Saúde

Edu Guedes: O que é câncer de pâncreas? Veja sinais e sintomas

Tumor costuma ser silencioso e só dá sinais em estágios avançados

Veja quais são os sintomas do câncer de Edu Guedes (Foto: Reprodução/@eduguedesoficial via Instagram)
Veja quais são os sintomas do câncer de Edu Guedes (Foto: Reprodução/@eduguedesoficial via Instagram)

O apresentador e chef Edu Guedes fez uma cirurgia neste sábado, 5, como parte do tratamento de um câncer de pâncreas, em São Paulo.

“É um tumor silencioso”, alerta Thiago Jorge, oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “É um dos cânceres que mais tem aumentado no Brasil e no mundo.”

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são estimados cerca de 10.980 novos casos do turno por ano no Brasil entre 2023 e 2025. Em 2020, o País registrou 11.893 mortes pela doença.

O que é o pâncreas?

A Mayo Clinic, uma das instituições médicas mais renomadas do mundo, explica que o pâncreas tem cerca de 15 centímetros e seu formato lembra uma pera deitada de lado.

Ele tem duas funções principais. A primeira é produzir enzimas que ajudam na digestão, particularmente de proteína e gordura — essa é chamada de função exócrina.

O pâncreas também é responsável pela produção de diversos hormônios, especialmente aqueles ligados ao controle do açúcar (glicose) no sangue, como a insulina e o glucagon — a função endócrina.

Quais são os tipos de câncer de pâncreas?

Existem vários tipos de tumores de pâncreas. Os dois mais comuns são:

  • Adenocarcinoma: eles estão relacionados às células que produzem as enzimas digestivas e representam a maioria dos cânceres de pâncreas — as estimativas variam de 80% a 90%. É muito temido por seu comportamento agressivo, de acordo com especialistas.
  • Neuroendócrinos: relacionados às células que produzem hormônios, são subdivididos por grau de agressividade. De maneira geral, são mais comuns os de menos agressividade e o tratamento costuma ser mais fácil.

Quais são os sintomas do câncer de pâncreas?

Não existe sinal ou sintoma cuja presença seja sinônimo de câncer de pâncreas, segundo o Ministério da Saúde.

“A localização do pâncreas é tal que, frequentemente, os tumores crescem bastante antes de causar qualquer sintoma”, explica Paulo Hoff, presidente da Oncologia D’Or.

Além disso, “profissionais de saúde não conseguem sentir o pâncreas durante exames de rotina e é difícil visualizar esses tumores em exames de imagem de rotina”, acrescenta a Cleveland Clinic, uma das principais instituições de saúde dos Estados Unidos.

Com tudo isso, o tumor costuma ser diagnosticado já em fases mais avançadas.

Alguns sinais e sintomas possíveis são:

  • fraqueza;
  • perda de peso;
  • falta de apetite;
  • dor abdominal;
  • urina escura;
  • olhos e pele amarelados (icterícia);
  • náuseas;
  • diarreia;
  • dores nas costas.

O diagnóstico recente de diabetes deve acender um sinal de alerta, de acordo com o Ministério da Saúde.

“Tanto pode ser um fator de risco para o câncer de pâncreas, como uma manifestação clínica que antecede o diagnóstico.”

A icterícia é um sinal importante. Quando o tumor aparece na cabeça do pâncreas, ele pode bloquear o “canal” por onde passa a bile, uma substância produzida pelo fígado. Esse canal se junta ao do pâncreas e leva a bile até o intestino. Se o caminho fica obstruído, a bile se acumula, e a pessoa pode ficar amarelada.

Thiago Jorge comenta que a dor apresentada pela maioria dos pacientes costuma ser descrita como “em faixa”.

“É uma dor na barriga, mas que vai mais para as costas. Pega a faixa da parte superior do abdome.”

Além disso, ele acrescenta que outro sintoma relatado é uma alteração no padrão das fezes, conhecida como esteatorreia — uma diarreia com excesso de gordura. “Às vezes, a pessoa relata que começou a notar nas fezes bolinhas de óleo, ou fezes boiando e desfeitas.”

