Polícia

Donos de empresa do caminhão que provocou o maior acidente rodoviário do ES se entregam à polícia

Os irmãos estavam com mandado de prisão em aberto, expedido pela Justiça na última segunda-feira (12)

André Vinicius Carneiro

Redação Folha Vitória

Os donos da empresa Jamarle Transportes, responsável pelo caminhão que provocou o acidente que deixou 23 mortos em junho do ano passado, em Guarapari, se entregaram à polícia na manhã desta quarta-feira (14). Jacymar Pretti, de 63 anos, e o irmão dele, Leocir Braz Pretti, de 49, chegaram por volta das sete e meia da manhã na Delegacia de Delitos de Transito, em Vitória. Os irmãos estavam com mandado de prisão em aberto, expedido pela Justiça na última segunda-feira (12).

Durante a manhã eles foram ouvidos na delegacia e em seguida levados para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória para realizarem os exames antes de serem levados para o presídio. O advogado deles informou que não concorda com a autuação feita contra eles por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Para ele, os dois deveriam ter sido autuados por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Por volta das 13h30 os dois suspeitos foram encaminhados para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarapari. O delegado que está responsável pelo caso e os irmãos não quiseram falar com a imprensa.

Em novembro do ano passado, a Polícia Civil finalizou o inquérito policial. Os irmãos foram autuados por 23 homicídios dolosos qualificados, por motivo torpe, 18 tentativas de homicídio e ameaça e coação a testemunhas. Segundo o delegado Alberto Roque Peres, responsável pela investigação do acidente na época, caso eles sejam condenados, poderão pegar até 54 anos de prisão.

Com o fim do inquérito, a Polícia Civil também pediu a prisão preventiva dos donos da transportadora. Jacimar e Leocir foram presos no dia 24 de agosto, quando a Justiça decretou a prisão temporária de ambos. No entanto, eles foram liberados quando venceu o prazo da prisão temporária.

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Segundo Alberto Roque Peres, os dois estavam atrapalhando as investigações e aliciando testemunhas. "Nós também pedimos a prisão preventiva dos dois indiciados porque, durante o inquérito policial, houve ameaça a uma testemunha e o aliciamento, ou seja, oferecimento de vantagem indevida para que essas pessoas mentissem no processo", ressaltou.

Procurado pela reportagem, o advogado Ludgero Liberato, que representa os irmãos Jacymar e Leocir Pretti, informou que respeita a decisão, mas entende que ela é desproporcional, equivocada e que não encontra suporte na Constituição e no Código de Processo Penal. Por isso, buscará a liberdade de ambos em todas as instâncias. O advogado esclareceu ainda que os irmãos se apresentaram voluntariamente, tão logo souberam da decisão, e que confiam no Poder Judiciário.

O acidente

O acidente em Guarapari aconteceu no início da manhã do dia 22 de junho do ano passado. Uma carreta, um ônibus interestadual e duas ambulâncias, dos municípios de Alfredo Chaves e Jerônimo Monteiro, se envolveram no acidente.

Ao todo, 23 pessoas morreram e 20 ficaram feridas, no "maior acidente rodoviário do Espírito Santo", segundo o secretário de segurança pública, André Garcia.

Carreta com peso ilegal

O peso total da carreta que se envolveu no acidente, na BR 101, em Guarapari, era de 41 toneladas, segundo consta no boletim de ocorrência da polícia Rodoviária Federal, e confirmado pelo inspetor Macedo Miranda. De acordo com ele, eram 11 toneladas a mais que o permitido nas estradas capixabas. Além do excesso de peso, o veículo estava com pneus gastos e esses fatores podem ter contribuído para o acidente.

“Na realidade são informações preliminares, não são informações oficiais da perícia. São dados do boletim de ocorrência que está sendo confeccionado. Nós já tínhamos detectado que os pneus estavam em mau estado de conservação e depois da pesagem foi constatado que a pedra estava com excesso de peso. O peso total deu 41 toneladas, 11 toneladas a mais que o permitido. Vai ser extraída uma multa em relação a isso. Um pneu em mau estado de conservação e um excesso de peso com certeza pode causar um acidente, mas a causa exata vai ser definida pela perícia”, afirmou Miranda.

De acordo com o inquérito policial, finalizado em novembro do ano passado, o caminhão estava em péssimas condições de uso, o que foi determinante para o acidente acontecer.

Segundo o delegado, mesmo sabendo das condições precárias do caminhão, os donos da empresa obrigaram o motorista Nadson Santos Silva, de 30 anos, que morreu na tragédia, a pegar estrada. Além disso, de acordo com as investigações, o veículo transportava uma carga com 13 toneladas acima do permitido.

"O Leocir deu a ordem para o Nadson fazer a viagem com os pneus carecas, com alguns freios, segundo a perícia, sem funcionamento - não é nem ineficiência, é sem funcionamento - com suspensão danificada, com calço, e com velocímetro marcando 20 km/h a menos que a velocidade real. Então todos esses fatores foram a causa determinante para o crime, para a tragédia que ocorreu", ressaltou Roque Peres.

Áudios

Ao longo da investigação, a polícia também interceptou conversas telefônicas entre os donos da transportadora e motoristas que trabalhavam para a empresa. Nos áudios, é possível ouvir os funcionários recebendo ordens para pagar propina a policiais rodoviários federais e policiais militares, para que eles liberassem os caminhões flagrados trafegando de maneira irregular.

"Nós vamos encaminhar [o inquérito] para a Justiça Federal de Minas Gerais, para apurar a corrupção de policiais rodoviários federais que ocorreram ali. Também vamos encaminhar à Policia Civil do Ceará, para que apure a conduta dos policiais militares, sobre a corrupção deles. Inclusive encaminhamos ao Ministério Público do Trabalho, para os crimes contra a organização do trabalho que possivelmente ocorreram, já que há vários indícios, e para a Divisão Fazendária da Polícia Civil, porque também há crimes fazendários identificados durante as investigações", destacou Roque Peres.


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