Um experimento inédito conduzido no município de Venda Nova do Imigrante está mudando a forma como o café conilon/robusta é visto quando o assunto é altitude e baixa temperatura. Coordenado pelo professor Fábio Partelli, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), campus São Mateus, o estudo investiga o comportamento de diferentes genótipos de conilon em uma lavoura experimental a 1.100 metros de altitude. Isso é algo impensável até pouco tempo atrás, já que a cultura é conhecida por sua sensibilidade ao frio.
Acompanhe o Folha Business no Instagram
Experimento testa 25 clones de café conilon em clima serrano
A pesquisa, que envolve 25 materiais genéticos distintos, é fruto de uma parceria entre a Ufes, o Grupo Khas Café e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes). O objetivo é identificar quais cultivares se adaptam melhor ao clima mais ameno da região serrana, tradicionalmente dominada pelo cultivo de café arábica.
“Implantamos esse trabalho há alguns anos justamente para avaliar o comportamento do conilon em condições atípicas para a espécie, com temperaturas mais baixas e em altitudes onde normalmente se cultiva café arábica”, explica Partelli. “Hoje, estamos na quinta colheita, e já conseguimos observar que alguns genótipos têm grande tolerância ao frio, enquanto outros são altamente suscetíveis.”
O objetivo, segundo o professor, é oferecer ao agricultor informações concretas sobre quais clones podem ser plantados com segurança em regiões serranas.
“Conseguimos identificar materiais que, mesmo diante do frio, mantêm produtividade e uma boa coloração, o que mostra que desenvolveram mecanismos fisiológicos de tolerância às baixas temperaturas, semelhantes ao que ocorre no café arábica”, destaca o pesquisador. “Já outros materiais, ao não suportarem o frio, apresentam sinais como degradação da clorofila, porque não criaram mecanismos de adaptação.”
Conilon de altitude: desafios e perspectivas
Partelli ressalta que a proposta é justamente indicar caminhos seguros para o cultivo de conilon de altitude. “É claro que não se trata de plantar qualquer clone em regiões frias. Por isso, nosso trabalho foca em identificar quais genótipos são promissores. Até o fim deste ano, vamos disponibilizar essas informações à sociedade e ao setor produtivo”, adianta.
A área experimental foi implantada em parceria com o Grupo Khas Café, que há anos investe em cafés especiais e em turismo de experiência na região. “Quando viemos para Venda Nova, o professor Fábio pediu uma área para o experimento. Nós temos 500 pés de café conilon plantado. São 25 clones, dos quais de cinco a seis devem ser lançados como cultivares comerciais a partir de janeiro de 2026”, conta Roberta Aguilar, produtora rural e representante do grupo.
Além de contribuir com a pesquisa, o Grupo Khas promove experiências sensoriais e pedagógicas em sua propriedade, através do projeto “Alquimia do Café”. Os visitantes conhecem todas as etapas da produção – do pé à xícara – e vivenciam o universo do café em um ambiente de imersão.
Para Roberta, o estudo é um divisor de águas. “Estamos diante de algo revolucionário. Vamos oferecer ao produtor de regiões frias opções reais para o cultivo de café conilon de qualidade, com boa bebida e boa produção”, destaca.
A expectativa é de que os resultados finais do estudo sejam apresentados à comunidade cafeeira em novembro, durante o Simpósio do Produtor de Conilon, em São Mateus. A iniciativa poderá abrir novas fronteiras para o cultivo do robusta, ampliando as possibilidades para os cafeicultores capixabas.
Leia também:
Com agropecuária em alta, economia capixaba cresce 1,2% em 12 meses, aponta Findes
Sicoob ES amplia em 23% o crédito ao agronegócio na safra 2024/25 e chega a R$ 3,2 bilhões