O agro capixaba é forte e, aliado à indústria, se transforma em potência. O Espírito Santo produziu cerca de 365 milhões de litros de leite em 2023, com meta de alcançar 700 milhões de litros até 2032. São dados do governo estadual e também relatórios setoriais. E quem está muito de olho nesses números é a Damare.

A maior parte da produção atende ao consumo interno. Ou seja, o setor lácteo capixaba é considerado estratégico para a economia local. Nesse sentido, gera renda e emprego além de também contribuir para o abastecimento interno do Estado. E ainda atua em outros mercados. 

Nesse contexto, a empresa capixaba com mais de 34 anos vai faturar R$ 1 bilhão este ano e se prepara para faturar R$ 1,2 bilhão no ano que vem. Do mesmo modo, a Damare aposta no crescimento não só dos produtos de leite, mas também da consolidação do café conilon no portfólio da empresa. Nesse sentido, as vendas do produto cresceram 200% no último ano. Do mesmo modo, por mês, a produção é de 200 toneladas. Porém, a capacidade é de produzir até 1.000 toneladas mensalmente. 

Além das fronteiras

A empresa capixaba está em 20 estados. Cresceu em média 20% em cada um dos últimos três anos. Atualmente, opera quatro fábricas em três estados: duas no Espírito Santo, uma em Teófilo Ottoni, Minas Gerais, e outra em Muribeca, Sergipe. A matriz, em Montanha, é o centro de produtos refrigerados, como leite, queijos e requeijões, além de concentrar a operação também do café que eu citei agora há pouco. 

Claudio Rezende é diretor-presidente da Damare. Ele afirma que a empresa investiu em tecnologia, se preparou para crescer e agora quer ganhar mais espaço não só no mercado local, como também no mercado nacional.

Veja abaixo a entrevista com Claudio Rezende, diretor-presidente da Damare

A Damare já vai além do leite…

A gente aposta não só no leite, como também no café e principalmente em outro produto que é muito chave, que é o cacau. São os produtos à base de cacau. Ou seja, a gente fez um mix bem amplo para poder enfrentar os segmentos, porque nem sempre o céu é de brigadeiro. Às vezes tem turbulência em um segmento e essa variedade facilita.

A gente vive um momento muito bom do café. Tivemos um 2024 espetacular para o café capixaba e 2025 também está se apresentando muito bom, apesar dessa incoerência de tarifação com os Estados Unidos. Hoje, o café é mais vantajoso que o leite.

Uma indústria tradicional de laticínios dizendo que o café é melhor que o leite. Como você vê isso?

Eu vou fortalecer a minha fala: o bom é ter tudo. Lá no século passado já se falava da política do café com leite. Hoje, quando a gente fala de produção agrícola, o fortalecimento do café está muito grande, principalmente no Norte do Espírito Santo.

O leite não tem crescido da mesma forma. Ou seja, quando a gente fala de capacidade produtiva de matéria-prima, hoje temos muito mais disponibilidade de café do que de leite.

Tem um motivo específico para isso?

Sim. Quando você olha para o produtor, a rentabilidade do café hoje está melhor. Eu já vivi dois ciclos. Nesse sentido, já vi produtor deixar o café para produzir leite e hoje vemos o ciclo inverso: produtor de leite migrando para o café. Isso é cíclico. Ou seja, nada é bom para sempre. Por isso que eu sempre digo: não coloque todos os ovos na mesma cesta. Quanto mais opções você tiver, mais consolidada fica a base.

Como foi a preparação da Damare para sair do ES e ganhar outros mercados?

A Damare nasceu em Águia Branca em 1991. Em 2001, transferimos a sede para Montanha. O primeiro passo fora do Estado veio só em 2017, quando compramos a unidade de Teófilo Ottoni, em Minas Gerais.

Foram 26, 27 anos construindo base. A empresa começou pequena, artesanal. Em 2017, Minas fortaleceu nossa presença na Bahia, Nordeste, Sudeste. Em 2022, inauguramos a fábrica de café em Montanha e adquirimos a unidade de Muribeca, em Sergipe, que começou a operar em 2023.

Hoje temos quatro unidades, cada uma com foco específico, um portfólio com cerca de 90 itens e presença em 20 estados. Além disso, exportamos para a Venezuela, com produção feita em Minas Gerais.

Como foi a decisão de fabricar em outros estados?

Minas foi o primeiro passo por causa da seca severa de 2016 e 2017 no Espírito Santo. Nossa matéria-prima dependia de uma única bacia leiteira. Se acontecia um evento climático ali, o negócio colapsava.

