Criança sorrindo
Imagem: Canva

Por que o diagnóstico ortodôntico precoce é a chave para prevenir problemas e evitar tratamentos mais longos no futuro? Quando pensamos em aparelho ortodôntico, a imagem mais comum é de adolescentes no colégio, sorrindo com bráquetes coloridos. Mas a verdade é que o tratamento ortodôntico pode — e muitas vezes deve — começar bem antes disso.

Grave bem essa informação: você pode reduzir em até 76% a dificuldade do tratamento no futuro levando seu filho ao Ortodontista no momento certo! Vem comigo que te explico tudo:

Crescimento facial na infância

Na infância, é possível identificar problemas de mordida e crescimento facial antes que eles se agravem, e tratá-los de forma muito mais simples.

Essa abordagem precoce recebe o nome de tratamento ortodôntico interceptativo — e precisa ser feita enquanto a criança ainda está na fase de crescimento, aproveitando a possibilidade de corrigir não apenas o posicionamento dos dentes, mas também problemas esqueléticos, como discrepâncias no tamanho ou posicionamento da maxila (osso superior) e da mandíbula (osso inferior).

E os números não deixam dúvida: segundo estudos científicos, o tratamento interceptativo tem potencial de reduzir a complexidade das más oclusões em:

  • Classe I: até 57%
  • Classe II: até 64%,
  • Classe III: até 76%.

Mas calma: vamos traduzir tudo isso para a sua linguagem, para você entender por que isso é tão importante para o sorriso (e para a saúde) do seu filho.

Entendendo as Classes de má oclusão (de forma simples)

A má oclusão é o “encaixe errado” entre os dentes superiores e inferiores. A Ortodontia divide essas más oclusões em três grupos principais:

A) Classe I: Os dentes de cima e de baixo se encaixam de forma correta na base, mas existe desalinhamento, apinhamento (falta de espaço) ou outros problemas associados. É como ter o “molde” certo, mas os “pedaços” dentro dele não estão bem organizados.

B) Classe II: Os dentes de cima ficam mais à frente que o ideal, e/ou a mandíbula (queixo) é mais recuada. Esse tipo de má oclusão pode ter três origens:

Dentária – os dentes superiores estão projetados para frente.

Esquelética na mandíbula – a mandíbula está posicionada mais para trás que o normal.

Esquelética na maxila – o osso da maxila está mais para frente em relação à mandíbula.

Muitas vezes há uma combinação desses fatores, e o tratamento interceptativo durante a fase de crescimento permite atuar também nos componentes ósseos.

C) Classe III: O oposto da Classe II — geralmente, os dentes inferiores ficam mais à frente que os superiores, mas isso nem sempre significa que a mandíbula seja grande ou projetada demais.

Em alguns casos, a mandíbula está bem posicionada, mas a maxila (osso superior) está mais para trás que o ideal.

Em outros, há crescimento mandibular excessivo.

Ou ainda, uma combinação dos dois fatores.

O tratamento precoce pode estimular o avanço da maxila quando necessário, aproveitando o período de crescimento para corrigir a base óssea.

Por que tratar cedo é tão importante?

Durante a infância, ossos e dentes estão em crescimento e desenvolvimento. Isso significa que o ortodontista pode guiar esse crescimento para corrigir problemas estruturais, inclusive esqueléticos, o que é muito mais difícil (e às vezes impossível) de fazer na idade adulta sem cirurgia.

Diagnóstico precoce: o papel da primeira consulta

A Associação Americana de Ortodontia recomenda que a primeira avaliação ortodôntica seja feita por volta dos 7 anos de idade. Isso não significa que toda criança vai usar aparelho nessa fase — mas é o momento ideal para o ortodontista detectar problemas e decidir se é hora de agir ou apenas acompanhar.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Ortodontia segue a mesma linha: diagnóstico precoce = mais chances de resolver problemas com tratamentos mais curtos e menos invasivos.

O acompanhamento é tão importante quanto o tratamento. Mesmo que o tratamento não comece de imediato, o acompanhamento regular desde cedo permite: Monitorar o crescimento dos ossos da face, avaliar o momento certo para intervenção, orientar sobre hábitos e detectar mudanças antes que elas se tornem grandes problemas.

Muitas vezes, pequenas orientações (como corrigir a postura da língua ou incentivar a respiração nasal) já fazem uma enorme diferença no desenvolvimento da mordida. E em alguns casos é necessário o acompanhamento com outros profissionais como Fonoaudiólogo e Otorrinolaringologista.

O impacto na autoestima

Não é só sobre saúde física. Crianças com dentes muito desalinhados ou mordidas visivelmente alteradas podem sofrer bullying e desenvolver baixa autoestima.
Intervir cedo pode melhorar não só a função, mas também a autoconfiança da criança, ajudando no convívio social e escolar.

O tratamento ortodôntico na infância é uma oportunidade de prevenir e simplificar problemas que, no futuro, poderiam exigir longos e complexos tratamentos.
Com potencial de reduzir a gravidade das más oclusões em até 76%, o tratamento interceptativo — quando realizado ainda na fase de crescimento — é uma das ferramentas mais poderosas da ortodontia moderna, pois aproveita o momento em que ainda é possível corrigir discrepâncias ósseas e guiar o desenvolvimento da face.

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Leve seu filho ao ortodontista por volta dos 7 anos. Mesmo que ele não precise de aparelho agora, esse acompanhamento garante que, se for necessário, o momento certo de agir não será perdido.

Porque cuidar do sorriso desde cedo é muito mais do que alinhar dentes — é investir em saúde, função e qualidade de vida.

Dra. Flávia Gama

Colunista

Cirurgiã-dentista. Especialista em Ortodontia. Mestre em Radiologia e Habilitada em Laserterapia. @flaviagama.orto

Cirurgiã-dentista. Especialista em Ortodontia. Mestre em Radiologia e Habilitada em Laserterapia. @flaviagama.orto