Dia dos Médicos
Da esquerda para direita Tatiane Emerich, Lincoln Bertoli, Hélio Angotti Neto, Davi Machado, Erika Barreto, Loureno Cezana e Vitor Fiorin. Imagens: Vídeos/Reprodução

Entre plantões longos, diagnósticos difíceis e histórias que marcam para sempre, os médicos aprendem diariamente que cuidar da saúde vai muito além da técnica. Ao mesmo tempo em que a medicina é uma área cheia de desafios, também oferece momentos que contribuem para o crescimento pessoal e profissional de cada um.

Neste 18 de outubro, Dia do Médico, o Folha Vitória perguntou a especialistas de diferentes áreas da medicina: qual foi a experiência mais marcante da sua carreira?

Davi Machado, cirurgião plástico

Na cirurgia plástica, Davi Machado viveu muitas histórias marcantes. Entretanto, de acordo com ele, nunca esqueceu o atendimento de uma jovem com queimaduras graves no rosto.

Antes de passar por um procedimento complexo, a mulher só conseguia se alimentar com um canudinho, devido à gravidade dos ferimentos. Após a recuperação, ela pode voltar a comer com a colher, um ato que parece simples, mas que, no seu caso, representou uma grande vitória.

Nós planejamos e fizemos uma cirurgia muito complexa, difícil, mas que permitia que ela pudesse agora ter uma abertura normal da boca.

E quando ela voltou no retorno, isso me marcou porque ela me deu um grande te abraço. E ela me disse o seguinte: ‘Davi, parece pouco, mas hoje eu consigo comer de colher’. Você que come de garfo e colher todo dia, você nem pensa nisso.

Davi Machado, cirurgião plástico

Erika Barreto, médica oncologista

Erika Barreto, médica oncologista do Hospital Santa Rita, passou por uma situação marcante que, à primeira vista, pode parecer incomum: recebeu um agradecimento da filha de um dos seus pacientes que havia acabado de partir.

Para a especialista, a cura nem sempre é possível, mas ainda é possível transformar a jornada, oferecendo dignidade, acolhimento e amor.

“Um dia, em um momento delicado de finitude, diante do sofrimento de uma paciente e de sua filha, eu tentava conter as minhas lágrimas até que uma chefe muito querida chegou, me acolheu e chorou.

Eu lembro que, surpresa, perguntei a ela se nós médicos podíamos chorar e ela respondeu que era claro que podia”, relembrou.

Hélio Angotti Neto, médico oftalmologista

Hélio Angotti Neto, médico oftalmologista e coordenador do curso de medicina do Unesc, conta que um dos momentos mais marcantes da sua carreira foi quando, de fato, assumiu responsabilidade sobre os seus pacientes.

Além disso, foi também durante a residência que ele conheceu e se apaixonou por sua esposa, Joana.

“O momento que mais marcou a minha vida e que mais teve impacto sobre a minha carreira, sobre quem eu sou como profissional, não foi algo específico da medicina, mas foi algo que eu vivi e que me mostrou a gravidade e a responsabilidade da vida.

Foi quando, de fato, eu assumi a responsabilidade sobre meus pacientes durante a residência médica depois de formado”, disse.

 Lincoln Bertoli Rohr, pediatra neonatologista

Com mais de 38 anos de carreira,  Lincoln Bertoli Rohr, pediatra neonatologista e coordenador da Unidade Terapia Intensiva Neonatal (Utin) do Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba) também tem muitas histórias para contar.

Entre elas, o caso de um bebê de Guarapari que nasceu com má formação e genitália ambígua. Segundo o especialista, foi necessário habilidades técnicas para lida com o caso e emocionais para acolher a família.

“Uma criança que nasceu com o que a gente chama de genitália ambígua e não conseguíamos definir qual era o sexo. Ficou internada conosco um bom tempo, uns dois meses.

