Vida Saudável

Escovar os dentes com a mão “errada”: moda ou risco desnecessário?

A tendência de escovar dentes com a mão não dominante promete estimular o cérebro, mas pode prejudicar a higiene oral

Leitura: 3 Minutos
escovar os dentes
Imagem: Freepik/Reprodução

De tempos em tempos, surgem tendências nas redes sociais que prometem benefícios quase milagrosos. A mais recente vem de alguns coachs, que orientam seus seguidores a escovar os dentes com a mão não dominante — por exemplo, um destro usar a mão esquerda.

Segundo eles, esse hábito estimularia novas conexões sinápticas, favorecendo a neuroplasticidade e promovendo flexibilidade cognitiva.

Mas será que essa teoria se sustenta quando falamos de algo tão delicado quanto a higiene oral?

Por que isso pode ser prejudicial

A escovação dentária não é apenas um ato mecânico. É um procedimento técnico que deve remover efetivamente o biofilme dental (placa bacteriana) sem causar traumas aos tecidos moles ou desgaste do esmalte.

  • Ao trocar para a mão não dominante, a pessoa perde controle motor fino, o que aumenta significativamente os riscos de:
  • Escovação ineficaz, com acúmulo de biofilme em áreas de difícil acesso, como região posterior e linha gengival.
  • Movimentos descoordenados, que podem causar microlesões na gengiva, contribuindo para recessões gengivais e hipersensibilidade dentinária.
  • Desgaste abrasivo do esmalte, caso a força aplicada seja excessiva ou irregular.
  • Falsa sensação de limpeza, já que a sensação de frescor não reflete, necessariamente, uma higienização completa.

Em outras palavras, você pode estar acreditando que está cuidando bem dos dentes enquanto, silenciosamente, está favorecendo a instalação de doenças como cárie e gengivite.

Uma analogia para refletir

Imagine um homem tentando fazer a barba com a mão que não tem firmeza. ou uma mulher tentando aplicar delineador nos olhos com a mão “errada”. O risco de cortes, falhas ou frustração seria enorme.

Se você não arriscaria sua pele ou olhos, por que colocaria em risco estruturas tão complexas e insubstituíveis como os dentes, o periodonto e a mucosa oral? Diferente de uma linha borrada ou de um pequeno corte na pele, danos aos tecidos bucais não se resolvem sozinhos e podem exigir tratamentos complexos.

Quer treinar seu cérebro? Há formas mais seguras

Estimular a neuroplasticidade é realmente importante, mas existem formas comprovadamente eficazes e seguras de fazer isso, como aprender um novo idioma, tocar um instrumento musical, praticar exercícios de coordenação ou jogos cognitivos.
Esses hábitos desafiam o cérebro sem comprometer a integridade das estruturas dentárias e periodontais.

Vale mesmo a pena?

Se você não se arriscaria a usar uma lâmina afiada ou a maquiar seus olhos com a mão não dominante, vale mesmo arriscar a biomecânica e a saúde dos tecidos dentários e periodontais por uma moda passageira?

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Seu sorriso merece precisão, ciência e cuidado, não desafios arriscados que podem ter consequências irreversíveis.

Dra. Daniela Feu

Cirurgiã-Dentista

Cirurgiã Dentista Graduada em Odontologia pela UFES. Especialista em Ortodontia pela UERJ. Mestre e Doutora em Ortodontista (UERJ). Diplomada pelo Board Brasileiro de Ortodontia (BBO). Diretora do Colégio de Diplomados do BBO. Editora associada da Revista Dental Press Journal of Orthodontics (DPJO) e editora da Revista Clinical Orthodontics. @dani_feu

Cirurgiã Dentista Graduada em Odontologia pela UFES. Especialista em Ortodontia pela UERJ. Mestre e Doutora em Ortodontista (UERJ). Diplomada pelo Board Brasileiro de Ortodontia (BBO). Diretora do Colégio de Diplomados do BBO. Editora associada da Revista Dental Press Journal of Orthodontics (DPJO) e editora da Revista Clinical Orthodontics. @dani_feu