A segunda-feira não é apenas o dia mais difícil para acordar cedo, mas também pode representar um risco para a saúde cardíaca. Um estudo feito na Irlanda, com 10.528 pacientes internados entre 2013 e 2018, identificou que o risco de infarto do tipo STEMI é cerca de 13% maior no primeiro dia útil da semana.
Os testes foram conduzidos pelo Belfast Health and Social Care Trust e pelo Royal College of Surgeons. Os pesquisadores apontam o retorno ao trabalho, alterações no ciclo circadiano – que regula as atividades do organismo – e possíveis mudanças na rotina do sono ao longo da semana como possíveis causas para o aumento.
O mecanismo exato para essas variações é desconhecido, mas presumimos que tenha algo a ver com a forma como o ritmo circadiano afeta os hormônios circulantes que podem influenciar ataques cardíacos e derrames.
Jack Laffan, cardiologista que liderou a pesquisa no Belfast Health and Social Care Trust, em comunicado
Casos de infarto no Brasil
Segundo o Ministério da Saúde, o infarto agudo do miocárdio é a maior causa de mortes no país, com cerca de 300 mil a 400 mil casos por ano. A estimativa é que, a cada sete casos, cinco levem ao óbitos.
Jerônimo Vervloet, cardiologista da Bluzz Saúde, explica que o Infarto do miocárdio ocorre quando há uma interrupção do fluxo sanguíneo dentro de uma coronária provoca a morte do músculo do coração irrigado por esta coronária.
“O segmento ST é uma parte deste traçado que quando se eleva durante o quadro de infarto, pode denotar o fechamento completo da artéria envolvida, causando um dano maior ao músculo. É geralmente mais grave que formas de infarto onde não temos a elevação do segmento ST”, afirmou.
De acordo com ele, as alterações do ciclo circadiano podem elevar o cortisol, o hormônio do estresse, aumentando a pressão arterial e frequência cardíaca.
“Se houver uma semiobstrução em uma coronária, a necessidade de maior volume de oxigênio, que ocorre no estresse, fica limitada pela obstrução coronariana aumentando o risco de isquemia ou infarto do miocárdio”, explicou.
Thaina Soares, médica cardiologista da Unimed Sul Capixaba, diz que, embora o aumento dos infartos na segunda também seja percebido na prática clínica no Brasil, ainda não há estudos brasileiros que quantifiquem este padrão.
“Até o momento, não há estudos brasileiros amplos e específicos que quantifiquem, com a mesma precisão do estudo irlandês, o aumento do risco de infarto do tipo STEMI às segundas-feiras. A maioria dos dados disponíveis vem de estudos internacionais — especialmente europeus e norte-americanos — que analisam o impacto dos ciclos semanais no sistema cardiovascular”, destacou.
Dicas para prevenção
Thaina Soares ressalta que o fenômeno é observado globalmente, mas pode sim variar em intensidade conforme os hábitos culturais, o estilo de vida da população e até a organização do trabalho em cada país.
Fatores como carga de estresse no ambiente de trabalho, qualidade do sono, hábitos alimentares no fim de semana, consumo de álcool e até o tipo de jornada laboral (mais ou menos concentrada nos dias úteis) podem influenciar esse risco
Thaina Soares, cardiologista
Segundo os especialistas, alguns hábitos podem diminuir o “efeito segunda-feira”. São eles:
- Manter uma rotina de sono regular, inclusive aos domingos;
- Evitar sobrecarga logo no início da semana;
- Fazer períodos de repouso adequados e recorrentes;
- Incorporar atividades físicas à rotina;
- Alimentação leve e adequada;
- Evitar excesso de álcool;
- Não fazer uso de drogas ilícitas;
- Só usar medicação sob supervisão médica;
- Fazer check-up para monitorar níveis de pressão artéria, do açúcar no sangue, níveis do colesterol total e suas frações.
Jerônimo Vervloet ainda destaca que é essencial estar atento aos sinais de alerta que podem indicar riscos à saúde desencadeados pelo estresse.
“Sinais como sudorese e falta de ar inexplicáveis, dores no peito com irradiação para braço, mandíbula e região cervical. A irradiação para braço esquerdo é mais comum nos casos de isquemia miocárdica porém, a irradiação para os dois braços pode ser um sinal de gravidade sugerindo obstruções mais significativas e em segmentos mais importantes das coronárias”, completou.