Creatina
Imagem: Freepik

Nos últimos anos, a preocupação das pessoas com longevidade saudável tem crescido. São períodos na academia, em atividades para adquirir músculos, fortalecer articulações e o condicionamento físico. Soma-se a isso um hábito alimentar mais saudável, com refeições balanceadas e precisamente calculadas, além de algumas situações de suplementação.

A creatina é um suplemento amplamente usado, com objetivo de melhorar a performance em exercícios de alta intensidade e promover maior recuperação muscular. Em doses recomendadas, a creatina é geralmente considerada segura para pessoas saudáveis.

Apesar de seguro, efeitos colaterais, sobretudo no sistema gastrointestinal, como distensão abdominal, desconforto intestinal ou diarreia, podem ocorrer.

Creatina e irritação na garganta

A irritação da garganta é um efeito menos documentado, mas ele aparece em relatos populares e também é plausível que, em determinadas condições, exista algum mecanismo que leve a esse sintoma.

É comum encontrar relatos sobre dor de garganta após o uso de creatina. Esses relatos indicam que, para algumas pessoas, existe ao menos alguma correlação temporal entre ingestão de creatina e desconforto na garganta. Porém, relatos dessa natureza não estabelecem causalidade, podem estar enviesados por expectativas, por coincidências ou por outros fatores desconhecidos associados, como ingredientes adicionais, abrasividade do pó, contaminações, etc.

Possíveis fatores da relação

Existem alguns fatores que podem ser aventados como possíveis fatores da relação da creatina em pó e a irritação ou sensação de desconforto na garganta:

  • Abrasividade ou partículas de pó: especialmente se a pessoa “engole o pó” ou mistura de maneira imperfeita, partículas finas podem tocar as mucosas da garganta. Isso pode causar coceira, irritação local ou sensação de arranhado — algo semelhante ao que acontece quando se inala pós finos ou poeira. Esse efeito pode ser intensificado se o pó for pouco solúvel ou bem fino.
  • Desidratação local: pois a creatina exerce efeito osmótico, ou seja, ela atrai água para dentro das células musculares. Isso pode aumentar a demanda de água no organismo. Se a pessoa não compensar bebendo bastante líquido, pode haver um efeito de ressecamento nas mucosas das vias aéreas e garganta, aumentando a sensação de irritação ou desconforto.
  • Refluxo ácido ou irritação gástrica ascendente: pois em algumas pessoas, suplementos ou ingestão rápida de substâncias podem estimular refluxo ácido, proveniente do estômago, até a garganta, levando à irritação da mesma.
  • Reação alérgica ou hipersensibilidade: desencadeada pela creatina ou algum componente presente no suplemento, como excipientes, corantes, aditivos ou contaminantes. Isso pode desencadear uma resposta imunológica em indivíduos predispostos. Em situações mais graves, isso se enquadraria como efeito colateral raro já reconhecido por guias de segurança de suplementos.
  • Inflamação das vias aéreas ou efeitos pulmonares: causados pela suplementação com creatina. Um estudo em jovens atletas observou tendências de aumento de responsividade das vias aéreas e marcadores de inflamação após 8 semanas de suplementação.

Também há estudo experimental em animais, modelo de asma alérgica, que sugere que a creatina pode exacerbar inflamação alveolar e bronquial. Embora esses efeitos sejam relacionados mais às vias respiratórias inferiores do que à garganta diretamente, existe a possibilidade de que inflamações ascendentes ou sensibilização local possam afetar regiões mais altas das vias aéreas.

Contaminação ou impurezas no suplemento também podem ser fatores, especialmente se o produto é de baixa qualidade ou sem controle rigoroso de pureza. Se houver traços de substâncias irritantes, eles poderiam contribuir para irritação local na garganta.

Esses mecanismos são plausíveis, mas nenhum deles foi demonstrado com clareza em estudos específicos focados em irritação de garganta por creatina.

A relação ainda é estudada

Apesar de haver indícios e hipóteses plausíveis, ainda não há evidência científica para afirmar com certeza que creatina causa irritação de garganta.

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Mas, considerando os relatos, os mecanismos possíveis e a falta de provas conclusivas, aqui vão algumas orientações que podem ajudar a reduzir o risco de desconforto na garganta ao usar creatina:

  • Misturar bem e com água suficiente, evitando engolir o pó puro, pois isso pode aumentar a chance de partículas atingirem as mucosas da garganta ou de se inspirar involuntariamente pó fino.
  • Beber bastante água, para manter a hidratação adequada no uso de creatina. Essa hidratação também ajuda as mucosas da boca e garganta a se manterem úmidas, reduzindo o atrito e a sensação de ressecamento.
  • Começar com doses menores no início do uso e ir observando como seu corpo responde. Se surgir irritação da garganta, reduza ou pause o uso para ver se o sintoma cede.
  • Evitar uso concomitante com substâncias irritantes, como bebidas muito ácidas, muito quentes, ou alimentos que promovam refluxo.
  • Trocar de marca ou verificar pureza pode ajudar a descartar que o problema seja por impurezas ou aditivos irritantes.
  • Observar sinais de alergia mais grave, como inchaço da língua, dificuldade para engolir, sensação de sufocamento ou outros sintomas de reação alérgica e interromper o uso imediatamente, lrocurando assistência médica.

Se a irritação for recorrente, persistente, ou estiver associada com outros sintomas, como tosse, rouquidão constante, dor mais intensa, deve-se consultar um otorrinolaringologista para avaliação mais detalhada.

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Dr. Giulliano Luchi

Otorrinolaringologista

Médico. Mestre e Doutor em Otorrinolaringologia. Professor de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Título de especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Membro internacional da Academia Americana de Otorrinolaringologia. MBA em gestão de negócios em Saúde. Formação em Mentoring, Coaching e Advice. @otoclinica_giulliano_luchi

Médico. Mestre e Doutor em Otorrinolaringologia. Professor de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Título de especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Membro internacional da Academia Americana de Otorrinolaringologia. MBA em gestão de negócios em Saúde. Formação em Mentoring, Coaching e Advice. @otoclinica_giulliano_luchi