Anti-aging
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Nos últimos anos, o termo anti-aging conquistou espaço em farmácias, clínicas de estética, redes sociais e até mesmo em consultórios médicos. Cremes, cápsulas, procedimentos, dietas milagrosas e cirurgias passaram a ser vendidos como instrumentos para “parar o tempo” ou “combater o envelhecimento”.

O discurso é sedutor: quem não gostaria de manter a juventude intacta, a pele lisa e o corpo como se os anos não passassem? No entanto, por trás dessa promessa aparentemente inofensiva, esconde-se uma questão delicada: o preconceito contra a velhice, ou, em outras palavras, o etarismo disfarçado de modernidade.

A negação do envelhecimento

Envelhecer é uma experiência universal. A cada ano, todos avançam na linha do tempo, acumulam histórias, vivências e marcas no corpo. Ainda assim, vivemos em uma sociedade que insiste em negar essa realidade, transformando a passagem do tempo em algo indesejado, quase vergonhoso.

A pressão estética pela juventude eterna não se restringe ao campo da vaidade: ela impõe um peso social sobre quem envelhece, como se os sinais da idade fossem um fracasso pessoal.

O que se vende como anti-aging muitas vezes não é cuidado com a saúde, mas sim o medo de assumir a velhice. E, quando a sociedade impõe esse medo, ela silencia a riqueza que existe em cada fase da vida. Rugas, cabelos brancos e marcas do tempo não são sinais de derrota, mas testemunhos de uma trajetória vivida.

O etarismo escondido nas entrelinhas

O termo “etarismo” descreve o preconceito ou a discriminação contra pessoas em função da idade, especialmente contra os mais velhos. Esse preconceito pode se manifestar de várias formas: desde a exclusão no mercado de trabalho até piadas aparentemente inocentes, passando pela invisibilidade social.

Na lógica anti-aging, esse etarismo aparece de modo sofisticado. Ele não é explícito como um insulto, mas se infiltra em slogans publicitários e recomendações médicas mal direcionadas. Ao sugerir que envelhecer é algo a ser evitado, reforça-se a ideia de que a velhice é um problema a ser resolvido — quando, na verdade, trata-se de uma etapa natural da vida.

É preciso reconhecer: por trás do brilho das promessas do “anti-envelhecimento” está uma visão que coloca a juventude como sinônimo de valor e reduz o idoso a um corpo que precisa ser corrigido.

Pro-aging: uma nova cultura possível

A alternativa a essa lógica não está em negar cuidados. Cuidar da saúde, da pele, da alimentação e do corpo é importante em qualquer idade. Mas há uma diferença entre cultivar hábitos saudáveis e perseguir a ilusão de um corpo eternamente jovem.

O movimento pro-aging defende justamente isso: valorizar o envelhecimento como conquista e não como problema. Cada ruga pode ser entendida como uma marca de experiência; cada cabelo branco, como sinal de tempo vivido. A longevidade deve ser celebrada como vitória coletiva, fruto de avanços na medicina, no saneamento, na qualidade de vida e na ciência.
Enquanto o discurso anti-aging reforça a negação, a proposta pro-aging amplia o horizonte: convida a sociedade a respeitar e dignificar cada fase da vida.

A visão da geriatria

Na prática clínica, a geriatria tem mostrado o quanto essa mudança de perspectiva é fundamental. O objetivo do cuidado não é “parar o tempo”, mas sim garantir que o envelhecimento seja vivido com autonomia, bem-estar e dignidade. Isso envolve prevenção de doenças, promoção da saúde, apoio familiar e social.

Instituições como os hospitais de transição também reforçam essa visão. Neles, o foco não é a juventude perdida, mas a vida que segue — seja na reabilitação após uma internação, na adaptação para uma longa permanência ou no cuidado paliativo. Nessas estruturas, cada fase do envelhecer é tratada como parte legítima do percurso humano, e não como erro a ser corrigido.

Ao colocar o paciente idoso no centro do cuidado, reconhece-se que ele não precisa se encaixar em um ideal de juventude eterna. O que precisa é de suporte, respeito e valorização de sua história.

A pressão estética e seus riscos

A pressão pela juventude eterna não é apenas uma questão cultural ou psicológica. Ela pode trazer riscos concretos para a saúde. Procedimentos invasivos feitos em excesso, dietas desequilibradas, uso indiscriminado de suplementos ou hormônios: tudo isso pode gerar consequências sérias. O desejo de parecer mais jovem, quando ultrapassa os limites do bom senso, pode custar caro — tanto no corpo quanto na mente.

Além disso, esse discurso gera sofrimento emocional. Ao invés de aceitar o próprio corpo como expressão legítima de quem se é, muitas pessoas entram em um ciclo de insatisfação sem fim, sempre buscando corrigir algo, sempre sentindo que estão “fora do padrão”.

Aceitar a vida em sua totalidade

Envelhecer não é um erro a ser corrigido. É, na verdade, o maior privilégio de quem está vivo. Cada ano acrescentado à existência é prova de sobrevivência, de aprendizado e de oportunidades.

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Mais do que combater a idade, é urgente combater o etarismo — mesmo quando aparece mascarado em embalagens sofisticadas de “anti-aging”. O desafio não é negar a velhice, mas aprender a vivê-la com respeito, cuidado e plenitude.

No fim das contas, não há futuro sem envelhecimento. E negar a velhice é, em última análise, negar a própria vida em sua totalidade. Só existe um jeito de não envelhecer, e acredito que ninguém aqui gostaria de experimentar…

Gustavo Genelhu

Geriatra

Médico Geriatra intitulado pela SBGG, Médico Intensivista intitulado pela AMIB e diretor técnico do Hospital Royal, com mais de 20 anos de atuação

Médico Geriatra intitulado pela SBGG, Médico Intensivista intitulado pela AMIB e diretor técnico do Hospital Royal, com mais de 20 anos de atuação