acaso: é fruto de planejamento, reorganização da rede e diálogo constante com a comunidade escolar.

Para a professora Cleonara Schwartz, do Centro de Educação da Ufes, a escola em tempo integral precisa ser entendida como mais do que um tempo maior de permanência.

Cleonara Schwartz (Foto/reprodução: TV Vitória)
Cleonara Schwartz (Foto/reprodução: TV Vitória)

Ela amplia horizontes. Não se trata apenas de aumentar a carga horária, mas de oferecer experiências que ultrapassam os conteúdos tradicionais. Isso fortalece a socialização, reduz a evasão escolar e cria condições para que o estudante tenha um desenvolvimento pleno.”

Cleonara Schwartz

Segundo a professora, os investimentos nos anos iniciais são decisivos, já que uma base sólida de alfabetização, aliada ao tempo integral, contribui para a permanência do aluno na escola, amplia suas chances de chegar ao ensino superior e o prepara para uma entrada mais qualificada na sociedade.

Queda nas matrículas

Apesar dos indicadores positivos, Vitória passa por uma queda significativa no número de matrículas. Entre 2019 e 2024, a redução ultrapassou 15%. Segundo a Prefeitura de Vitória, o movimento está ligado a fatores demográficos, como a diminuição no número de nascimentos e a migração de famílias para municípios vizinhos da Grande Vitória.

Ainda assim, especialistas alertam para a necessidade de manter políticas de expansão e qualidade. O Plano Nacional de Educação (PNE), em vigor até 2025, estabelece como metas ampliar a oferta de creches para, ao menos, 50% das crianças até 3 anos e garantir educação em tempo integral em 50% das escolas públicas. Vitória, com os resultados atuais, já supera parte dessas metas.

Novidade: aplicativo de segurança escolar

Além dos investimentos pedagógicos, a Capital lança também um aplicativo de segurança escolar. A ferramenta permitirá o envio de mensagens em tempo real para professores, gestores e famílias em situações de emergência, funcionando como um canal de alerta rápido para toda a comunidade escolar.

Os dados mostram que Vitória vive uma transformação educacional: mais crianças na escola desde cedo, avanços consistentes na alfabetização e expansão da rede integral. Para famílias como a de Marina, mães solo, trabalhadores autônomos e responsáveis que precisam conciliar cuidado e sustento, a mudança é sentida no dia a dia.

Leiri Santana, repórter do Folha Vitória
Leiri Santana

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.