Tomamos duas decisões: buscar uma nova bacia leiteira e pensar em um produto com matéria-prima abundante. Assim surgiu o projeto café. A decisão foi tomada em 2017, a fábrica foi adquirida no início da pandemia e inaugurada em 2022.

Você enxerga novas diversificações no futuro?

O Norte do Espírito Santo hoje é muito rico. Café, pimenta, laranja, milho, soja, leite, corte, eucalipto. O produtor pode escolher o que melhor se adapta à sua propriedade e estilo de vida.

Depois do café, evoluímos muito com o creme culinário, que levou a Damare para o Brasil inteiro. Hoje somos a segunda maior fabricante do Brasil e a única com duas fábricas. Esse produto substitui o creme de leite, usando gordura vegetal da oleína da palma, junto com leite desnatado. É o produto que mais cresce na Damare.

Depois entramos também no cacau: chocolate 50%, achocolatado em pó, bebidas lácteas, Damari Kids. Produtos nutritivos, saborosos e acessíveis.

Quais as particularidades do mercado capixaba?

O mercado capixaba ensina muito porque é muito exigente. As grandes redes demoraram a chegar aqui porque quem já estava trabalhava muito bem.

Hoje, nosso desafio é execução: produto bem apresentado, sem ruptura, boa logística. O papel da Damare não é só entregar mercadoria, é fazer o produto chegar na casa do consumidor da forma mais simples possível.

Como é se desenvolver em um estado tão diversificado?

Depende muito do DNA de cada empresa. O leite já não anda mais sozinho. A diversificação é necessária. Cada empresa precisa entender o que combina com seu negócio e trabalhar isso junto com o leite.

Como você vê o momento econômico do ES hoje?

Tenho muito orgulho de ser uma empresa capixaba. O ES é muito mais preparado do que muitos estados onde atuamos. Isso ajuda a manter nossa matriz aqui.

O empresário precisa de segurança pública, jurídica e tributária. E isso hoje está bem estabelecido no Espírito Santo.

Para onde caminha o agro capixaba?

Nada cresce tanto quanto o café hoje. Porém também temos celulose. O Norte do Estado era visto como o “patinho feio”, por falta de estrutura e clima difícil.

O grande transformador foram as represas. Aprendemos a guardar água. Isso fortaleceu café, mamão, milho, soja. Tudo hoje é irrigação. Ou seja, transformamos uma dificuldade em vantagem competitiva.

E o papel da Damare nesse ecossistema?

Apoiamos o produtor de leite com assistência técnica, veterinária, alimentação, silagem. Também temos uma propriedade própria, que serve como referência tecnológica para os produtores.

A Damare passou por um rebranding. Por que?

Foi um momento especial. O rebranding trouxe nova identidade visual e um novo modelo de comunicação. Queremos inspirar momentos reais em família, valorizar o dia a dia como ele é.

Facilitar a vida do consumidor. As embalagens ficaram mais bonitas, o nome mais forte. Estou muito satisfeito e o consumidor já percebe isso.

E a sucessão em uma empresa familiar?

Hoje minha irmã está à frente comigo e nossos filhos já participam do negócio. Mais importante do que estar junto é se envolver, se emocionar.

Para conduzir esse barco, é preciso amor pelo que se faz. Vejo isso neles, e isso nos dá segurança para o futuro.

Política influencia os negócios?

A gestão é fundamental, seja da empresa, do município, do Estado ou do país. Eleição é importante. Depois de definida, precisamos torcer para dar certo.

Queremos desemprego menor, massa salarial maior, juros menores. Vendemos alimento e precisamos que o consumidor tenha poder de compra.

Onde a Damare quer chegar?

O grande desafio agora é consolidar os passos que demos. Estamos em 20 estados, atendendo do Acre a São Paulo.

Recentemente dobramos a fábrica de Teófilo Ottoni, que passou de 500 mil para 1 milhão de embalagens por dia. Isso exige mercado. O café ainda opera com 20% da capacidade e também vai crescer.

Não temos projeto de abrir novas fábricas agora, mas de consolidar investimentos e fortalecer a marca nos estados onde atuamos.

Recentemente vimos um mapa das principais marcas de alimentos por estado e a Damare apareceu como referência no Espírito Santo. Isso enche de orgulho. É muito bacana ser a indústria de alimentos que representa o Espírito Santo para o Brasil.

Claudio Rezende é diretor-presidente da Damare
Edu Kopernick

Editor de Economia

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.