Foto: Divulgação/ Agência Brasil
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O consumo de café no Brasil, tradicionalmente resiliente mesmo em períodos de alta de preços, registrou retração consistente em 2025. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), entre janeiro e agosto foram consumidas 9,56 milhões de sacas, queda de 5,41% em relação às 10,11 milhões de sacas no mesmo período de 2024.

O segundo quadrimestre (maio a agosto) foi o mais crítico, com 4,89 milhões de sacas comercializadas, recuo de 5,46% frente ao ano anterior. A baixa surpreendeu até em meses que, historicamente, registram maior demanda por conta das temperaturas mais baixas. Em junho, as vendas caíram 3,33% em relação a 2024; em julho, a queda foi ainda mais expressiva: 11,33%.

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Para o presidente da Abic, Pavel Cardoso, o consumo interno foi diretamente afetado pela escalada dos preços internacionais, que chegaram a subir 40% em apenas 15 dias em agosto. Ele lembra que a frustração com a safra de arábica em junho, abaixo do esperado, e a perspectiva de menor produção para 2026, sob influência do fenômeno climático La Niña, ampliaram a pressão.

“Estamos vivendo uma volatilidade. O setor foi surpreendido por uma revisão para cima da safra de robusta em abril, o que inicialmente pressionou as cotações para baixo. Mas quando o arábica não entregou o rendimento esperado e o mercado constatou que a safra total seria menor, os preços dispararam em Londres e Nova Iorque”, disse Pavel durante coletiva de imprensa.

Outro fator citado foi o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, que alterou fluxos de comércio e abriu espaço para concorrentes como Vietnã e Colômbia ampliarem sua participação, elevando ainda mais os diferenciais de bolsa.

Indústria prevê alta de até 15% nos preços nos próximos dias

Com custos elevados e estoques industriais nos menores níveis em anos, as empresas não conseguiram absorver os reajustes. A Abic projeta que o consumidor brasileiro enfrente novos aumentos entre 10% e 15% ainda em setembro.

“Parte vai ser feita em setembro e outra parte já se encontra em negociação e vai de acordo com a política comercial de cada uma das empresas associadas à ABIC com o trade supermercadista”, disse o diretor-executivo da Abic, Celírio Inácio da Silva.

A indústria mantém expectativa de que a safra de 2026 seja recorde, o que poderia trazer estabilidade ao mercado de café. Ainda assim, o fator climático segue como maior risco. “Se o La Niña repetir seu padrão histórico, com temperaturas amenas e chuvas regulares, podemos ter uma safra robusta e menos volatilidade. Até lá, porém, os repasses são inevitáveis”, completou Inácio.

Sazonalidade no consumo

O consumo de café apresentou oscilações importantes ao longo dos últimos meses. Abril de 2024 foi o período de maior volume de vendas de café, enquanto dezembro registrou o menor. Já entre julho e agosto de 2025 houve uma recuperação de 4% nas vendas, segundo o ponto médio, que considera a média do período analisado.

Abastecimento

O abastecimento de matéria-prima, que vinha sendo um desafio até fevereiro de 2025, alcançou normalidade em maio e junho. No entanto, no fim de agosto e início de setembro voltou a apresentar oferta seletiva, indicando dificuldades na obtenção de grãos de qualidade ou de determinadas origens.

Preços por categorias

Em agosto de 2025, os preços médios por quilo no varejo foram: Tradicional/Extraforte (R$ 62,83), Superior (R$ 78,17), Gourmet (R$ 117,92), Especial (R$ 145,17), Descafeinado (R$ 126,17), Solúvel (R$ 252,36), Cápsulas (R$ 413,73) e Drip Coffee (R$ 242,99). 

O maior aumento ocorreu no Solúvel, com alta de 50,59%, seguido pelo Tradicional/Extraforte (48,57%) e Gourmet (46,36%). O café Especial subiu 32,45%, enquanto o Superior teve avanço de 20,34%. Apesar do preço elevado, as cápsulas registraram leve recuo de 1,43% na comparação com agosto de 2024.

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio

Colunista

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.