chatGPT como terapeuta
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Nos últimos anos, a popularização da inteligência artificial trouxe mudanças profundas na forma como nos relacionamos com a informação, com o trabalho e até com nossas emoções. Uma cena cada vez mais comum é encontrar pessoas que recorrem ao ChatGPT — ferramenta criada para conversar e oferecer informações — em busca de apoio emocional, conselhos e até mesmo como substituto de uma psicoterapia.

Esse fenômeno levanta uma reflexão importante: o que leva tantas pessoas a procurarem na máquina aquilo que, tradicionalmente, buscariam em um consultório?

Acessibilidade e anonimato

Um dos fatores mais evidentes é a acessibilidade. Enquanto marcar uma consulta com um psicólogo exige tempo, deslocamento, investimento financeiro e até enfrentamento de preconceitos, conversar com o ChatGPT é imediato e gratuito (ou de baixo custo).

O anonimato também atrai: não há medo de julgamento, exposição ou constrangimento. Muitas pessoas encontram na IA um espaço seguro para “desabafar” sem receio das consequências sociais.

A sensação de escuta

Outro ponto relevante é a sensação de ser ouvido. Embora não substitua o vínculo humano, o ChatGPT é programado para responder de forma empática e estruturada. Isso pode gerar alívio em momentos de angústia, especialmente quando alguém se sente sozinho ou sem rede de apoio.

Em um mundo acelerado, onde nem sempre há tempo ou disponibilidade de amigos e familiares para ouvir, a máquina se torna uma companhia constante.

Limites importantes

Apesar de oferecer conforto, é fundamental reforçar que o ChatGPT não é psicoterapia. Ele não possui a experiência clínica, a escuta qualificada e o olhar humano necessários para lidar com complexidades emocionais.

A psicoterapia envolve a construção de vínculo, compreensão profunda da história de vida, elaboração de estratégias de enfrentamento e acompanhamento do processo de mudança. Nenhum algoritmo consegue substituir a singularidade do encontro humano e a ética profissional que sustentam o trabalho do psicólogo.

Reflexo da nossa sociedade

O crescimento dessa prática também revela um cenário social: ainda enfrentamos barreiras de acesso à saúde mental.

Seja por questões financeiras, pela escassez de profissionais em algumas regiões, pelo estigma que ainda ronda a terapia ou pelo imediatismo da vida moderna, muitas pessoas acabam buscando atalhos digitais para lidar com dores emocionais. O ChatGPT, nesse sentido, funciona como um “espelho” das nossas carências coletivas.

Caminho complementar

Isso não significa que a tecnologia seja vilã. Pelo contrário, quando bem utilizada, pode ser uma aliada: organizar pensamentos antes de uma sessão, buscar informações sobre saúde mental, encontrar recursos de autocuidado ou até incentivar alguém a procurar ajuda profissional.

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O risco está em acreditar que a interação com a máquina pode substituir o cuidado humano.

Conclusão

O fato de tantas pessoas recorrerem ao ChatGPT para questões emocionais mostra, ao mesmo tempo, a força da tecnologia e a urgência de ampliarmos o acesso à saúde mental. É um alerta para a sociedade: precisamos falar mais sobre emoções, reduzir o estigma da terapia e garantir que o cuidado psicológico esteja ao alcance de todos.

No fim das contas, a IA pode até oferecer palavras de conforto, mas é no encontro humano — cheio de falhas, afetos e olhares — que nasce a verdadeira possibilidade de transformação.

Psi. Renata Bedran

Colunista

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran