
*Artigo escrito por Iolanda Lemos, cirurgiã bucomaxilofacial
A busca por padrões estéticos tem levado muitas pessoas a recorrerem a procedimentos cada vez mais ousados, e, em alguns casos, extremos.
Um exemplo que ganhou repercussão internacional é o da influenciadora búlgara Andrea Ivanova, de 27 anos, conhecida por ostentar os “maiores lábios do mundo”. Segundo ela, o volume foi alcançado após mais de 30 sessões de preenchimento labial com ácido hialurônico e um investimento de aproximadamente R$ 149 mil.
Mas o que começou como um desejo estético, acabou se tornando um obstáculo para sua própria saúde: ao quebrar um dente, Andrea procurou atendimento odontológico, mas foi recusada por dois dentistas, que alegaram não conseguir realizar o procedimento devido ao volume dos lábios.
A situação levanta um alerta importante: até que ponto os procedimentos estéticos são seguros? E quais os riscos que envolvem exageros como esse?
Impactos do preenchimento labial na saúde e funcionalidade
Casos como o de Andrea não são apenas preocupantes do ponto de vista visual, mas também do ponto de vista funcional e médico. O exagero no preenchimento labial pode comprometer a anatomia da região bucal, dificultando o acesso a estruturas internas da boca, como dentes, gengivas e mucosas.
Isso impacta diretamente na realização de procedimentos odontológicos simples, como restaurações ou extrações, e aumenta os riscos durante atendimentos de urgência.
Além disso, o excesso de ácido hialurônico pode comprometer a circulação sanguínea da região, aumentando as chances de inflamações, infecções e, em casos mais graves, necrose tecidual. Isso sem contar as alterações funcionais: dificuldades para mastigar, falar e até mesmo manter a boca fechada adequadamente podem surgir à medida que a estrutura natural é distorcida.
Recusa por precaução técnica
A recusa de atendimento por parte dos dentistas que atenderam Andrea não deve ser interpretada como preconceito, mas como uma precaução técnica. Em um cenário em que há risco real de complicações, o profissional tem o dever de proteger o paciente.
Quando não há visibilidade, segurança ou estrutura para um atendimento seguro, é mais responsável encaminhar ou recusar o procedimento do que colocar a saúde do paciente em risco, afirma.
Casos como esse também evidenciam a importância de um acompanhamento multidisciplinar. Antes de realizar procedimentos estéticos que alterem profundamente a anatomia facial, é essencial que o paciente passe por avaliação conjunta com cirurgiões dentistas, médicos e profissionais da estética, garantindo que os limites naturais do corpo sejam respeitados. E, principalmente, que haja um equilíbrio entre estética e saúde.
A estética tem um papel importante na autoestima, mas ela não pode ultrapassar os limites da funcionalidade e da segurança. Nossos traços existem por uma razão. Quando distorcemos demais a anatomia natural, comprometemos aquilo que deveria estar em primeiro lugar: a saúde.