
Nas últimas semanas, o aumento de casos de intoxicação por metanol trouxe de volta uma preocupação antiga da medicina: o potencial devastador dessa substância sobre o sistema nervoso e, em especial, sobre a visão.
O metanol é um tipo de álcool usado em produtos industriais, como solventes e combustíveis. Quando ingerido, é transformado no fígado em formaldeído e ácido fórmico — compostos altamente tóxicos que afetam o cérebro e o nervo óptico. Bastam poucos mililitros para causar danos graves e até a morte.
Sintomas da intoxicação por metanol
Os sintomas podem surgir entre 6 e 72 horas após a ingestão, e muitas vezes começam de forma discreta, com náuseas, dor abdominal ou sonolência. Logo depois, aparecem as alterações visuais: visão borrada, sensibilidade à luz, manchas escuras no centro do campo visual e, nos casos mais graves, cegueira irreversível. No exame oftalmológico, pode-se observar o inchaço do nervo óptico e, posteriormente, uma atrofia que não tem cura.
No Espírito Santo, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) publicou a Nota Técnica nº 009/2025, que define fluxos de atendimento e notificação imediata desses casos, reconhecendo a intoxicação por metanol como um evento de saúde pública. O documento descreve como caso suspeito de intoxicação exógena por metanol após ingestão de bebida alcoólica o seguinte quadro clínico:
Paciente com história de ingestão de bebidas alcoólicas que apresente, após 6 a 72 horas da ingestão, persistência ou piora de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas:
- Sintomas compatíveis com embriaguez, acompanhados de desconforto gástrico ou quadro de gastrite;
- Manifestações visuais, incluindo visão turva, borrada, escotomas ou alterações na acuidade visual;
- Podendo evoluir para rebaixamento de consciência, convulsões, coma e alterações visuais persistentes (cegueira, escotoma central, atrofia óptica).
Tratamento
O manejo inclui o uso de antídotos como o fomepizol (ou, se não disponível, o etanol farmacêutico), que bloqueiam a transformação do metanol em seus metabólitos tóxicos. Também são utilizados bicarbonato de sódio, ácido folínico e, nos casos graves, hemodiálise. Mesmo com todos os recursos disponíveis, a recuperação visual depende, principalmente, da rapidez no início do tratamento.
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A integração entre emergencistas, intensivistas e oftalmologistas é fundamental. Diante de qualquer suspeita, agir rápido faz toda a diferença. Por isso, é fundamental procurar atendimento médico em um pronto-socorro o mais rápido possível, para que o diagnóstico e o tratamento sejam iniciados sem demora.