
Do total de 1,27 milhão de hectares cultivados com café no Brasil, 69% já possuem acesso à conexão 4G ou 5G. É o que aponta um levantamento da ConectarAGRO, associação que acompanha a expansão da conectividade no campo, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Os principais estados produtores de café (Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Bahia) respondem juntos por cerca de 94% da área cultivada no país na safra 2023/24, segundo o IBGE (2025). Por isso, as análises estaduais se concentram nessas regiões. No caso dos municípios, foram considerados apenas aqueles com áreas de cultivo superiores a 10 hectares.
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O levantamento utilizou dados do MapBiomas 2024 para determinar a área cafeeira nacional, e não os números declarados pelos produtores ao IBGE. O método tem limitações, especialmente no bioma amazônico, onde as características naturais dificultam a detecção de lavouras pelo algoritmo. Assim, embora a região seja relevante para a cafeicultura, não foi considerada no estudo. De acordo com o mapeamento do MapBiomas, a área nacional destinada ao café é de 1,27 milhão de hectares, dos quais 876,6 mil têm acesso à internet móvel, resultando em uma taxa de cobertura de 69%.
Já para o IBGE, a área total em produção de café no Brasil em 2024 foi estimada em 1,9 milhão de hectares. O Brasil possui a maior área cafeeira do mundo, com Minas Gerais sendo o principal estado produtor, seguido pelo Espírito Santo. O estado capixaba tem cerca de 402 mil hectares de café em produção, que representam 20,6% da área nacional, com uma participação de 26,3% na produção nacional de café, sendo o maior produtor de café conilon do país.
Conectividade por estado
Em Minas Gerais, maior produtor do país, são 886 mil hectares cultivados, com 67,8% de cobertura digital. O índice abaixo da média nacional se deve, segundo a ConectarAGRO, à grande extensão territorial, ao relevo montanhoso e à predominância de pequenas propriedades, sobretudo nas Matas de Minas e no Sul do estado.
No Paraná, 81,8% dos 34 mil hectares de café estão conectados – o maior índice entre os estados. Em seguida aparece o Espírito Santo, com 79,5% dos 168 mil hectares cultivados cobertos por internet, e São Paulo, com 76,3% dos 119 mil hectares. Esses três estados lideram o ranking de conectividade e apresentam condições mais favoráveis à implementação de tecnologias digitais na produção.
A relação entre área total e área conectada revela disparidades importantes. Estados com maior índice de cobertura, como Paraná, Espírito Santo e São Paulo, contam com estruturas agrícolas mais organizadas, propriedades mais acessíveis logisticamente e maior participação de políticas públicas e investimentos privados – fatores que aceleram a digitalização do campo.
“O Espírito Santo (79,5%), o Paraná (81,8%) e São Paulo (76,3%) apresentam os maiores índices de conectividade, refletindo um cenário mais favorável à implementação de soluções tecnológicas avançadas na produção. Esses estados, com estruturas agrícolas mais organizadas e maior presença de propriedades acessíveis em termos logísticos, vêm liderando a digitalização no campo, o que pode estar associado a políticas públicas regionais, incentivos setoriais e maior investimento privado”, destacou a pesquisa.
Os números evidenciam a relação entre a área total de café e a área de café conectada à rede 4G nos principais estados produtores do Brasil, expressando o percentual de conexão como um indicativo da digitalização da cafeicultura. Esse dado é relevante porque o acesso à conectividade no campo é um fator determinante para a adoção de tecnologias digitais, como agricultura de precisão, monitoramento remoto, sistemas de gestão agrícola, sensores IoT (Internet das Coisas) e ferramentas de rastreabilidade e sustentabilidade, que têm ganhado protagonismo no setor cafeeiro.
Espírito Santo: segundo maior produtor nacional
O Espírito Santo é o segundo maior produtor de café do Brasil, responsável por 22% da área cultivada no país. A cafeicultura é a principal atividade agrícola do estado, presente na maioria dos municípios e responsável por 37% do PIB agropecuário capixaba, segundo o Incaper (2024).
A produção se destaca pela predominância do conilon, cultivado em grande escala no norte, em áreas de clima quente e baixa altitude. Já no sul e nas regiões serranas, prevalece o arábica, produzido em pequenas propriedades familiares que vêm se firmando no mercado de cafés especiais. Essa diversidade geográfica e climática permite ao estado ofertar cafés com perfis sensoriais distintos, atendendo tanto ao mercado interno quanto às exportações.
Para Giuseppe Feitoza, CEO da Ayko Technology – empresa capixaba especializada em cibersegurança, data center, serviços tecnológicos e conectividade -, a transformação digital já é uma realidade no campo e tem permitido que os produtores tomem decisões cada vez mais rápidas e assertivas.

“Tenho acompanhado de perto como a tecnologia vem transformando o campo e acredito que estamos vivendo um novo capítulo da cafeicultura brasileira. O Espírito Santo ocupa uma posição de destaque: é líder no conilon e referência em produtividade no país. Mas, para continuar crescendo, precisamos ir além da tradição e da experiência. É fundamental garantir uma infraestrutura digital sólida e manter a conexão presente em cada etapa da produção”, destacou Feitoza.
Segundo Feitoza, a conectividade deixou de ser um luxo e passou a ser uma ferramenta estratégica para o agronegócio.
“Ela é o que permite que o produtor tome decisões mais rápidas e assertivas, acompanhe o solo e o clima em tempo real e utilize dados para planejar o futuro da lavoura com segurança e eficiência. Quando a tecnologia chega ao campo, ela não substitui o produtor, ela amplia o alcance do seu conhecimento, e é isso que faz a diferença entre reagir aos desafios e se antecipar a eles.”
A Ayko, inclusive, tem atuado em parceria com cooperativas e produtores capixabas. “Temos trabalhado lado a lado com cooperativas e agricultores para desenvolver soluções que respeitam a geografia e a realidade local. Na Ayko, seguimos com o propósito de ajudar o Espírito Santo, e o Brasil, a crescer com inteligência, conectividade e propósito, fortalecendo cada elo dessa cadeia que move o agro”, completou.
Reconhecimentos de origem
O Espírito Santo também se destaca por possuir três selos de reconhecimento que atestam a qualidade e a tradição de sua cafeicultura:
Denominação de Origem (DO) Caparaó – Criada em 2021 pelo INPI, abrange 16 municípios na divisa entre Espírito Santo e Minas Gerais. A região possui 57,4 mil hectares de café, dos quais 53,7 mil (93,5%) estão conectados, o maior índice de conectividade entre as indicações geográficas brasileiras. O diferencial do café do Caparaó está no terroir: solos ricos, altitudes entre 700 e 1.400 metros e práticas tradicionais de agricultura familiar. Pesquisas do Ifes (2013–2015) identificaram perfis sensoriais únicos, reforçados por colheita seletiva e métodos criteriosos de pós-colheita.
Denominação de Origem Montanhas do Espírito Santo – Reconhece a qualidade dos cafés arábicas cultivados entre 700 e 1.200 metros em municípios como Afonso Cláudio, Castelo e Venda Nova do Imigrante. A região possui 56,8 mil hectares, dos quais 45 mil (79,1%) estão conectados, índice que demonstra forte articulação territorial em prol de qualidade e sustentabilidade.
Indicação de Procedência (IP) Conilon Capixaba – Valoriza a tradição e excelência do café conilon, variedade predominante no estado. Municípios como Jaguaré, São Mateus e Linhares concentram a produção, favorecida pelo clima quente e úmido.
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