As vacinas não apenas nos protegem de doenças infecciosas ou atenuam seus efeitos. Algumas também estão associadas à redução do risco de demência, segundo pesquisas.
“Elas protegem contra infecções potencialmente graves, especialmente em adultos mais velhos, e prevenir isso por si só é fundamental”, diz Avram Bukhbinder, médico no Massachusetts General Hospital, em Boston, que conduziu pesquisas sobre vacinas e risco de demência.
Parece haver também algum tipo de benefício adicional e, no fim das contas, isso só acrescenta mais um motivo para tomar vacinas de rotina.
Avram Bukhbinder, médico
Pesquisas indicam que muitas vacinas podem estar associadas a um risco reduzido de demência. Aqui estão quatro das mais comuns, com as evidências mais fortes.
Vacina contra gripe
Influenza e pneumonia – uma complicação potencial da gripe – estão associadas a cinco doenças neurodegenerativas, incluindo demência e doença de Parkinson, de acordo com um estudo de 2023 que analisou dados de biobancos de mais de 400 mil pessoas.
“Não sei quantas vezes, no mundo adulto, ouvimos: ‘Meu ente querido pegou gripe, ficou no hospital por uma ou duas semanas e nunca mais foi o mesmo’. Como se a pessoa rapidamente declinasse a partir daí”, comenta Bukhbinder.
Muitos estudos descobriram que a vacinação contra gripe está associada a um menor risco de demência no futuro.
Em um estudo de 2022, Bukhbinder e seus colegas no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas em Houston examinaram um grande banco de dados de saúde de mais de 1,8 milhão de adultos com 65 anos ou mais. Eles descobriram que aqueles que receberam pelo menos uma vacina contra a gripe tinham 40% menos probabilidade de desenvolver Alzheimer – a forma mais comum de demência – nos quatro anos seguintes.
Tomar a vacina contra gripe também foi associado a uma redução de 17% no risco de demência em um estudo de 2024 com mais de 70 mil participantes.
Vacina contra herpes-zóster
A vacina contra herpes-zóster tem as evidências mais robustas sobre a redução no risco de demência, com múltiplos estudos em larga escala nos últimos dois anos corroborando os resultados de estudos mais antigos.
Em um estudo de 2025, os pesquisadores acompanharam mais de 280 mil adultos no País de Gales e descobriram que a vacina contra herpes-zóster estava ligada à redução do risco de demência em 20% ao longo de um período de sete anos.
“Pode haver benefícios adicionais além da proteção que a vacina oferece para uma condição específica”, diz Pascal Geldsetzer, professor de medicina na Escola de Medicina da Universidade Stanford e autor principal do estudo. “Portanto, essa é apenas uma razão adicional para se vacinar.”
Uma pesquisa subsequente examinando mais de 100 mil pacientes na Austrália também verificou que a vacinação contra herpes-zóster estava associada à redução do risco de demência.
Se você for elegível (no Brasil, a vacina é recomendada para indivíduos a partir de 50 anos de idade e imunocomprometidos ou pessoas com risco aumentado para herpes-zóster a partir de 18 anos), é importante tomar a vacina independentemente das chances de reduzir o risco de demência. O imunizante reduz a reativação do vírus varicela-zóster, que causa catapora na infância e permanece latente nas células nervosas.
Quando reativado na idade adulta, o vírus se manifesta como herpes-zóster, que se caracteriza por uma erupção cutânea dolorosa e pode, em uma parcela dos pacientes, causar dor crônica e complicações graves.
Vacina contra VSR
O vírus sincicial respiratório, ou VSR, é um vírus respiratório comum que, na maioria das pessoas, pode causar sintomas leves semelhantes a um resfriado, mas em crianças e idosos pode causar infecções graves.
Um estudo recente acompanhando mais de 430 mil pessoas descobriu que a vacina contra VSR estava associada a um risco reduzido de demência ao longo de 18 meses.
(A Sociedade Brasileira de Imunizações recomenda a vacina para idosos a partir de 70 anos, independentemente da existência de comorbidades, e para pessoas de 50 a 69 anos que tenham condições de risco para doença grave pelo VSR, como cardiopatias e diabetes.)
