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A fibrose cística é uma doença genética que afeta principalmente o sistema respiratório e digestivo, caracterizada por secreções espessas que comprometem funções orgânicas essenciais.

Além do impacto respiratório, os pacientes apresentam desafios nutricionais significativos devido à má absorção de nutrientes, aumento das necessidades energéticas e predisposição à perda de massa muscular. Assim, a alimentação adequada, desempenha papel fundamental na manutenção da saúde, no suporte ao crescimento e no fortalecimento da função imunológica de portadores de fibrose cística.

Estratégias nutricionais específicas podem melhorar a qualidade de vida, reduzir complicações clínicas e favorecer melhor prognóstico, tornando-se parte indispensável do manejo multiprofissional da doença.

A nutrição como aliada

Pacientes com fibrose cística frequentemente apresentam insuficiência pancreática exócrina, o que compromete a digestão e absorção de gorduras, vitaminas lipossolúveis e proteínas. A reposição enzimática pancreática, associada a uma dieta hipercalórica e hiperproteica, é essencial para suprir as demandas energéticas elevadas e prevenir a desnutrição.

Estudos indicam que a ingestão calórica deve ser de 120% a 150% das necessidades de indivíduos saudáveis da mesma idade, ajustada conforme crescimento, estado nutricional e nível de atividade física. O acompanhamento individualizado por nutricionista é essencial para avaliar a adequação da dieta, monitorar peso, altura, composição corporal e ajustar a suplementação calórica, proteica, enzimática e vitamínica conforme evolução clínica.

As necessidades de macro e micronutrientes em pacientes com fibrose cística são significativamente maiores que na população geral. Proteínas de alta qualidade, presentes em carnes magras, ovos, laticínios e leguminosas, são fundamentais para manutenção da massa muscular e suporte imunológico. Carboidratos complexos e fontes de gordura saudável fornecem energia concentrada, essencial para atender ao gasto energético elevado.

A inclusão de ácidos graxos ômega-3, provenientes de peixes, linhaça e chia, demonstra efeito anti-inflamatório e pode auxiliar na função pulmonar e no controle de inflamações crônicas associadas à doença.

As vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) merecem atenção especial, pois a má absorção intestinal pode levar a deficiências graves. A suplementação deve ser individualizada, baseada em monitoramento laboratorial periódico, garantindo níveis adequados sem risco de toxicidade.

Vitaminas do complexo B, zinco, selênio e outros minerais também desempenham papel importante no crescimento, na função imunológica e na cicatrização, sendo necessários ajustes dietéticos e suplementares constantes.

Hidratação adequada

A hidratação adequada é outro aspecto crítico, visto que pacientes com fibrose cística perdem mais eletrólitos devido à sudorese abundante. Ingestão de líquidos e reposição de sódio devem ser monitoradas para prevenir desidratação, especialmente em climas quentes ou durante atividade física.

Estratégias práticas, como consumo de sopas, caldos, sucos e água enriquecida com eletrólitos, ajudam a manter o equilíbrio hídrico e eletrolítico, contribuindo para melhor tolerância a exercícios e atividades diárias.

Além da adequação nutricional, o acompanhamento deve envolver educação alimentar e estratégias de adesão à dieta, considerando as preferências do paciente, dificuldades digestivas e aspectos psicossociais. Crianças e adolescentes, em especial, podem apresentar desafios comportamentais relacionados à alimentação, tornando o apoio familiar e escolar fundamental.

Técnicas como fracionamento das refeições, escolha de alimentos densamente energéticos e monitoramento do crescimento permitem atender às necessidades nutricionais sem sobrecarregar o sistema digestivo.

Abordagem multiprofissional

O manejo nutricional da fibrose cística também se integra à abordagem multiprofissional da doença. Médicos, fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas atuam de forma conjunta para otimizar o estado clínico, prevenindo complicações respiratórias, desnutrição e deficiências vitamínicas.

A alimentação adequada, quando combinada à terapia enzimática, atividade física e suporte psicológico, contribui para melhor qualidade de vida, crescimento adequado e redução do risco de hospitalizações frequentes.

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Em resumo, pacientes com fibrose cística enfrentam desafios nutricionais complexos, exigindo intervenção individualizada e contínua. Dietas hipercalóricas e hiperproteicas, suplementação enzimática e vitamínica, hidratação adequada e educação alimentar são pilares essenciais para o manejo eficaz.

A integração da nutrição ao cuidado multiprofissional promove crescimento adequado, suporte imunológico, melhor função pulmonar e, consequentemente, melhora da qualidade de vida. Reconhecer a importância da alimentação nesse contexto é fundamental, transformando a nutrição em ferramenta estratégica de cuidado e prevenção de complicações, fortalecendo não apenas o corpo, mas a saúde global do paciente.

Dra. Ana Cristina de Oliveira

Nutricionista

Com uma carreira dedicada à ciência e à prática da Nutrição, Dra. Ana Cristina de Oliveira Soares é nutricionista, pesquisadora e professora universitária. Sua expertise é aprofundada por um Doutorado em Saúde Coletiva e um Mestrado em Administração, que lhe conferem uma visão ampla sobre os desafios da saúde e do bem-estar na atualidade. Especialista em Terapia Nutricional e Coordenadora do curso de Nutrição na Multivix Vitória, ela se destaca por sua atuação em saúde coletiva e na promoção da qualidade de vida, sempre com foco no rigor científico e no compromisso social.

Com uma carreira dedicada à ciência e à prática da Nutrição, Dra. Ana Cristina de Oliveira Soares é nutricionista, pesquisadora e professora universitária. Sua expertise é aprofundada por um Doutorado em Saúde Coletiva e um Mestrado em Administração, que lhe conferem uma visão ampla sobre os desafios da saúde e do bem-estar na atualidade. Especialista em Terapia Nutricional e Coordenadora do curso de Nutrição na Multivix Vitória, ela se destaca por sua atuação em saúde coletiva e na promoção da qualidade de vida, sempre com foco no rigor científico e no compromisso social.