Com a proximidade do verão, muitos insetos se reproduzem com maior velocidade, entre eles os mosquitos. O aumento das temperaturas esperado para os próximos meses tem deixado em alerta especialistas e pesquisadores que estudam a febre do Oropouche no Espírito Santo.
Desde 2024, o Estado tem sido o epicentro do avanço da doença. Para se ter uma ideia, neste ano, o Brasil registrou 11.977 casos da febre do Oropouche. Desse total, 6.323 casos estão só no Espírito Santo. Ou seja, o Estado concentra mais da metade do número total de casos da Febre do Oropouche no País. Os dados são do Painel Epidemiológico do Ministério da Saúde.
A epidemiologista Ethel Maciel, que participa de pesquisas sobre a doença no Estado, reforça que a época de calor é um momento de atenção, pois há a possibilidade de aumento de casos da febre.
Temos essa preocupação com a aproximação do verão. A gente já espera um aumento de casos nesse período, pois tivemos essa epidemia de 2024 e em 2025 temos visto um aumento de casos. Se a gente pensar que o Brasil tem hoje aproximadamente 12 mil casos da doença e mais de 6.300 só aqui no Espírito Santo, isso significa que o Estado virou um epicentro da epidemia de Oropouche no Brasil.”
Ethel Maciel, epidemiologista
Alfredo Chaves viveu epidemia em 2024
Uma das causas levantadas pelos especialistas para que o Estado seja o epicentro da doença é o fato de o mosquito transmissor da doença, conhecido como maruim, se reproduzir em matéria orgânica acumulada, especialmente em plantações de banana.
Grande produtor da fruta, o município de Alfredo Chaves viveu uma epidemia da doença em 2024. Dos 5.533 casos registrados no Espírito Santo no ano passado, 1.246 foram em Alfredo Chaves. Este ano, o panorama mudou, e o município registrou apenas 43 casos, contra mais de 6 mil no Estado. Os dados locais são da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
O subsecretário estadual de Saúde do Espírito Santo, Orlei Cardoso, explicou que em 2025 os casos da doença estão mais pulverizados entre os municípios capixabas, mas que Alfredo Chaves, pela epidemia vivida em 2024, se tornou um centro nacional das pesquisas relacionadas ao mosquito maruim e à Febre do Oropouche.
O maruim encontrou condições muito propícias para se reproduzir aqui no Estado e no município de Alfredo Chaves, principalmente as condições climáticas e as características rurais, como as plantações de banana e café, que propiciam a produção de muita matéria orgânica, que permanece úmida mesmo quando tem pouca chuva. Há essa hipótese de aumento de casos no verão, mas ainda estamos avaliando a situação porque o aumento de casos é muito recente.”
Orlei Cardoso, subsecretário estadual de Saúde do Espírito Santo
Pesquisa estuda inseticidas
A febre do Oropouche até pouco tempo era restrita à região amazônica, mas diante da proliferação da doença pelo País e da recente concentração no Espírito Santo, o Ministério da Saúde escolheu Alfredo Chaves como local-sede para o início de um projeto pioneiro de controle da doença, desenvolvido em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o governo do Estado e a prefeitura da cidade.
De acordo com a Prefeitura de Alfredo Chaves, a iniciativa ganhou relevância e já desperta interesse da comunidade científica internacional, “posicionando o município no centro de um estudo que pode definir protocolos globais para conter a disseminação do vírus”, diz nota enviada.
A área escolhida para os experimentos em Alfredo Chaves foi o Quarto Território, região com alta concentração de maruins – insetos transmissores do vírus. As ações de curto prazo tiveram foco nos maruins adultos, responsáveis pelas picadas em humanos.
“Para combatê-los, pesquisadores utilizaram inseticidas já empregados no controle do mosquito da dengue. Após testes em laboratório comprovarem a eficácia do produto, ele foi aplicado em campo de três formas diferentes, em ciclos semanais, durante cerca de 80 dias”, explica a prefeitura.
A expectativa é que os dados subsidiem regras claras e seguras para o controle dos maruins em áreas rurais do Brasil e fora dele. Já as ações de médio e longo prazo concentram esforços em impedir que os maruins cheguem à fase adulta. Para isso, armadilhas foram instaladas em plantações de banana no Quarto Território, monitoradas quinzenalmente.
O objetivo é mapear os locais de maior reprodução dos insetos e, a partir daí, testar substâncias capazes de eliminar as larvas sem causar desequilíbrios ambientais.
“A pesquisa exige tempo, cautela e integração entre diferentes áreas da ciência, mas especialistas acreditam que os resultados obtidos em Alfredo Chaves serão fundamentais para a formulação de estratégias internacionais de enfrentamento da febre do Oropouche, uma doença que deixou de ser amazônica e passou a ser uma preocupação global”, destaca a prefeitura.
O subsecretário de saúde acredita que em janeiro de 2026 a pesquisa já estará concluída e o inseticida já deve estar disponível para utilização da população.
Cuidado maior com grávidas
Outra preocupação dos especialistas é a transmissão vertical do Oropouche, que é quando a doença é transmitida da mãe para o feto durante a gestação. A Sesa emitiu uma nota técnica orientando os serviços de saúde sobre como lidar com casos suspeitos e confirmados de Oropouche em grávidas e recém-nascidos.
Casos suspeitos de transmissão vertical da febre são estudados no Brasil. Entre os casos confirmados, está um óbito fetal em Pernambuco e um bebê com anomalias congênitas, como microcefalia, no Acre, que veio a óbito com 47 dias de vida. Ambos os casos foram em 2024.