O desafio chamado “Blackout Challenge”, ou “brincadeira do desmaio”, tem circulado entre crianças e adolescentes de escolas no Espírito Santo e no Brasil. A ação consiste em prender a respiração até desmaiar “para experimentar uma sensação momentânea de euforia”.
Este comportamento, registrado em vídeos, preocupa pais e especialistas, como médicos e o Corpo de Bombeiros, por conta dos riscos de convulsões, danos cerebrais e até mesmo a morte.
Desafio do desmaio: capitã dos Bombeiros faz alerta
Em um vídeo divulgado por meio das redes sociais, a capitã Andresa, do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo, alerta que, mesmo com a sensação de euforia, muitos não sabem que a ação pode causar sequelas graves.
A capitã afirma que, inicialmente, os pais e responsáveis devem ensinar os riscos desse tipo de “brincadeira que desencadeia o desmaio”.
Precisamos ensinar para as crianças que existem riscos. O desmaio é a pessoa ficar sem oxigênio no cérebro, é praticamente forçar um desmaio. E se a criança já tem alguma predisposição, alguma doença, então ela pode ter uma convulsão, ou em casos mais extremos, até mesmo uma parada cardíaca.
Ela explica que nesses casos, durante o desmaio, é necessário levantar as pernas ou apoiar em uma cadeira para retornar a consciência.
“Mas também deve-se monitorar essa vítima, porque em casos mais graves, a criança pode ter até uma parada cardíaca e parar de respirar. Aí, nesses casos, a gente precisa comprimir forte e rápido no centro do peito”.
“Registros de mortes nos Estados Unidos”, diz médico
O neurologista do Hospital Santa Rita, Arthur Xavier, afirma que o desafio gera grandes alertas, entre eles, a morte de dois jovens nos Estados Unidos. “Ou seja, as consequências podem ser gravíssimas, incluindo morte súbita”.
Entre os riscos enfrentados estão: arritmia; risco de hipóxia cerebral, que pode levar a danos irreversíveis no cérebro; e perda de consciência. Há ainda o perigo de quedas, fraturas, traumas cranianos e hemorragias.
Segundo o neurologista, trata-se de uma síncope provocada, ou seja, um episódio de desmaio desencadeado por um fator específico ou causa.
Trata-se de uma redução abrupta do fluxo sanguíneo no cérebro, diminuindo a oxigenação cerebral e pode causar uma síncope, geralmente de forma transitória.
Além disso, ele alerta os pais a estarem atentos, pois existem diversas formas de provocar essa síncope, cada uma com suas características e riscos específicos.
Entre elas estão: a manobra em que o corpo interpreta, de forma reflexiva, o excesso de oxigênio; e a compressão do pescoço.
“Uma delas envolve uma manobra em que o corpo entende, de forma reflexa, que há excesso de oxigênio. Com isso, ocorre uma vasoconstrição, ou seja, os vasos sanguíneos se contraem, o que reduz ainda mais o fluxo sanguíneo cerebral.
O especialista também explica que, durante a manobra, é feita uma apneia forçada, ou seja, a pessoa prende a respiração. Isso diminui o retorno venoso ao coração, levando a uma queda no débito cardíaco.
Outra forma da realizar o desafio é através da compressão do pescoço, ou seja, uma autoasfixia. “Ao comprimir o pescoço mecanicamente, impede-se a circulação sanguínea para o cérebro de forma temporária”.
Segundo Arthur Xavier, também existe a chamada “ativação vagal”, na qual quando determinados pontos do corpo são estimulados, ativam o nervo vago.
“Esse nervo desempenha várias funções, entre elas a regulação da frequência cardíaca e da pressão arterial. A ativação vagal pode desencadear uma arritmia cardíaca, em alguns casos, uma arritmia maligna. O problema é que não sabemos a predisposição de cada pessoa: ela pode ter uma cardiopatia preexistente ou outra condição oculta”.
O que diz a Sedu
A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou, por meio de uma nota, que, até o momento, não há registros de ocorrências relacionadas ao chamado “Blackout Challenge” nas escolas da rede estadual do Espírito Santo.
Mesmo assim, a Sedu “acompanha com atenção o tema e reforça seu compromisso com a promoção de um ambiente escolar seguro” e está realizando ações preventivas.
Dentre as ações preventivas estão: o programa de Ação Psicossocial e Orientação Interativa Escolar (Apoie) atua em dois eixos: prevenção e diálogos, com fóruns, rodas de conversa e oficinas sobre temas como violência, vínculos escolares e saúde emocional.
Além disso, a Sedu informou que também atua no apoio, acolhimento e orientações, com atendimento a demandas específicas das escolas, por meio de escuta qualificada e encaminhamentos individualizados.