Hipertensão e dores nas pernas. Estes foram os primeiros sintomas apresentados por Kevin Nascimento Pereira, hoje com 17 anos, em janeiro de 2023. Entretanto, o diagnóstico veio, apenas em maio daquele ano: leucemia, um tipo de câncer que causa a produção excessiva de células brancas anormais que suprimem as células saudáveis do sangue.
Segundo Diana Silva dos Santos, mãe do estudante, a demora em conseguir um médico especializado no sistema público foi um dos principais motivos para o atraso no resultado.
Todo esse processo durou cerca de quatro ou cinco meses. Kevin começou a agravar os sintomas, como perda de peso e febre.”
Diana Silva dos Santos, mãe de Kevin
O diagnóstico precoce impacta diretamente nas chances de cura de qualquer tipo de tumor. Por isso, a Lei dos 30 dias estabelece que, no Sistema Único de Saúde (SUS), pacientes com suspeita de câncer têm direito à realização de exames diagnósticos no prazo máximo de 30 dias, depois da indicação médica.
Apesar disso, casos com o de Kevin não são incomuns. A estimativa é que quatro em cada dez pacientes do Espírito Santo só tem o diagnóstico confirmado depois do prazo. A média de espera é de 48 dias, enquanto no Brasil é de 50 dias, segundo o Movimento Todos Juntos Contra o Câncer.
Além da demora no diagnóstico, o prazo para o início do tratamento também é ultrapassado. Ao contrário da Lei dos 60 dias, que determina 60 dias como o prazo para o início do tratamento após o diagnóstico, no Estado a média para o início é de 71 dias, no país é de 75.
Os dados são de 2022 a 2024, e foram levantados a partir de registros oficiais do Ministério da Saúde, do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e das gestões estaduais e municipais de saúde pública.
Possíveis causas
Segundo o professor de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Luiz Sobral, um dos principais motivos para a demora no diagnóstico e tratamento na rede pública é a falta de atenção à gestão dos casos na rede pública.
“Para que esses prazos possam ser cumpridos, é preciso que todos os entes envolvidos no cuidado com o paciente oncológico organizem esse fluxo e realizem o atendimento de forma ágil, só isso vai salvar vidas”, explicou.
Ele ainda explica que um aspecto positivo e que pode contribuir para a diminuição deste período é o número satisfatório de especialistas e equipamentos disponíveis para os tratamentos.
Já a médica sanitarista e integrante do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, Catherine Moura, ressalta que é essencial cumprir os prazos estabelecidos por lei, já que muitos pacientes oncológicos necessitam da rede pública para realizar seus tratamentos.
“O câncer não espera. Existem milhares de pessoas pelo Brasil que precisam de atendimento de qualidade e em tempo nas suas regiões”, afirmou.
Hoje, dois anos após o diagnóstico, Kevin está na reta final do tratamento. Apesar da demora no diagnóstico, o adolescente tem respondido bem e a expectativa é que receba alta em 2026.
Para ele, o pior já passou e há muitas outras coisas para realizar após superar o câncer.
As internações são a pior parte. Estar dentro de um hospital, em uma cama, não é fácil para ninguém. Hoje, está sendo bem mais fácil.”
Kevin Nascimento Pereira, estudante
*Com informações do repórter da TV Vitória/TV Record, Alex Pandini.