
A boca abriga uma comunidade de microrganismos que, em condições normais, convivem bem conosco. Em algumas situações, porém, parte dessas bactérias pode entrar na corrente sanguínea — o que chamamos de bacteremia.
Isso não é novidade para a ciência e, na maioria das pessoas saudáveis, é transitório e inofensivo. O importante é saber quando o risco existe de verdade, e como preveni-lo.
Bacteremia: quando e como acontece
Pequenos sangramentos na gengiva abrem “portas” temporárias para bactérias entrarem no sangue. Isso pode ocorrer:
- Quando há gengivite e/ou doença periodontal ao escovar os dentes ou passar o fio dental;
- Durante procedimentos odontológicos que manipulam gengiva ou raiz (ex.: extrações, raspagens profundas). Por isso que seu dentista faz a prescrição de uso de antibiotico profilatico antes desses tipo de procedimentos;
- Em traumas bucais (morder algo muito duro, fraturar uma raiz, acidentes).
Quem realmente precisa de atenção extra
Em pessoas saudáveis, o próprio sistema imune dá conta do recado. Já em grupos de alto risco, a bacteremia pode levar a complicações, especialmente:
- Endocardite infecciosa (infecção do revestimento/valvas do coração) em quem tem certas doenças cardíacas ou próteses valvares; para esses pacientes, diretrizes atuais recomendam profilaxia antibiótica antes de alguns procedimentos que manipulam gengiva/raiz;
Observação importante: para próteses articulares, a diretriz da American Dental Association não recomenda antibiótico de rotina antes de procedimentos dentários, pois a associação causal com infecção da prótese não foi demonstrada
- Imunossuprimidos (quimioterapia, transplante, imunodeficiências) e algumas cirurgias recentes.
Bruxismo e excesso de força: fraturas são reais
Aqui não há mito: bruxismo (ranger/ apertar os dentes), seja ele noturno ou diurno, pode causar trincas e fraturas, além de desgaste e sensibilidade.
A prevenção inclui diagnóstico profissional, placa oclusal sob medida e controle de fatores que agravam o hábito.
Gravidez: parto prematuro e baixo peso — qual é a ligação?
A doença periodontal (inflamação das gengivas/tecidos de suporte) está associada a maior risco de parto prematuro e baixo peso ao nascer.
Meta-análises apontam um aumento significativo de risco; ao mesmo tempo, ensaios clínicos sobre tratar periodontite durante a gestação mostram resultados positivos quanto a reduzir esses desfechos. Ou seja, cuidar da saúde periodontal na gestação é SEMPRE recomendado.
Demências: o que a ciência já viu
Há evidências consistentes de associação entre periodontite crônica e maior risco de declínio cognitivo/demência (inclusive Alzheimer).
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O provável elo é a inflamação sistêmica crônica e, em alguns estudos, a presença de patógenos periodontais em tecidos do sistema nervoso. Associação não é causalidade, mas o recado prático é claro: boa saúde gengival pode fazer parte de um estilo de vida protetor.
O que levar para casa
- Bacteremias de origem bucal existem, mas costumam ser transitórias e sem consequências em pessoas saudáveis
- Grupos de alto risco (algumas cardiopatias/valvas, imunossuprimidos) seguem protocolos específicos; converse com seu dentista e seu médico.
- Bruxismo/fraturas dentais são riscos reais e comuns — procure avaliação e proteção com placa quando indicado.
Saúde periodontal importa: está associada a parto prematuro/baixo peso e, em estudos recentes, a demência; manter gengivas sadias é investimento em saúde geral.