Dr. Eliud Garcia ao lado de Dr. Guttenberg Gurgel e  Dr Edwaldo Joviliano, diretor científico e Presidente Nacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular para o próximo biênio. Foto: Divulgação
Dr. Eliud Garcia ao lado de Dr. Guttenberg Gurgel e Dr Edwaldo Joviliano, diretor científico e Presidente Nacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular para o próximo biênio. Foto: Divulgação

Nesta sexta-feira (14) é celebrado o Dia Mundial do Diabetes, uma data que reforça a importância da informação e da prevenção. Atualmente, 589 milhões de pessoas vivem com diabetes no mundo, sendo 430 milhões em idade ativa. Mesmo no ambiente de trabalho, muitas enfrentam estigma, falta de apoio e desconhecimento sobre cuidados básicos. Essa ausência de informação pode gerar complicações graves, como prejuízos à circulação sanguínea, feridas de difícil cicatrização e amputações — hoje, o diabetes é a principal causa de amputações não traumáticas no planeta.

No Brasil, o cenário exige atenção redobrada. Três em cada dez adultos são obesos, e sete em cada dez dependem exclusivamente do SUS. Com isso, o país se tornou o 3º no mundo em gastos relacionados ao diabetes, somando US$ 45 bilhões anuais, e ocupa o 6º lugar em prevalência, com até 20 milhões de pessoas vivendo com a doença. Quase um terço dos adultos — 30,4% — sequer sabe que tem diabetes, descobrindo apenas quando as complicações já se instalaram. Entre elas, a mais grave e frequente é o pé diabético, responsável por longas internações e milhares de amputações todos os anos.

Apesar do cenário desafiador, o Espírito Santo desponta como referência nacional e latino-americana no tratamento das complicações vasculares do diabetes. Protocolos avançados, equipes especializadas e o uso de tecnologias de ponta no serviço público vêm reduzindo amputações e encurtando o tempo de recuperação de pacientes. Esse avanço chamou atenção internacional e será apresentado nos Estados Unidos.

Apresentação em Nova York e o Destaque do Espírito Santo

O cirurgião vascular capixaba Eliud Garcia Duarte Junior, coordenador da Comissão Nacional da Diretriz de “Pé Diabético da Sociedade Brasileira de cirurgia vascular” e presidente da Cooperativa de Cirurgia Vascular do ES (COOPANGIO), foi convidado para apresentar, no dia 21 de novembro, em Nova York, um trabalho pioneiro sobre técnicas inovadoras de prevenção de amputações. Ele será um dos representantes brasileiros no maior congresso mundial de cirurgia vascular, o VEITH Symposium, evento que reúne os principais especialistas do planeta em doença arterial periférica e pé diabético. “Em Nova York, apresentarei nossa experiência com terapias regenerativas e revascularização indireta aplicadas ao pé diabético e à isquemia grave”, explica.

O Espírito Santo, inclusive, tem se destacado nesse cenário internacional ao se consolidar como referência na América Latina no tratamento de feridas complexas e condições que podem culminar em amputações. À frente desse trabalho está a equipe coordenada pelo Dr. Eliud, que já tratou aproximadamente 400 pacientes com terapias regenerativas autólogas. Entre eles, estão 12 casos extremamente graves, todos com indicação formal de amputação maior. “Esses 12 pacientes foram submetidos à técnica que estamos desenvolvendo — com preservação do membro em praticamente todos eles”, destaca.

A Integração de técnicas cirúrgicas e medicina regenerativa

Segundo o médico, o mérito capixaba está na integração de técnicas cirúrgicas avançadas com medicina regenerativa, tecnologias de imagem e protocolos completos de cuidado ao pé diabético. No Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE) São Lucas, onde coordena pesquisas, os resultados têm chamado atenção pelo impacto direto na qualidade de vida dos pacientes. “O grande desafio não é apenas tratar o pé diabético, mas preservar a função e a qualidade de vida, intervindo antes que o dano seja irreversível. As novas tecnologias regenerativas têm mudado o prognóstico de muitos casos que antes terminariam em amputação”, afirma.

Durante a apresentação em Nova York, o especialista compartilhará a experiência capixaba com o uso combinado de revascularização indireta, controle de infecção, estímulo celular e cicatrização acelerada. Esses protocolos reduzem internações prolongadas, evitam amputações e aliviam custos significativos tanto para o sistema público quanto para os convênios. “Cada amputação é um divisor de águas: aumenta em 70% o risco de uma nova amputação em cinco anos e eleva a mortalidade para cerca de 50% em até cinco anos”, reforça, citando dados amplamente discutidos pelo pesquisador norte-americano David Armstrong, um dos maiores especialistas do mundo.

A Gravidade do Pé diabético e a necessidade de prevenção

O pé diabético, lembra o cirurgião vascular, continua sendo uma das complicações mais graves e prevalentes do diabetes. Isso ocorre pela combinação perigosa de neuropatia, falta de circulação e infecção acelerada, que muitas vezes atinge o osso. “A cada 20 segundos ocorre uma amputação relacionada ao diabetes no mundo. E 85% dessas amputações são precedidas por uma úlcera — ou seja, poderiam ser evitadas”, alerta. Ele enfatiza que sinais como mudança de cor, necrose, feridas que não cicatrizam, mau cheiro, bolhas e rachaduras devem motivar procura imediata por atendimento.

Por isso, segundo ele, investir em prevenção, rastreamento e protocolos de cuidado baseados em evidência é importante para mudar esse cenário. “Nós estamos em fase de debates e aprovação de vários temas atualmente – de reparadora a estética. Reduzindo amputações em até 85%, organizamos fluxos mais eficientes e devolvemos autonomia ao paciente. Nosso compromisso é garantir que a medicina regenerativa avance não apenas em grandes centros, mas chegue onde ela realmente faz diferença: na vida de quem está prestes a perder um membro”, conclui.

Alice Sarcinelli

Dra. Alice Sarcinelli é professora doutora da UFES, empresária e Head de Saúde da Rede Vitória de Comunicação

Dra. Alice Sarcinelli é professora doutora da UFES, empresária e Head de Saúde da Rede Vitória de Comunicação