Imagem: Freepik
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Durante o brincar, o cérebro ativa áreas responsáveis por atenção, planejamento, linguagem, criatividade, regulação emocional e resolução de problemas. É como se cada brincadeira fosse uma “academia” para as funções executivas — aquelas habilidades que ajudam a criança a pensar antes de agir, lidar com frustrações, tomar decisões e se adaptar aos imprevistos. Todas elas são essenciais para a vida escolar, social e emocional.

E isso acontece porque o brincar cria um ambiente seguro para experimentar o novo. É no faz-de-conta que a criança testa papéis sociais, simula conversas, organiza histórias e cria narrativas próprias.

É ali que ela treina empatia (“meu boneco está triste, vou cuidar dele”), flexibilidade (“agora mudei de ideia, vou ser a professora”), e resolução de conflitos (“não tem cadeira pra todo mundo, vamos inventar outra”). Em cada uma dessas pequenas escolhas, o cérebro aprende algo valioso.

Brincar melhora conexões neurais

Do ponto de vista biológico, o brincar estimula a produção de BDNF — uma proteína que favorece neuroplasticidade, melhora conexões neurais e fortalece áreas envolvidas na memória e no aprendizado. É como um fertilizante natural para o cérebro em desenvolvimento.

Brincar também reduz cortisol, ajuda na autorregulação e prepara o sistema nervoso para lidar com emoções mais complexas.

E o melhor: não precisa de brinquedos caros.

O cérebro não está interessado na marca da boneca ou na tecnologia do carrinho — ele quer experiência. Ele quer fluxo, novidade, imaginação. Uma caixa de papelão vira casa, foguete ou navio; uma colher vira microfone; uma toalha vira capa de super-herói. Esses objetos simples ampliam criatividade, pensamento simbólico e autonomia, porque deixam espaço para a criança inventar.

O brincar livre também tem um papel importante no desenvolvimento da atenção. Em um mundo cheio de estímulos digitais, telas rápidas e informações constantes, a brincadeira desacelera. Ela cria o que chamamos de “atenção sustentada natural”, em que a criança fica absorvida numa tarefa porque está engajada, não porque está sendo bombardeada por estímulos.

Esse tipo de atenção é essencial para a aprendizagem escolar — e está cada vez mais raro.

Outro ponto fundamental: brincar com outras crianças fortalece habilidades sociais. A criança aprende a negociar, esperar a vez, lidar com frustrações e construir acordos. Esses microprocessos exigem autocontrole, linguagem, empatia e flexibilidade cognitiva. É quase como uma simulação do mundo adulto, mas num ambiente seguro, onde o erro não é ameaça, é só parte da brincadeira.

Brincar é cuidado

Para os pais, às vezes pode parecer “bagunça”. Mas por trás da bagunça, o que acontece é organização cerebral. Por trás do “tô só brincando”, há desenvolvimento emocional. Por trás de cada fantasia, há uma criança construindo repertório interno para enfrentar a vida real.

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Brincar não é perda de tempo. É investimento. É cuidado. É desenvolvimento.

Se quisermos crianças mais criativas, resilientes, cooperativas e emocionalmente seguras, precisamos defender o direito de brincar. A neurociência já confirmou: quando a criança brinca, o cérebro se fortalece. E quando o cérebro se fortalece, tudo floresce.

Psi. Renata Bedran

Neuropsicóloga

Psicóloga Clínica e Neuropsicóloga, pós-graduada em Neuropsicologia e Educação Positiva. Apaixonada por compreender o funcionamento da mente e das emoções, atua com avaliação neuropsicológica e psicologia clínica de crianças e adultos. Seu trabalho é voltado para o autoconhecimento, o desenvolvimento emocional e a orientação de pais e educadores em práticas mais conscientes e respeitosas.

Psicóloga Clínica e Neuropsicóloga, pós-graduada em Neuropsicologia e Educação Positiva. Apaixonada por compreender o funcionamento da mente e das emoções, atua com avaliação neuropsicológica e psicologia clínica de crianças e adultos. Seu trabalho é voltado para o autoconhecimento, o desenvolvimento emocional e a orientação de pais e educadores em práticas mais conscientes e respeitosas.