Comunidade quilombola amplia produção de farinha e derivados de mandioca no Norte do Espírito Santo Comunidade quilombola amplia produção de farinha e derivados de mandioca no Norte do Espírito Santo Comunidade quilombola amplia produção de farinha e derivados de mandioca no Norte do Espírito Santo Comunidade quilombola amplia produção de farinha e derivados de mandioca no Norte do Espírito Santo
Cadeia produtiva da mandiocultura em São Mateus (ES)
Cadeia produtiva da mandiocultura em São Mateus (ES)

o norte do Espírito Santo, tradição e inovação caminham lado a lado para fortalecer a mandiocultura, atividade essencial para a economia e identidade cultural de comunidades rurais e quilombolas. Em São Mateus, a comunidade Quilombola Nova Vista mantém viva uma herança de mais de 40 anos no cultivo da mandioca e na produção de farinha, beiju e tapioca.

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“Essa tradição a gente mantém desde o meu bisavô e meu pai. Agora, eu continuo com a minha família”, conta o agricultor José Maria Linhares, que colhe cerca de 2 mil quilos de mandioca por mês com a ajuda dos filhos e da esposa.

O beiju, uma das especialidades da família, é preparado em fornos artesanais com um processo cuidadoso que garante textura crocante e sabor único. “Fazemos primeiro em um forno, depois secamos em outro, para ficar bem torradinho”, explica José. Por feira, eles vendem de 130 a 150 sacolas de beiju a R$ 15 cada.

Assim como em Nova Vista, em Conceição da Barra, a tradição também é mantida, mas agora com o apoio de tecnologias que transformaram o dia a dia dos produtores. Na comunidade de Córrego do Macuco, a produção foi modernizada com a chegada de máquinas, ampliando a capacidade de fabricação de farinha e derivados de mandioca.

“Antes era tudo no braço. Um dia para arrancar, outro para raspar e mais um para prensar. Hoje, com a mecanização, fazemos tudo mais rápido e com menos esforço”, explica Mauro Nascimento, presidente da Associação de Produtores Locais. “Agora, uma pessoa opera todo o processo: tritura, prensa e seca.”

A revolução no campo foi possível graças ao Programa de Incentivo ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Mandiocultura, uma iniciativa lançada em março de 2024 pela Suzano, Fundação Banco do Brasil e o Centro de Desenvolvimento do Agronegócio (Cedagro). Com investimento de R$ 3,1 milhões, o programa beneficia 628 famílias em seis municípios do Espírito Santo e da Bahia — entre eles Aracruz, Conceição da Barra, Alcobaça, Caravelas, Mucuri e Prado.

Na comunidade do Macuco, 14 famílias foram diretamente beneficiadas. A antiga farinheira, antes equipada apenas com um forno a lenha e ferramentas manuais, foi totalmente reformada. Hoje, conta com forno elétrico, extratora mecânica de fécula, peneira elétrica e outros equipamentos que permitem produzir até 1.300 quilos de farinha por dia.

A legalização da farinheira e a melhoria na estrutura também trouxeram mais segurança e renda para os trabalhadores. “É um casamento que deu certo”, afirma Mauro. “Com o apoio da Suzano, conseguimos conquistar parcerias, receber visitas de fora e mostrar nosso trabalho para o mundo.”

Kariny Paiva, da área de relacionamento social da Suzano, destaca que a mandiocultura é essencial para a subsistência e geração de renda das comunidades atendidas. “A falta de estrutura sempre limitou a produção e o acesso ao mercado formal. Agora, com esse investimento, estamos promovendo desenvolvimento sustentável e inclusão social.”

Mais que produtividade, o programa fortalece a identidade cultural das comunidades. “Nasci e cresci com farinha e beiju”, diz Maria Rodrigues, produtora local. “Ver meus filhos e minha comunidade crescerem com isso é maravilhoso.”

Entre fornos e máquinas, o propósito permanece o mesmo: manter as famílias no campo com dignidade, renda e reconhecimento. E para quem, como Mauro e Maria, cresceu vendo a mandioca ser transformada em alimento, o futuro promete ser tão fértil quanto a terra que cultivam.

“É conhecimento, é tradição, é orgulho. Agora, o que a gente faz aqui está indo para fora, sendo valorizado. Isso não tem preço”, finaliza Mauro.

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio

Colunista

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

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