*Artigo escrito por Iolanda Lemos, mestre em Cirurgia Bucomaxilofacial
A enxaqueca é uma das condições neurológicas mais incapacitantes da atualidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ela ocupa o segundo lugar no ranking mundial de doenças que mais causam perda de qualidade de vida. No Brasil, cerca de 30 milhões de pessoas convivem com esse problema, sendo a maioria mulheres em idade produtiva.
Muitos desses casos têm uma origem menos conhecida: a Disfunção Temporomandibular (DTM), uma alteração na articulação da mandíbula que pode estar diretamente ligada a dores de cabeça crônicas.
O que é a enxaqueca?
A enxaqueca é uma dor de cabeça de intensidade moderada a severa, geralmente pulsátil, que acomete um dos lados da cabeça.
Pode durar de algumas horas até três dias, frequentemente acompanhada de sintomas como náuseas, vômitos, fotofobia (sensibilidade à luz) e fonofobia (sensibilidade ao som).
Afeta mais as mulheres por influência hormonal, especialmente entre os 20 e 50 anos, e é uma das principais causas de afastamento do trabalho.
A DTM como fator desencadeante
A DTM é uma disfunção que envolve a articulação temporomandibular (ATM), os músculos da mastigação e estruturas associadas. Ela pode causar ou potencializar dores de cabeça que muitas vezes são diagnosticadas erroneamente como enxaqueca pura.
Pacientes com DTM relatam dores que começam na região da mandíbula ou ao redor do ouvido e que irradiam para a cabeça. Esse padrão é facilmente confundido com crises migranosas.
Como identificar uma possível relação entre enxaqueca e DTM?
Os seguintes sinais podem indicar que a dor de cabeça tem origem na DTM:
- Dor que começa na mandíbula, ouvido ou têmporas e irradia para o crânio;
- Estalos ou travamentos ao abrir ou fechar a boca;
- Dor ou fadiga ao mastigar ou falar por longos períodos;
- Sensação de peso na face ou dor que piora ao final do dia.
O diagnóstico deve ser feito por profissionais capacitados, como cirurgiões bucomaxilofaciais, que possuem conhecimento aprofundado sobre a anatomia da ATM e suas disfunções.
Tratamento e qualidade de vida
O tratamento da DTM é multifatorial e pode incluir placas oclusais, fisioterapia, controle do bruxismo, ajustes oclusais, medicações e técnicas de relaxamento muscular. Em alguns casos, também é necessário acompanhamento psicológico.
É fundamental entender que quando a DTM e a enxaqueca coexistem, o tratamento deve ser conjunto. Tratar uma e ignorar a outra pode limitar os resultados.
O que evitar durante as crises?
Durante episódios de dor, é importante evitar comportamentos que agravam a tensão na região da mandíbula. É recomendado:
- Não mascar chicletes;
- Evitar alimentos duros ou pegajosos;
- Corrigir posturas inadequadas, principalmente ao dormir ou trabalhar;
- Redobrar o cuidado com o apertamento dental involuntário (bruxismo).
Com o diagnóstico correto e um plano de tratamento individualizado, o paciente pode experimentar uma melhora significativa — e, em muitos casos, a completa remissão das dores.