
Artigo escrito por Márcio Almeida, médico e CEO da Bluzz Saúde
Nos últimos anos, o termo Blue Zone passou a despertar grande interesse entre pesquisadores e profissionais de saúde. Ele se refere a regiões do planeta onde as pessoas vivem mais – e, sobretudo, vivem melhor. Nesses lugares, a longevidade não é apenas uma questão de genética, mas o resultado de um estilo de vida equilibrado, ativo e socialmente conectado.
As cinco Zonas Azuis originais – Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Loma Linda (EUA), Nicoya (Costa Rica) e Icária (Grécia) – têm em comum hábitos e valores que sustentam uma vida longa e saudável.
Agora, uma nova candidata está chamando a atenção da ciência: a região de Ostrobótnia, na Finlândia, que pode se tornar a próxima Blue Zone reconhecida no mundo.
Os pesquisadores que estudam Ostrobótnia — incluindo as áreas bilíngues e as ilhas Åland – observam ali um fenômeno curioso: uma população com alta expectativa de vida, uma proporção significativa de idosos ativos e uma cultura fortemente baseada em hábitos saudáveis.
A alimentação equilibrada, a prática constante de atividades físicas e o senso de comunidade são pilares da vida cotidiana.
Esses fatores não são apenas coincidências. Eles se repetem nas outras Blue Zones, o que demonstra que longevidade é, em grande parte, uma construção social e comportamental.
Em Okinawa, por exemplo, os centenários seguem o princípio do hara hachi bu – comer até estar 80% satisfeito —, uma prática simples, mas poderosa para evitar excessos.
Na Sardenha, o terreno montanhoso mantém as pessoas em movimento, enquanto o convívio comunitário é parte essencial da rotina.
Já em Loma Linda, os adventistas do sétimo dia vivem em média 10 anos a mais do que o restante dos americanos, resultado de uma dieta rica em vegetais e um estilo de vida disciplinado.
Em Nicoya, na Costa Rica, a combinação de propósito de vida, alimentação tradicional à base de milho, feijão e abóbora, e a proximidade entre gerações cria um ambiente de bem-estar coletivo.
E em Icária, na Grécia, o ritmo desacelerado, a dieta mediterrânea e as relações sociais fortalecidas fazem com que as doenças crônicas apareçam muito mais tarde.
Quando olhamos para Ostrobótnia, percebemos que esses elementos se repetem. A dieta local é rica em peixes, grãos integrais e vegetais; as pessoas se deslocam de bicicleta ou a pé; e a vida em comunidade é valorizada – todos se conhecem, se apoiam e participam de atividades coletivas.
Essa conexão social tem um impacto profundo sobre a saúde física e mental, reduzindo o estresse e fortalecendo o sistema imunológico.
Acreditamos exatamente nesse conceito: o cuidado não é apenas tratar doenças, mas criar as condições para que as pessoas vivam com mais vitalidade, propósito e bem-estar.
O exemplo das Blue Zones mostra que saúde é o resultado de um conjunto de escolhas – individuais e coletivas – que formam uma cultura de longevidade.
O que podemos aprender com Ostrobótnia e as demais Blue Zones é que não há segredo complexo por trás de viver mais. O caminho está em práticas simples e sustentáveis: comer bem, se movimentar todos os dias, cultivar vínculos afetivos e ter um propósito que nos faça levantar com entusiasmo todas as manhãs.
Essas comunidades provam que longevidade não é um privilégio, mas uma conquista que nasce do equilíbrio entre corpo, mente e relações humanas.
Ao olharmos para o futuro, a verdadeira inovação em saúde estará em resgatar essa sabedoria – e aplicá-la em nosso cotidiano, nas empresas, nas cidades e nos sistemas de cuidado.
Talvez a próxima Blue Zone não precise estar em um ponto remoto do mapa, mas sim dentro de cada comunidade que decide viver de forma mais consciente, conectada e saudável. Esse é o desafio – e também o convite — que Ostrobótnia nos traz.