Prevenção

Ao contrário de cânceres como o de mama e próstata, o de pâncreas ainda não tem um protocolo de prevenção. Atualmente, não há recomendação de exames de rotina para rastreamento da doença a partir de uma certa idade.

Thiago Jorge explica que estimativas apontam que de 10 a 15% dos tumores de pâncreas podem ter uma origem hereditária. Por isso, pessoas que têm histórico da doença na família podem ser submetidas a testes genéticos — que buscam mutações associadas a maior risco — e aconselhadas a fazer ressonâncias periódicas.

Quanto mais cedo diagnosticado o tumor, melhor é o prognóstico do paciente. Isso vale para todos os cânceres.

As melhores esperanças para termos um protocolo preventivo para tumores de pâncreas reside no aprimoramento das biópsias líquidas. São exames que buscam fragmentos de DNA tumoral na corrente sanguínea do paciente.

“Embora esses exames já estejam à venda nos Estados Unidos, o grau de acerto é só de 65%. Ainda tem muito falso positivo e falso negativo. Então não recomendamos o uso desses exames”, diz Hoff.

O papel do estilo de vida

Para a prevenção deste tumor, os médicos e autoridades em saúde recomendam a adoção de um estilo de vida saudável, o que inclui: evitar o tabagismo; alimentar-se corretamente; fazer exercício físico regularmente; e manter o peso corporal na faixa ideal.

Essa última recomendação está intimamente ligada ao que os médicos têm observado nas últimas décadas: aumento dos casos de cânceres de pâncreas — assim como de outros tumores.

Ao passo que um fator de risco clássico, o tabagismo, tem caído na população, a obesidade e o sobrepeso emergiram como uma nova epidemia, que pode explicar essa tendência dentro das neoplasias.

“Provavelmente isso tem a ver com o estilo de vida que temos levado nos últimos tempos”, fala Thiago Jorge.

O tumor de pâncreas costuma aparecer a partir dos 50 anos — especialmente na sétima década de vida —, mas médicos alertam que tem visto casos em pacientes mais novos, já aos 40 anos

Qual o tratamento para o câncer de pâncreas?

O câncer de pâncreas apresenta alta taxa de mortalidade, especialmente por ser diagnosticado em fases avançadas. Embora seja responsável por cerca de 1% de todos os tipos de câncer diagnosticados no Brasil, causa 5% do total de mortes causadas pela doença, segundo o Ministério da Saúde.

Apesar disso, o câncer de pâncreas tem, sim, tratamento, e ele vai depender, claro, do tipo e do estágio no qual for diagnosticado.

Os especialistas comentam que a primeira decisão terapêutica será sobre a possibilidade de realizar uma cirurgia ou não. Essa é a única opção considerada curativa atualmente, de acordo com Thiago Jorge.

Mesmo com uma operação bem sucedida, pacientes como o adenocarcinoma são submetidos à quimioterapia, pois o câncer pode “voltar” — o que não zera o risco, mas diminui bastante, de acordo com os especialistas.

Embora a quimioterapia ainda seja o principal tratamento para a maioria dos casos de câncer de pâncreas, começam a surgir terapias-alvo — medicações desenvolvidas para agir em mutações específicas do tumor —, segundo Thiago Jorge.

No mundo, duas já foram aprovadas: o Olaparibe, indicado para pacientes com mutações no gene BRCA, e o Adagrasibe, voltado a alterações no gene KRAS. No Brasil, apenas o primeiro está disponível, conta o médico.

“A reversão da alta letalidade do câncer de pâncreas é uma questão de tempo, pois o panorama geral é de bastante esperança. O esforço internacional para a personalização de terapias é enorme e logo poderão ser colocadas em prática para diminuir a letalidade do câncer de pâncreas”, comenta João Paulo Fogacci de Farias, oncologista da Oncoclínicas, em material enviado à imprensa.