Polícia

Jovem que invadiu escola de Vitória comprou armas pela internet

Em coletiva de imprensa da conclusão do inquérito nesta quinta-feira (29), a polícia afirmou que, em depoimento, Henrique afirmou que comprou facas, flechas e bestas pela internet

Redação Folha Vitória

Redação Folha Vitória
Foto: Folha Vitória
Arsenal com arco e flecha e facas utilizado por Henrique durante invasão à escola de Jardim da Penha

A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre o jovem que invadiu a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Eber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, na Capital, no dia 19 de agosto deste ano

Na ocasião, Henrique Lira Trad, de 18 anos, atentou contra a vida de estudantes e funcionários da unidade de ensino. Durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira (29), a polícia afirmou que o jovem comprou as armas que utilizou no ataque — facas, flechas e bestas — pela internet.

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Durante a coletiva, a polícia informou que o inquérito foi concluído no dia 16 de setembro. "Verificamos por meio de investigação policial, por meio de serviço de inteligência da DHPM, que ele foi o autor do atentado a escola. Ele teria atentado contra a vida de seis pessoas", afirmou a delegada Fernanda Diniz, adjunta da Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória.

Indícios mostraram que Henrique se baseou e planejou o crime desde 2019, com base no ataque de Suzano. Características, como vestimenta e armas usadas, chamaram a atenção da polícia. Testemunhas afirmaram à polícia que, no dia dos fatos, houve um sumiço do celular do jovem, e informaram que o pai teria danificado esse aparelho.

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Policial militar, o pai de Henrique, Alessandro de Almeida Trad, chegou a ser indiciado pelo crime junto com o filho. Posteriormente, a reportagem do Folha Vitória constatou que o Ministério Público arquivou o inquérito com relação a Alessandro por ausência de justa causa e que, portanto, ele não será réu no caso.

Conforme noticiado pelo Folha Vitória anteriormente, também ficou constatado que Henrique participava de fóruns da deep web para conversar sobre crimes e ataques violentos.

Durante o inquérito, o rapaz foi ouvido e explicou que não tinha a intenção de matar ninguém, mas que provocou a situação porque sofria bullying quando estudava na unidade — o que não foi comprovado durante as investigações.

Henrique disse ainda que gastou cerca de R$ 2 mil para montar o verdadeiro arsenal de armas usado no dia da invasão. Os pais de Henrique também foram ouvidos durante o inquérito. Eles explicaram para a polícia que o rapaz era tranquilo, apesar de introspectivo.

Foto: Reprodução TV Vitória
Escola Eber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha

Segundo a delegada, os pais alegaram que o Henrique tinha comportamento introspectivo e que ele gostava muito de computador, passava tempo na internet. 

Henrique permanece preso preventivamente e foi transferido para o Centro de Detenção Provisória de Guarapari no último dia 21 de setembro. A prisão em flagrante do suspeito foi convertida em preventiva no dia 22 de agosto. 

Passo a passo da invasão

1. Henrique usava chats com demais jovens na “dark web”, setor ainda mais obscuro da “deep web”, que corresponde à parte não indexada da rede mundial de computadores, ou seja, inacessível de maneira geral por meio de navegadores à população em geral;
2. Com o tempo, ele passou a se dedicar à preparação do que seria um massacre à escola Eber Louzada Zippinotti, tendo encontrado na internet o ambiente propício para o amadurecimento da idealização criminosa, aprofundando temas como armas, racismo, nazismo, atentados, morte, bem como à chacina ocorrida na Escola Estadual de Suzano/SP;
3. Já em agosto, logo antes do ataque em Jardim da Penha, o suspeito passou horas jogando um game chamado “Morimyia Middle School Shooting”, que é uma espécie de suspense policial em que o jogador controla uma garota que porta armas e atira em uma escola;
4. Henrique se vestiu completamente de preto;
5. O jovem então coletou as armas que seriam usadas: três bestas, uma faca grande, seis facas ninja, 57 dardos e flechas, três garrafas de coquetel molotov e uma outra com líquido inflamável, isqueiro, fósforo, luvas, máscara personalizada, além do cadeado utilizado para "trancar" a escola e evitar o socorro às potenciais vítimas.
6. Depois de tudo, solicitou um carro de aplicativo, e se dirigiu ao Eber Louzada;
7. Na instituição de ensino, o jovem tentou enganar o porteiro, dizendo que iria a uma reunião. Como foi barrado, acabou pulando o muro da escola;
8. Dentro da instituição de ensino, tentou se dirigir à coordenadora, a quem já planejava matar. Apesar de ter tentado disparar contra ela, a arma falhou. Ela e outro colaborador presente na sala dos professores conseguiram fechar a porta, a qual ele não mais conseguiu abrir, mesmo chutando;
9. Ainda no primeiro andar, o denunciado atirou contra um prestador de serviços do colégio que estava no local, mas errou a mira e o disparo atingiu o muro. Foi então que Henrique foi até o segundo andar, tentar atirar contra crianças;
10. No local, encontrou um menino de dez anos e o ameaçou com uma besta. Apesar disso, a criança conseguiu chutar o objeto, momento em que Henrique o arranhou;
11. Trad se dirigiu até uma sala de aula, mirou e atirou com a besta contra uma professora, atingindo a colaboradora na perna. Em seguida, mirou e atirou contra uma aluna de dez anos de idade, mas novamente o armamento “falhou”;
12. Após novas tentativas, um professor conseguiu finalmente imobilizar o suspeito até a chegada da Polícia Militar. Foi aí que confessou a intenção de matar o máximo de pessoas possível e depois ser morto pelos agentes.

O caso

Henrique invadiu a escola Eber Louzada Zippinotti na tarde de 19 de agosto deste ano. Em vídeos recebidos pela reportagem da TV Vitória/Record TV é possível ver agentes da Polícia Militar contendo o rapaz, que estava vestido inteiramente de preto, deixando-o imóvel no chão.

"Vocês são uns nojentos", declarou o suspeito

Em um trecho do registro, o jovem conta ter sido ex-aluno da escola e a motivação da entrada no local de forma criminosa. Ele também alega que haveria mais um cúmplice com bombas, que estaria por perto. "Fiz isso porque não gosto de vocês, tá entendendo? Eu não gosto de escola, acho que é uma instituição que aliena as pessoas. Vocês são uns nojentos ... (palavrões) e eu odeio vocês", disse. Veja:

Diante da tentativa de ataque, com medo e para se protegerem, profissionais da unidade correram para a sala dos professores e se fecharam lá, passando a avisar aos demais colegas para trancarem suas salas de aula. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana (Semsu) da capital à época.

Um estudante chegou a ter o rosto arranhado e, após a detenção do suspeito, a família foi chamada à unidade de ensino. A mãe da criança foi orientada a registrar um boletim de ocorrência.

Jovem disse que queria matar 7 pessoas e ser morto pela PM

Em depoimento à polícia no dia da invasão, o jovem de 18 anos contou que tinha a intenção de matar 7 pessoas e, em seguida, provocar um confronto com policiais, que acabariam tirando a vida dele. 

Durante abordagem na escola, ele afirmou que havia um cúmplice ao lado de fora, munido com bombas, circulando pela região. Já em depoimento, disse que esta afirmação era falsa.

O jovem responde por seis tentativas de homicídio e lesão corporal. A Polícia Civil ressaltou a importância dos pais prestarem atenção no que os filhos consomem na internet. O caso segue em investigação para saber se outras pessoas participaram da ação criminosa. 

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