
Se tem algo que aprendi ao longo dos anos na medicina — especialmente cuidando de idosos e pacientes em situações delicadas — é que ninguém caminha sozinho. O cuidado verdadeiro, aquele que transforma, é sempre construído a muitas mãos.
No hospital onde atuo, vejo diariamente como o trabalho conjunto da equipe multiprofissional pode mudar não só o rumo de um tratamento, mas principalmente a forma como o paciente se sente durante o processo. Quando o paciente se sente cuidado de verdade, ouvido, acolhido — não apenas medicado —, tudo muda.
A palavra “transição” já diz muito. Cuidamos de pessoas que estão entre fases da vida: entre uma internação aguda e a volta pra casa, entre a funcionalidade e a reabilitação, entre a independência e o início de uma nova forma de viver. E para lidar com essas mudanças, é preciso mais do que um médico prescrevendo remédio.
É aí que entra a força do cuidado multiprofissional.
Um olhar diferente e único
Cada profissional da equipe tem um olhar diferente, um saber único. O fisioterapeuta ajuda o corpo a se reerguer. A fonoaudióloga devolve a segurança ao engolir ou a alegria de poder se comunicar. A nutricionista cuida da alimentação com respeito ao apetite e às preferências. O psicólogo escuta a dor que o exame não mostra. O assistente social orienta e organiza a rede de apoio. E os enfermeiros e técnicos, com sua presença constante, são o coração da rotina do cuidado. Todos, juntos, com um mesmo propósito: humanizar.
E o geriatra? O geriatra costura tudo isso. É como um maestro, guiando essa orquestra do cuidado, buscando harmonia entre o que é possível, o que é necessário e, acima de tudo, o que é desejado pelo paciente.
Quando cada profissional se conecta, respeita o saber do outro e coloca o paciente no centro, algo poderoso acontece. A internação deixa de ser só “mais uma etapa” e passa a ser uma oportunidade de ressignificar. Já vi pacientes que chegaram sem esperança voltarem a sorrir. Vi idosos, antes apáticos, se reanimarem com um simples passeio no corredor acompanhado pela equipe. Vi famílias se sentirem aliviadas por saberem que não estão sozinhas.
É isso que a equipe multiprofissional proporciona: não só cuidar da doença, mas cuidar da pessoa. É transformar uma experiência que poderia ser difícil, solitária e fria, em algo mais leve, humano e até afetuoso.
O cuidado integral e atento é essencial
No fim das contas, o que realmente cura — ou conforta, quando não é mais possível curar — é esse cuidado integral, atento, personalizado. Um cuidado que escuta, que acolhe, que respeita o tempo e a história de cada um.
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Por isso, toda vez que alguém me pergunta o que faz diferença no tratamento, minha resposta é simples: é o time. É o trabalho em conjunto. É esse cuidado multiprofissional que transforma o dia a dia do paciente e também de quem cuida.
No nosso hospital de transição, esse é o nosso compromisso. E posso dizer com orgulho: o cuidado multiprofissional não é um detalhe. Ele é o próprio caminho da transformação.
médico cuidando de idoso