Imagem: Freepik
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A busca por um sorriso alinhado deixou de ser apenas uma questão estética e passou a se relacionar com bem-estar, autoestima e saúde. Cada vez mais pessoas procuram tratamentos ortodônticos, e junto a essa procura surge uma dúvida muito comum: é melhor usar aparelho fixo ou alinhadores transparentes?

Embora ambos tenham a mesma finalidade — movimentar os dentes para posições mais adequadas — eles fazem isso de maneiras diferentes e oferecem experiências distintas ao paciente. O que a ciência mostra hoje pode ajudar na escolha.

Eficácia

Os aparelhos fixos, compostos por bráquetes e fios, são utilizados há décadas e têm um histórico sólido de eficácia. Eles são especialmente úteis em casos mais complexos, como quando é necessário corrigir mordidas muito profundas, fechar grandes espaços ou girar dentes que estão bastante desalinhados. Nessas situações, o controle direto do fio sobre o dente permite ajustes muito finos ao longo do tratamento.

Um estudo publicado no Angle Orthodontist (2022) reforça essa ideia, destacando que o aparelho fixo ainda é considerado o tratamento de referência quando precisamos de grande precisão biomecânica.

No entanto, o avanço da tecnologia mudou o cenário. Os alinhadores transparentes, antes restritos a correções mais leves, evoluíram por meio de softwares de planejamento virtual. Hoje, o ortodontista consegue simular o movimento dos dentes antes mesmo de iniciar o tratamento, prevendo etapas e ajustando o planejamento de forma personalizada. Isso trouxe maior previsibilidade em muitos casos.

A literatura mostra que os alinhadores podem ser muito eficientes para apinhamentos leves a moderados, que é quando há falta de espaço na arcada e os dentes ficam “amontoados” ou aparentando estarem tortos por estarem competindo por espaço. Uma revisão publicada no Journal of Clinical Orthodontics (2021) confirma bons resultados em correções desse tipo, desde que o planejamento seja adequado.

Higiene bucal

Outro aspecto que diferencia os dois métodos é a higiene bucal. No aparelho fixo, o fio e os bráquetes dificultam a limpeza, facilitando o acúmulo de placa bacteriana. Essa placa pode causar gengivite, manchas brancas no esmalte e até cáries. Já no caso dos alinhadores, como podem ser removidos, o paciente consegue escovar e usar o fio dental sem obstáculos.

Uma revisão sistemática publicada na BMC Oral Health (2023) concluiu que usuários de alinhadores tendem a apresentar menor inflamação gengival, especialmente quando mantêm boa rotina de higiene. Isso é um ponto importante para quem já tem tendência a gengivite.

Conforto

O conforto durante o tratamento também costuma ser diferente. Nos aparelhos fixos, quando o ortodontista aperta o fio ou troca por um fio mais rígido, ocorre um aumento de força sobre os dentes, gerando dor por alguns dias.

Já os alinhadores aplicam forças mais constantes, com trocas periódicas feitas pelo paciente. Um estudo publicado no European Journal of Orthodontics (2020) mostrou que pacientes que utilizam alinhadores relatam menos dor no início de cada etapa, o que pode contribuir para uma experiência mais confortável ao longo do tratamento.

Tempo de tratamento e adaptação

Entretanto, quando falamos de tempo de tratamento, a ciência aponta que o resultado depende muito do comportamento do paciente. Uma meta-análise recente publicada em Progress in Orthodontics (2022) concluiu que, em casos leves a moderados, o tempo total pode ser muito semelhante entre alinhadores e aparelhos fixos, desde que o alinhador seja usado entre 20 e 22 horas por dia, todos os dias.

Isso revela um ponto crucial: os alinhadores exigem disciplina. Se o paciente esquece de usar, remove com frequência ou usa menos horas, o tratamento se prolonga. Já o aparelho fixo está sempre ativo, independentemente da colaboração.

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Outro aspecto importante é a adaptação ao estilo de vida. Pessoas que praticam esportes de contato, falam muito em público ou que têm maior preocupação estética tendem a preferir os alinhadores, por serem discretos.

Já indivíduos que têm rotina irregular, que podem esquecer de recolocar o alinhador ou que não querem se comprometer com disciplina rígida acabam se adaptando melhor ao aparelho fixo. Ou seja, o perfil do paciente também influencia no sucesso do tratamento.

Afinal, qual o melhor método?

Em resumo, a ciência atual mostra que os dois métodos são eficazes, mas cada um tem um papel mais adequado dependendo da necessidade:

  • Aparelho fixo é forte candidato para casos complexos, que exigem controle total do movimento.
  • Alinhadores são eficientes em apinhamentos leves a moderados, favorecem higiene, melhoram o conforto e têm resultado previsível quando usados corretamente.

Portanto, a escolha não deve ser feita apenas com base na aparência do aparelho ou na recomendação de amigos. A decisão deve partir de uma avaliação criteriosa feita pelo ortodontista, que analisará a mordida, a posição dos dentes, a necessidade estética e principalmente o comportamento esperado do paciente durante o tratamento.

No fim, o melhor aparelho é aquele que funciona bem para o seu caso, é confortável para sua rotina e conduz a um sorriso saudável e estável ao longo dos anos.

Dra. Flávia Gama

Cirurgiã-Dentista

Cirurgiã-dentista. Especialista em Ortodontia. Mestre em Radiologia e Habilitada em Laserterapia. @flaviagama.orto

Cirurgiã-dentista. Especialista em Ortodontia. Mestre em Radiologia e Habilitada em Laserterapia. @flaviagama.orto