Café solúvel
Café solúvel

A suspensão das tarifas extras de 40% que os Estados Unidos aplicavam a diversos produtos brasileiros, anunciada na última quinta-feira, trouxe alívio para grande parte do setor cafeeiro. Para o Espírito Santo, grande produtor e exportador, a retirada das tarifas sobre o café verde representa um impulso importante para o fluxo de comércio. No entanto, o cenário não é totalmente favorável. O café solúvel, produto de maior valor agregado e responsável por cerca de 10% das exportações brasileiras para o mercado americano, permanece sujeito à taxação.

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Setor de solúvel segue pressionado e mantém negociações

De acordo com Márcio Cândido Ferreira, presidente do Conselho Nacional dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o café solúvel é estratégico para a economia justamente por gerar emprego e renda.

Temos uma tarefa pela frente: resolver a questão do café solúvel, que continua tarifado não apenas o do Brasil, mas também de outras origens. Já mantive contato com a embaixada do Brasil em Washington, com Brasília e com nossos importadores lá fora. Estamos trabalhando ativamente nessa questão. Costumo dizer que para cada emprego gerado pelo café em grão, três ou quatro são gerados pelo café solúvel, que tem maior valor agregado por ser um produto final acabado”, afirmou.

A Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), em nota, celebrou a reversão das tarifas para outros produtos agrícolas, mas lamentou que o solúvel brasileiro, “um produto de importância histórica e econômica fundamental para ambos os países”, continue submetido à taxa adicional de 40%, que chega a 50% quando somadas tarifas recíprocas.

“Essa situação contrasta com o progresso geral nas negociações bilaterais e representa um desafio contínuo para o setor”, destacou a associação.

Segundo a entidade, os efeitos da medida, vigente desde agosto de 2025, foram severos:

  • Queda abrupta nas exportações: os embarques para os EUA caíram mais de 52% em volume desde agosto, evidenciando o efeito imediato da medida tarifária;
  • Perda de liderança histórica: os EUA sempre foram o maior mercado para o café solúvel brasileiro, uma parceria que remonta à década de 1960. Em 2024, o país respondia por 38% das importações de café solúvel;
  • Impacto financeiro e competitivo: atualmente, os EUA representam cerca de 20% do volume total das exportações brasileiras de solúvel, com receitas anuais de aproximadamente US$ 200 milhões, equivalentes a 800 mil sacas de café. A manutenção da tarifa compromete a competitividade do produto, favorecendo concorrentes de outras origens;
  • Reconfiguração do mercado global: a dimensão do impacto é grande. Inclusive, pela primeira vez, os EUA deixaram de ser o principal destino do café solúvel brasileiro, com a Rússia assumindo essa posição.

A ABICS alerta que a manutenção das tarifas pode gerar perdas irreversíveis:

“A presença no mercado americano é estratégica para o Brasil. Há risco real de substituição permanente por produtos de outros países. Uma vez perdida essa fatia de mercado e a fidelidade do consumidor, a recuperação será extremamente difícil, com prejuízos para toda a cadeia produtiva, dos cafeicultores às indústrias e trabalhadores.”

Impactos para o Espírito Santo

Os Estados Unidos são, historicamente, os maiores compradores das exportações de café do Espírito Santo. Por isso, a manutenção da tarifa sobre o café solúvel preocupa o setor exportador capixaba.

Dados do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV) mostram que, entre janeiro e setembro de 2025, o estado exportou 341 mil sacas de solúvel, queda de 10% no volume, mas aumento de 29,5% na receita, impulsionado pelo preço médio mais alto. Desse total, 36% tiveram como destino os EUA.

Segundo o CCCV, a participação do café solúvel exportado para o Estados Unidos apresentou oscilações ao longo da última década, considerando o período acumulado entre janeiro e setembro de 2015 a 2025. O percentual aumentou entre 2015 e 2016, caiu de 2016 a 2019, voltou a crescer em 2020, recuou novamente entre 2020 e 2022, subiu em 2022 e 2023, caiu em 2023 e 2024 e voltou a apresentar alta em 2025.

A tendência confirma a importância da previsibilidade tributária para manter o fluxo de embarques. Apesar disso, as exportações capixabas de café para os EUA sofreram forte retração geral: após o tarifaço, os embarques de arábica e conilon caíram 54% no comparativo com o mesmo período de 2024. No solúvel, a queda foi menor, mas ainda preocupante.

O vice-governador do Espírito Santo, Ricardo Ferraço, destacou a relevância da retirada das tarifas sobre produtos fundamentais para o estado:

“Foi de fato uma importante vitória e nós precisamos comemorar o fato de o governo norte-americano ter eliminado o tarifaço sobre um conjunto de atividades econômicas e arranjos produtivos que são da maior importância para o estado, pelo tanto que geram de emprego, trabalho, oportunidade e pelo que distribuem de renda.”

Ferraço ressalta ainda que o estado tem condições de ampliar sua competitividade. “A partir de hoje, atividades como o café, que está presente em mais de 60 mil propriedades do estado, a macadâmia, a pimenta e o gengibre não terão mais este tarifaço e poderão escalar o mercado norte-americano com mais competitividade. Mas precisamos continuar atentos, porque segmentos importantes como pescados e o mármore e granito ainda não foram incluídos.”

Mesmo com o avanço, uma lista significativa de produtos permanece taxada pelos EUA: café solúvel, mármore e granito, peixes, mel e itens industriais como máquinas e calçados.

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Stefany Sampaio
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Colunista

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

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