A falta de infraestrutura nos portos brasileiros impediu o embarque de 508.732 sacas de 60 kg de café em julho deste ano – o equivalente a 1.542 contêineres. O levantamento é do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) junto a seus associados.
O volume não exportado representou perda de receita de US$ 196,005 milhões (R$ 1,084 bilhão), considerando o preço médio Free on Board (FOB) de US$ 385,36 por saca de café verde e a cotação média do dólar a R$ 5,5279 no período.
Desse total, o Espírito Santo deixou de embarcar 55.667 sacas, o equivalente a 169 contêineres, via Porto de Vitória. Isso corresponde a 10% da participação nacional e resultou em perdas de US$ 21,452 milhões (R$ 118,584 milhões) para o estado.
De acordo com o Cecafé, a infraestrutura portuária defasada tem provocado constantes atrasos e alterações de escala nos navios que transportam café. “Esse não ingresso de receitas gera elevados prejuízos aos exportadores e reduz o repasse aos produtores brasileiros, já que mais de 90% do valor FOB chega ao cafeicultor”, afirma o diretor técnico da entidade, Eduardo Heron.
Somente em julho, os custos extras com armazenagem, detentions, pré-stacking e antecipação de gates somaram R$ 4,140 milhões. Desde junho de 2024, os prejuízos acumulados já chegam a R$ 83,061 milhões.
O Cecafé tem buscado diálogo com entidades públicas e privadas para buscar soluções emergenciais. Entre as medidas defendidas estão: agilizar os leilões de terminais, ampliar a capacidade de pátio e berço, melhorar acessos aos portos brasileiros e diversificar os modais de transporte, com investimentos em ferrovias e hidrovias.
Heron alerta que a situação pode se agravar no segundo semestre, período de maior embarque de café e de outras commodities. “Sem melhorias na infraestrutura, os atrasos e alterações de escalas, que já impedem a entrada de bilhões em receita no país, tendem a piorar”, projeta.
Raio-X dos atrasos
Segundo o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 51% dos navios – 167 de um total de 327 – sofreram atrasos ou tiveram suas escalas alteradas em julho.
O Porto de Santos, responsável por 80,4% das exportações de café entre janeiro e julho, registrou índice de 65% de atraso ou mudança de escala, chegando a 35 dias de espera. Em Vitória, o índice foi de 29%. Já no Rio de Janeiro, segundo maior polo exportador do produto (15,5% do total), 37% dos navios tiveram alterações, com prazos de até 40 dias.