De tempos em tempos, surgem tendências nas redes sociais que prometem benefícios quase milagrosos. A mais recente vem de alguns coachs, que orientam seus seguidores a escovar os dentes com a mão não dominante — por exemplo, um destro usar a mão esquerda.
Segundo eles, esse hábito estimularia novas conexões sinápticas, favorecendo a neuroplasticidade e promovendo flexibilidade cognitiva.
Mas será que essa teoria se sustenta quando falamos de algo tão delicado quanto a higiene oral?
Por que isso pode ser prejudicial
A escovação dentária não é apenas um ato mecânico. É um procedimento técnico que deve remover efetivamente o biofilme dental (placa bacteriana) sem causar traumas aos tecidos moles ou desgaste do esmalte.
- Ao trocar para a mão não dominante, a pessoa perde controle motor fino, o que aumenta significativamente os riscos de:
- Escovação ineficaz, com acúmulo de biofilme em áreas de difícil acesso, como região posterior e linha gengival.
- Movimentos descoordenados, que podem causar microlesões na gengiva, contribuindo para recessões gengivais e hipersensibilidade dentinária.
- Desgaste abrasivo do esmalte, caso a força aplicada seja excessiva ou irregular.
- Falsa sensação de limpeza, já que a sensação de frescor não reflete, necessariamente, uma higienização completa.
Em outras palavras, você pode estar acreditando que está cuidando bem dos dentes enquanto, silenciosamente, está favorecendo a instalação de doenças como cárie e gengivite.
Uma analogia para refletir
Imagine um homem tentando fazer a barba com a mão que não tem firmeza. ou uma mulher tentando aplicar delineador nos olhos com a mão “errada”. O risco de cortes, falhas ou frustração seria enorme.
Se você não arriscaria sua pele ou olhos, por que colocaria em risco estruturas tão complexas e insubstituíveis como os dentes, o periodonto e a mucosa oral? Diferente de uma linha borrada ou de um pequeno corte na pele, danos aos tecidos bucais não se resolvem sozinhos e podem exigir tratamentos complexos.
Quer treinar seu cérebro? Há formas mais seguras
Estimular a neuroplasticidade é realmente importante, mas existem formas comprovadamente eficazes e seguras de fazer isso, como aprender um novo idioma, tocar um instrumento musical, praticar exercícios de coordenação ou jogos cognitivos.
Esses hábitos desafiam o cérebro sem comprometer a integridade das estruturas dentárias e periodontais.
Vale mesmo a pena?
Se você não se arriscaria a usar uma lâmina afiada ou a maquiar seus olhos com a mão não dominante, vale mesmo arriscar a biomecânica e a saúde dos tecidos dentários e periodontais por uma moda passageira?
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Seu sorriso merece precisão, ciência e cuidado, não desafios arriscados que podem ter consequências irreversíveis.