Saúde

Cor do xixi revela hidratação, dieta e até doenças renais; entenda

Observar as características da urina traz pistas importantes sobre o funcionamento do organismo

Leitura: 5 Minutos
Cor do xixi
Imagem de brgfx no Freepik

Você talvez nunca tenha dado muita atenção à cor do xixi, mas esse hábito simples pode revelar muito sobre o que está acontecendo dentro do seu corpo. A urina funciona como um sinalizador da saúde: sua coloração pode indicar o nível de hidratação, os efeitos da alimentação, o uso de suplementos e até a presença de doenças renais ou consequências graves de treinos intensos.

“Historicamente, a observação da urina era uma das formas mais importantes de diagnóstico médico. Os antigos avaliavam a cor, o cheiro e até mesmo o sabor. Uma urina adocicada, por exemplo, servia de base para detectar alterações metabólicas como o diabetes”, conta o urologista Wagner Eduardo Matheus, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia Regional São Paulo e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Segundo o médico, a urina saudável costuma ter uma coloração amarelo-clara, quase transparente. Quanto mais clara, significa que mais hidratado está o organismo.

Mas se estiver totalmente transparente, pode ser sinal de hidratação excessiva. O ideal é um amarelo clarinho, sem cheiro e sem resíduos.

Wagner Eduardo Matheus, urologista

Em geral, especialistas recomendam o consumo de dois a três litros de água ao dia.

O impacto de treinos intensos

A prática de exercício também pode interferir na cor da urina, sobretudo após atividades mais extenuantes, como corrida ou ciclismo. Isso acontece porque o corpo perde muito líquido através do suor, tornando a urina mais concentrada.

“Durante treinos intensos, especialmente em ambientes quentes, a desidratação pode escurecer a urina. Mas, em casos extremos, há a possibilidade de o esforço excessivo causar uma lesão muscular e levar à liberação de mioglobina, que deixa a urina com uma tonalidade marrom”, alerta a nefrologista Flavia Gonçalves, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília.

Essa condição é conhecida como rabdomiólise, e deve ser levada a sério. “Nesses casos, as fibras musculares se rompem, liberando substâncias tóxicas na circulação que sobrecarregam os rins e acabam entupindo os túbulos renais. A urina começa a sair escurecida. Se não tratada rapidamente, pode evoluir para insuficiência renal e levar à necessidade de hemodiálise”, alerta Matheus, acrescentando que a rabdomiólise é uma condição aguda.

“Os principais sintomas incluem urina escura, dores musculares intensas, fraqueza e, em casos mais graves, inchaço e ausência de urina”, lista o urologista. Ele lembra, porém, que o quadro não é tão frequente.

Alimentação e suplementos

O padrão de dieta e o uso de suplementação são outros fatores capazes de modificar o tom do xixi. “Alimentos como beterraba, amora, cenoura e aspargos são conhecidos por alterar a cor ou o cheiro da urina. Já vitaminas do complexo B podem deixá-la com um tom amarelo fluorescente”, avisa Flavia. Suplementos como creatina e whey protein também podem transformar levemente a cor e o odor.

O problema, segundo a médica, é que essas alterações benignas podem mascarar sintomas de condições mais sérias. Por isso, é importante observar se a mudança persiste por mais de 24 horas, mesmo após boa hidratação, ou se vem acompanhada de outros sintomas, como dor, ardência, febre ou cansaço.

Mudanças esporádicas e justificáveis na cor da urina não costumam ser preocupantes. No entanto, alterações persistentes, inexplicadas ou acompanhadas de outros sintomas merecem atenção especializada

Flavia Gonçalves, nefrologistas

Ao notar qualquer alteração persistente, a recomendação é procurar um urologista ou nefrologista. “O urologista atua em casos de cálculo renal, tumores ou infecções. O nefrologista cuida das doenças clínicas, como hipertensão, diabetes e insuficiência renal”, esclarece Matheus.

Os sinais de alerta incluem:

  • Urina escura sem causa aparente;
  • Presença de sangue;
  • Espuma frequente (indicando proteinúria, que é a perda de proteína pela urina, sinalizando dano renal);
  • Presença de bolhas;
  • Odor forte persistente;
  • Redução no volume de urina.

“Nunca ignore mudanças na urina. Ela pode ser uma mensageira silenciosa do que está acontecendo com sua saúde”, reforça a médica. O recado é ainda mais importante para indivíduos com histórico familiar de doenças renais.

As cinco cores do xixi

De acordo com Flavia, no fim das contas, a urina pode ser dividida em cinco tonalidades principais. Confira o que cada uma pode representar:

  • Amarelo claro/levemente transparente: sinal de boa hidratação do organismo. Também pode ocorrer com uso de diuréticos e não é preocupante.
  • Amarelo escuro ou âmbar: urina mais concentrada, um indicativo de que o corpo está economizando água e, portanto, sofrendo uma possível desidratação leve ou moderada. “Essa coloração só é preocupante se persistir mesmo após boa ingestão de líquidos. Nesses casos, pode ser sinal de infecção ou função renal alterada”, explica Flavia.
  • Rosa ou avermelhada: Um xixi de cor rosada pode ser consequência do consumo de alimentos como a beterraba, da menstruação ou de sangue decorrente de infecção urinária, cálculo renal ou outras lesões. Se essa coloração for persistente, requer investigação médica.
  • Marrom (cor de refrigerante de cola): a urina de cor marrom é um sinal de alerta, pois pode significar a presença de mioglobulina e bilirrubina. São substâncias capazes de sugerir lesão muscular (rabdomiólise), além de hepatite ou doenças renais. “Nesses casos, é preciso procurar atendimento médico o quanto antes”, avisa Flavia.
  • Verde ou azulada: são colorações mais raras e, quando aparecem, costumam ter relação com uso de alguns medicamentos, ingestão de corantes ou infecções específicas, como por pseudomonas. “Se a pessoa não estiver utilizando remédios ou alimentos com corantes, é bom investigar”, comenta a nefrologista.