Nesse período a família sempre acompanhando, muito presente e precisamos fazer um exame de DNA para saber se era menino ou menina. No final dessa história, a gente fez um ‘chá revelação’. A família ficou emocionada e participou ativamente no processo. Foi uma menina que foi bastante comemorado por todo o mundo.”

Loureno Cezana, médico oncologista

Com uma carreira de mais de 20 anos, Loureno Cezana, médico oncologista do Hospital Santa Rita não conseguiu escolher apenas um momento marcante da sua carreira.

Uma situação, que aconteceu em 3 de julho de 2015, mudou sua vida profissional e pessoal. No mesmo dia em que o pai de uma paciente descrevia a dor que sentia diante do sofrimento da filha, o médico descobriu que seria pai.

“Eu descobri que a minha esposa estava grávida, porque eu tinha acesso à senha dela e, no laboratório, conferi que estava grávida da Helena, minha primeira e querida filha.

E quando eu volto no quarto para falar com o pai sobre a situação, ele disse que eu não sabia a dor que ele estava sentindo porque eu não era pai e somente ele poderia mensurar. Então isso foi algo que me marcou muito, aquela dor daquele pai e a minha alegria de pai.

Eu estava vendo o outro lado dessa história de amor”, relembrou.

O outro momento aconteceu recentemente, quando diagnosticou uma paciente, que sofria com dores de cabeça, com um câncer que havia progredido para o cérebro. A mulher morava no interior e precisou ser transferida para Vitória para o tratamento.

Segundo Loureno, o seu principal pensamento era o medo da paciente não voltar para sua casa, onde o filho de quatro anos a esperava.

“Eu fiquei pensando que ela era nossa responsabilidade e que ela poderia não voltar para ver esse filho. […] Eu fico até emocionado quando me lembro disso, a irmã fez um vídeo, três semanas depois, ela voltando para casa e esse filho ficou acordado até 22h da noite abraçando essa mãe.”

Tatiane Emerich, cardiologista e ecocardiografista

A cardiologista e ecocardiografista do Centrocor e do Centro Diagnóstico Cardiológico Meridional (CDC) e colunista da coluna Vida Saudável, Tatiane Emerich, atua como médica há 22 anos. Mas, provavelmente, nenhuma aula ou consulta a preparou para o momento em que teve que atender a própria mãe.

A mãe teve um infarto, que evoluiu para uma insuficiência cardíaca e precisaria passar por procedimento inédito no Espírito Santo. Apesar da preocupação, a especialidade de Tatiane permitiu que ela acompanhasse de perto sua mãe, tranquilizando e amparando a família.

Sem dúvida nenhuma, um dos momentos mais marcantes na minha vida como médica foi estar ao lado da minha mãe, ainda após um infarto. Estava ali não só como filha, mas como cardiologista, com participação ativa na tomada de decisões, na realização de exames, entendendo todos os riscos envolvidos em todos os procedimentos e o prognóstico daquela doença.

Tatiane Emerich, cardiologista e ecocardiografista

Vitor Fiorin, médico oncologista

O oncologista, colunista da Vida Saudável e professor de oncologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Vitor Fiorin conta que uma das cenas mais marcantes da sua carreira foi protagonizada por uma mãe e sua filha.

“Acho que um dos momentos mais marcantes que eu vi na medicina foi um dia que eu tinha acabado de entrar na oncologia. Eu vi uma filha, devia ter uns três ou quatro anos no máximo, dando um beijo de despedida na mãe e falando que ela sabia que a mamãe ia virar estrelinha nos colo do Pai”, relembrou.

Aline Gomes

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa e estudante de Publicidade e Propaganda na Unopar, atuou como head de copywriting, social media, assessora de comunicação e analista de marketing. Atua no Folha Vitória como Editora de Saúde desde maio de 2025.

Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa e estudante de Publicidade e Propaganda na Unopar, atuou como head de copywriting, social media, assessora de comunicação e analista de marketing. Atua no Folha Vitória como Editora de Saúde desde maio de 2025.