Vacina dTpa
Vários estudos relataram que a vacina contra tétano, difteria e coqueluche, ou dTpa, está associada a um risco reduzido de demência.
Um estudo de 2021 com mais de 200 mil pacientes relatou que idosos que receberam tanto a vacina contra herpes-zóster quanto a dTpa tiveram risco ainda menor de demência em comparação com aqueles que receberam apenas uma das vacinas.
(O Ministério da Saúde recomenda doses de reforço para adultos e idosos a cada 10 anos.)
Como as vacinas podem reduzir o risco de demência
Pesquisas mostram que infecções graves, incluindo gripe, herpes e infecções do trato respiratório, estão ligadas à atrofia cerebral acelerada e ao aumento do risco de demência com o passar dos anos.
“Acreditamos que é o tipo de inflamação sistêmica descontrolada que provavelmente está contribuindo para isso”, diz Bukhbinder. “E é muito provável que eles já tivessem Alzheimer ou outra forma de demência, mas a inflamação estaria levando ao limite.”
Geldsetzer afirma que o vírus varicela-zóster, que causa herpes zóster, tem os vínculos biológicos mais claros porque hiberna em nosso sistema nervoso e pode afetar o cérebro mais diretamente. (Tomar a vacina contra catapora na infância ajuda a evitar que o vírus se instale.)
Embora diferentes vacinas estejam associadas à redução do risco de demência, existem limitações inerentes à forma como as pesquisas foram conduzidas. A ligação é associativa, não causal, porque as pessoas que tomam vacinas podem ser diferentes daquelas que não tomam.
Por exemplo, pode ser que “aqueles que, em média, são mais preocupados com a saúde, têm comportamentos mais saudáveis, sejam os que decidem se vacinar”, explica Geldsetzer. Embora os pesquisadores tentem levar em conta esses fatores de confusão, não é possível filtrar completamente as diferenças nos comportamentos de saúde associadas ao risco de demência.
Mas estudos recentes sugerem uma ligação mais forte entre a vacina contra herpes-zóster e a redução do risco de demência. As pesquisas aproveitam “experimentos naturais” devido às datas arbitrárias que os governos do País de Gales e da Austrália estabeleceram para a elegibilidade da vacina contra herpes-zóster.
Aqueles nascidos imediatamente antes e depois da data de elegibilidade provavelmente não são diferentes e podem ser comparados mais diretamente. E quando são comparados, aqueles que receberam a vacina contra herpes-zóster tiveram menor risco de demência, afirma Geldsetzer, que foi um dos autores dos estudos e está arrecadando fundos para financiar um ensaio clínico randomizado.
Existem duas hipóteses biológicas amplas sobre como as vacinas estão ligadas à redução do risco de demência. As vacinas poderiam reduzir o risco de adoecer e a gravidade da infecção, fatores que têm sido associados ao aumento do risco de demência.
“Eu me sinto confiante de que isso é parte da história, mas não é toda a história”, avalia Bukhbinder.
Outra possibilidade, que não é mutuamente exclusiva, é que a própria vacina poderia ativar o sistema imunológico de uma forma benéfica. A vacinação “pode estar aprimorando ou refinando a resposta do sistema imunológico”, diz Bukhbinder.
Há “boas evidências de que o que acontece fora do cérebro… parece realmente afetar o interior de forma bastante robusta”, complementa.
Outros passos
As vacinas, como todos os tratamentos médicos, podem ter alguns riscos e efeitos colaterais, por isso é importante conversar com seu médico sobre suas necessidades específicas de saúde.
No entanto, “eu diria que, de longe, os benefícios de tomar essas vacinas superam quase incomparavelmente os riscos”, diz Bukhbinder.
Além disso, 45% dos casos de demência podem ser retardados ou prevenidos com mudanças no estilo de vida e no ambiente, de acordo com o relatório de 2024 da Comissão Lancet sobre demência.
Para reduzir o risco de demência e prolongar nossa saúde cognitiva, a pesquisa sugere passos como manter conexões sociais, moderar o consumo de álcool, manter uma pressão arterial saudável e tratar a perda auditiva (como com aparelhos auditivos).
Este conteúdo foi publicado originalmente no The Washington Post. Ele foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.